30 de Julho de 2024 Robert Bibeau
Por Khider Mesloub.
Se era necessária prova da orientação
securitária e militar do futuro governo de unidade nacional dominado pelo NFP
(um bloco arco-íris republicano (sic) mas sobretudo politicamente arqueado),
ela é-nos dada pelo secretário do Partido Socialista (PS), que acaba de sair
politicamente do seu bloco do NFP.
Na segunda-feira, 8 de
Julho, no dia seguinte à segunda volta das eleições legislativas, Olivier Faure
foi entrevistado pela France Info. Depois de reiterar o seu desejo de chegar a
um “acordo rápido no seio da Nova Frente Popular sobre a escolha de um
primeiro-ministro” (o que, no dia seguinte, compreenderemos que se referia a si
próprio, uma vez que se candidatou ao cargo de chefe de governo), afirmou o
desejo da esquerda de voltar a colocar a segurança no centro do programa do
próximo governo de coligação. Por outras palavras, com esta saída política, o
representante do NFP assumiu publicamente a sua orientação repressiva natural.
Revelar as suas inclinações marciais. Revelar a sua verdadeira identidade reaccionária.
Uma identidade política baseada na defesa incondicional da ordem estabelecida,
nomeadamente através da mobilização maciça das forças policiais. Rearmar a
gendarmeria.
Como é que ele justifica esta viragem para a segurança no NFP, muito antes da sua nomeação para Matignon? Paradoxalmente, em nome da luta contra o Rassemblement National. “Não podemos ignorar os dez milhões de franceses e francesas que, a dada altura, pensaram que a extrema-direita poderia constituir uma alternativa [...] Temos de ouvir a exigência de segurança”. (...) “Nunca abandonaremos a segurança, que é uma questão essencial” (no Rassemblement national).
Por outras palavras, para travar o avanço eleitoral da RN, o secretário do Partido Socialista propõe adoptar os temas de segurança lepénistas, mas com o compromisso firme do governo de os aplicar. Para travar o lepénismo dogmático, Olivier Faure recomenda que se ponha em prática o lepénismo pragmático sem o Rassemblement National!
“Também vamos ter de fazer tudo o que pudermos” para combater a insegurança, insistiu. Como é que vamos fazer isso? Aumentando o número de polícias, segundo Olivier Faure. “Deste ponto de vista, o nosso programa inclui o regresso do policiamento de proximidade, que é um imperativo”, explicou o secretário do Partido Socialista.
A partir deste argumento falacioso do provável futuro ministro do Interior, Olivier Faure, podemos deduzir que o NFP revelou a sua verdadeira orientação política, simbolizada pelo seu alinhamento com o tema da segurança da extrema-direita. Tal como o Rassemblement National, o NFP coloca agora no centro do seu programa a fantasia da insegurança, explorada ao máximo pelos media e pela classe política. Da sua futura governação de um Estado cocardiano, policial e belicista.
Evidentemente, durante a sua entrevista, não foi feita qualquer referência à insegurança proteana real e cruel, a insegurança social, de que sofrem milhões de proletários em França: desemprego, precariedade, inflação, empobrecimento, exclusão social.
Dito isto, o objectivo principal da saída marcial de Olivier Faure nos meios de comunicação social, depois de ter saído do armário sobre o seu bloco podre (que é composto por personalidades politicamente andróginas, uma vez que são ideologicamente tanto de direita como de esquerda, e podem até ter inclinações de extrema-direita, formam alianças antinaturais, partilham a mesma câmara de registo parlamentar), para reafirmar a liderança do PS sobre o NFP, e para dar garantias ao Presidente Macron (sobretudo à burguesia) da sua vontade de assumir plenamente o seu papel governamental na repressão policial.
Em todo o caso, esta ofensiva securitária inscreve-se na orientação militarista da NFP. A Nova Frente Popular proclama abertamente, no seu programa de união sagrada elaborado por galdérios amantes da união doce, o seu apoio incondicional à política belicista da NATO: “Para derrotar a guerra de agressão de Vladimir Putin e fazer com que ele responda pelos seus crimes perante a justiça internacional, temos de defender sem hesitações a soberania e a integridade das suas fronteiras”. O NFP exige também “a entrega das armas necessárias”, “a anulação da sua dívida externa, o confisco dos bens russos...”. Uma posição também defendida pelo guru da seita do LFI, Jean-Luc Mélenchon, que fez uma declaração pacifista: “Independentemente do que se possa pensar no seio da esquerda, no programa não está previsto deixar de enviar armas”.
