segunda-feira, 15 de julho de 2024

Plutónio na natureza

 


 Julho 15, 2024  Olivier Cabanel  

OLIVIER CABANEL — O plutónio, um dos sub-produtos mais perigosos da indústria nuclear, passeia-se impunemente em Cadarache.

23.000 anos.

É o tempo de vida deste produto radioactivo.

Não pensem que será inofensivo ao fim de 23.000 anos!

Em 23.000 anos, terá perdido metade da sua virulência, e nos 23.000 anos seguintes terá perdido metade dessa metade... e assim por diante.

Por outras palavras, daqui a 100.000 anos continuará a ser um perigo.

Quanto ao plutónio 239, basta saber que 50 milésimos de miligrama podem ser uma dose letal.link

A título de comparação, o césio libertado em Chernobyl tem uma meia-vida de 30 anos.

Mas voltemos ao nosso plutónio.

Esteve presente no nosso planeta no seu estado nativo.

Foram precisos milhões de anos para nos livrarmos dele e conseguimos recriar alguns milhares de quilos em apenas alguns anos.

Isto faz-nos pensar na inteligência humana.

Mas voltemos ao Cadarache.

Em primeiro lugar, uma pequena notícia diz-nos que foram descobertos "alguns" quilos de plutónio num canto da central nuclear.

Há quanto tempo estava escondido?

Quem poderia ter sido contaminado?

Nos anos 80, alguns investigadores iluminados, mas mal orientados, imaginaram utilizar esse plutónio num reactor nuclear erradamente designado por "super fénix".

Sabemos o que aconteceu a seguir.

As falhas técnicas acumularam-se de tal forma que o governo da altura teve de interromper a experiência.

Custou milhares de milhões.

Esta central "revolucionária" produzia menos electricidade do que uma pequena central de metanização à base de estrume de suínos, situada a alguns quilómetros de distância, nas instalações de um agricultor, Maurice François.

Há quase vinte anos que se tenta "desconstruir" a central, para purgar o sódio líquido que devia servir de refrigerante.

Para o fazer, foi necessário construir uma fábrica no interior da central, o que não é tarefa fácil.

Isto é preocupante, porque o sódio líquido pode inflamar-se espontaneamente em contacto com o ar e explodir em contacto com a água.

Podemos imaginar o perigo, tanto mais que o combustível radioactivo (plutónio) ainda se encontra armazenado no local.

Mas voltemos a Cadarache.

Inicialmente, a cifra era de 8 quilos.

Actualmente, sabe-se que podem estar no local 20 ou 40 quilos (uma aproximação bastante preocupante).

A descoberta, que só foi comunicada pelo CEA a 6 de Outubro, terá sido feita em Junho passado.

A habitual falta de transparência por parte das autoridades nucleares atrasou a informação.

O local estava a ser desmantelado desde o início de 2009 e a decisão de o encerrar tinha sido tomada em 2003, devido a "um nível de segurança inadequado".

A quantidade de plutónio descoberta no local é equivalente a 6 bombas atómicas.

Classificada no nível 2 de uma escala de 7, esta situação constitui um motivo razoável de preocupação.

No passado, a ASN (autoridade francesa para a segurança nuclear) teve tendência para subestimar a dimensão do perigo.

Jean Louis Borloo emitiu um comunicado de imprensa apelando à "maior transparência possível sobre a situação".

Não há dúvida.

Para Stéphane Lhomme, porta-voz da rede SDN (sair do nuclear), "a indústria nuclear está a ser gerida de forma arcaica e funciona de uma forma que não faz sentido".

Para nos tranquilizarmos, ficámos a saber que este plutónio está espalhado por 450 "caixas de luvas", pelo que não representa uma massa crítica. link

Dentro de um mês, será feito um inventário completo e definitivo (?) da dimensão do depósito.

Até lá, podemos logicamente interrogar-nos sobre a saúde dos trabalhadores nucleares do local, que durante meses, e provavelmente anos, andaram inocentemente perto destes produtos perigosos.

Decididamente, depois das suas infelizes palavras de "culpado" dirigidas ao seu "amigo" Villepin, depois dos excessos sexuais do seu último ministro da Cultura e da esperada nomeação do seu filho (especialista em repetir os seus estudos de Direito), Sarkozia está a sentir maus ventos, a poucos dias de chegar a meio do seu mandato.

Como dizia um velho amigo africano: "O que um homem sóbrio tem na cabeça, um homem bêbado tem na ponta da língua".

O que não tem nada a ver...

 

Fonte: Du Plutonium dans la nature – les 7 du quebec

Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice




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