terça-feira, 23 de julho de 2024

Resposta a Jordan Bardella: Philippe Pétain, um francês de origem, a desonra da França; Missak Manouchian, um meteco, a honra da França

 


 Julho 23, 2024  René Naba 

RENÉ NABA — Este texto é publicado em parceria com a www.madaniya.info.

Na segunda-feira, 25 de Junho de 2024, Jordan Bardella, presidente do Rassemblement National, declarou que tencionava reservar “os lugares mais estratégicos do Estado” aos “cidadãos franceses”, que distinguiu dos que têm dupla nacionalidade, nomeadamente nos domínios da defesa e da segurança.

Bardella justificou a sua decisão com a necessidade de proteger a França do risco de ingerência estrangeira. Mas ainda não sabemos como é que ele define um posto “estratégico”.

Assim seja.

Assim, na pátria do tríptico republicano (Liberté, Égalité, Fraternité), a discriminação estava em vigor quando a formação de extrema-direita fundada por Jean Marie Le Pen chegou ao poder, em 1972, há cinquenta e dois anos.

Um estudo retrospectivo da história francesa mostra, no entanto, que o facto de ser de ascendência francesa não imuniza o seu detentor da ignomínia, nem imuniza um metacarpo de fazer um sacrifício glorioso pela França.

Por exemplo, Philippe Pétain, não só francês de nascimento mas também Marechal de França, mergulhou a França na colaboração, manchando o seu país com uma nódoa indelével, enquanto o arménio Missak Manouchian desafiou o inimigo, lutando contra os nazis e a polícia de Vichy, ao preço do sacrifício supremo.

O mesmo se passa com o prefeito Maurice Papon, o rosto sinistro dos períodos negros da história francesa, praticante implacável do “crime de gabinete”, e o seu oposto, o guianense Félix Eboué. Administrador na África Negra, Félix Eboué foi o primeiro alto responsável a apoiar o general De Gaulle, quando o comandante de Dakar bombardeou o cruzador Richelieu que transportava o líder da França Livre, que tinha vindo ao continente negro para reunir tropas após a humilhante capitulação francesa de 1940.

Jordan Bardella, presidente do Rassemblement National, também não escapou às críticas.

François Auguste De Le Maresquier é uma coisa, um nome de “açúcar puro”, com o carimbo “blanc de blanc”, mas Jordan Bardella é mais parecido com açúcar mascavado. É açúcar, mas é outra coisa, é exactamente o oposto. Se pensarmos bem, a sonoridade do seu nome sugere uma origem estrangeira... mista, até italiana ou espanhola.

Mas se algum curioso fosse investigar mais a fundo para explicar este zelo francês, a surpresa seria total, espantosa, beirando a demagogia eleitoral:

Por mais surpreendente que possa parecer, Jordan Bardella tem sangue argelino nas veias.

O bisavô do presidente do Rassemblement National era, de facto, um trabalhador imigrante argelino que se instalou em França, na região de Lyon, no início dos anos 1930. O seu avô era originário da Cabília e chamava-se Mohand Séghir Mada.

O periódico Jeune Afrique, que revelou esta informação, afirma que este facto é “tabu” no Rassemblement National. Será porque poderia ser uma mancha no quadro idílico que o RN está a tentar pintar para atrair os eleitores franceses? Nesse caso, a intransigência de Jordan Bardella será apenas o zelo de um neófito.... Tal como o seu rival, o ministro do Interior, Gérald Moussa Darmanin, que, ao longo de todo o seu mandato, jogou com o tema da segurança para superar o seu rival. Em vão.

§  https://www.jeuneafrique.com/1580609/politique/origines-algeriennes-de-jordan-bardella-enquete-sur-un-tabou/

A confirmar-se esta informação, é de apostar que as conversas à lareira entre Jean Maire le Pen, o carrasco da guerra da Argélia, e o seu descendente argelino, que era também seu parente por casamento, seriam certamente animadas quando se tratasse de evocar a utilização do “gégène” para “suar o burnous” durante as “ratonnades” periódicas nos becos da Casbah de Argel.

§  https://www.mediapart.fr/journal/international/190124/en-algerie-en-1957-jean-marie-le-pen-torture

A França, pátria dos direitos humanos, tem tido um comportamento esquizofrénico em relação aos povos exógenos do seu império, compilando as suas leis numa base gobino-darwinista: Do Code Noir, ao Code de l'Indigénat, aos zoológicos antropológicos.

Nos séculos anteriores, o esplendor imperial da Europa podia exonerar as potências ocidentais da sua torpeza, se não da sua coerência.

No século XXI, em que o Ocidente está em declínio, a ascensão de um líder de um partido abertamente xenófobo à liderança de um país portador de uma civilização universalista, membro permanente do Conselho de Segurança, pode ter consequências nefastas para a sua influência. Sobretudo a França em África, principal fonte do mundo francófono, base do seu poder internacional.

Cuidemos de um amanhã decepcionante.

SOBRE O MESMO TEMA, CF, ESTES LINKS

§  https://www.renenaba.com/france-identite-nationale/

§  https://www.renenaba.com/france-colonies-la-france-schizophrene/

§  https://www.renenaba.com/la-france-et-le-phenomene-exogene-letre-et-le-neant/

 

  • Nota do Tradutor: Meteco é um termo depreciativo, racista. Significa estrangeiro estabelecido em França e cujo comportamento é julgado desfavoravelmente. Na Antiga Grécia, Os metecos não tinham direitos políticos, não tinham bens fundiários e pagavam um imposto especial. Mas participavam na vida cultural da cidade e na sua defesa. Atenas devia-lhes, em parte, a sua prosperidade.

 

Fonte: Réponse à Jordan Bardella : Philippe Pétain, français de souche, le déshonneur de la France ; Missak Manouchian, un métèque, l’honneur de la France – les 7 du quebec

Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice




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