Assim, o programa do NFP patriótico fanático (cocardier)-policial-militarista,
que deveria agora chamar-se Nouvelle France Patriotarde, apela claramente ao
envio de tropas para a Ucrânia. Mas
também para reforçar a gendarmeria e os serviços secretos. O NFP (Nouvelle
France Patriotarde) gosta tanto dos que vestem a farda que os mima com mimos
financeiros.
Para recordar, o programa da NFP não menciona a colonização dos territórios
ocupados da Palestina, nem o confinamento da população de Gaza desde 2006. Em
nenhum momento o NFP apela ao regresso dos 2,3 milhões de palestinianos que o
Tsahal expulsou para o exílio desde o início da guerra genocida em Gaza, em 9
de Outubro de 2023.
Pior ainda, o NFP, infiltrado por sionistas notórios, não reconhece que o
genocídio está a acontecer em Gaza há quase dez meses. Esta política de
minimização, para não dizer de negação, da realidade do genocídio dos palestinianos
é uma profissão de fé sionista a favor de Israel. Por outras palavras, um
governo da Nouvelle France Patriotarde (NFP) prosseguirá o “apoio culpado” de
Paris a Israel.
Por seu lado, o PCF, fiel ao seu lendário espírito colonialista camuflado
sob uma fraseologia terceiro-mundista (o PCF nunca criou um verdadeiro
movimento anti-colonialista de massas em França), alinha com a mesma posição
política sionista do PS. A prova está no pudim. Num artigo publicado na
Marianne, Christian Picquet, membro da direcção do Partido Comunista Francês,
afirmou que o Estado colonial de Israel “tinha o direito de querer pôr fora de
acção os comandos que o atingiram (Hamas)”. Por outras palavras, o Estado nazi
de Israel tem o direito de desencadear a sua guerra genocida contra a população
civil palestiniana, com o pretexto de “pôr o Hamas fora de acção”.
O programa do NFP é ainda mais silencioso no que respeita ao imperialismo
francês. O NFP mal menciona a situação em Kanaky-Nova Caledónia, onde o regime
de Macron está a levar a cabo uma repressão assassina contra os indígenas
Kanaks. Muito menos aborda a questão do colonialismo do Estado francês,
particularmente na sua pátria africana.
Aliás, esta orientação militarista e patriótica fanática é inequivocamente
defendida por um dos deputados do NFP, François Ruffin, cujos ataques a
Mélenchon servem de promessa para a sua candidatura a um cargo ministerial.
Quanto mais ele intimidar Mélenchon, mais espera ganhar um cargo ministerial.
Em França, o putedo político não tem limites!
É preciso dizer que este candidato “ministerial” renegado apoia sem
reservas a política do governo de desviar continuamente fundos para projectos
de guerra. Numa entrevista ao Le Monde, François Ruffin declarou que o NFP
manteria a mesma política militarista em relação à Rússia, nomeadamente
reforçando a máquina de guerra francesa.
“Comecemos, muito simplesmente, pela indústria de guerra. Que a Europa recupere a sua soberania sobre as munições, as armas, os aviões, toda a gama de armamento, de equipamento e de saber-fazer, para deixar de depender dos americanos. E dotar-se dos meios para o fazer... Para um esforço de guerra, é preciso assegurar a unidade da nação”, insistiu.
Seja como for, à semelhança das anteriores coligações de esquerda formadas
pelo PS, PCF e Verdes, sucessivamente à frente de vários governos (1981-1995,
1997-2002 e 2012-2017), o NFP (Nouvelle France Patriotarde) vai impor a guerra
(aos “países rivais”, nomeadamente a Rússia e a China) e a austeridade (a toda
a população laboriosa de França).
“Mas, para os proletários que se deixam distrair
com passeios ridículos nas ruas, com a plantação de árvores da liberdade, com
as frases sonoras de um advogado, haverá primeiro água benta, depois insultos,
finalmente tiros de metralhadora, miséria sempre.” Auguste Blanqui.
Khider MESLOUB
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis
Júdice
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