RENÉ NABA — Este texto é publicado em parceria com a www.madaniya.info.
Na segunda-feira, 25 de Junho de 2024, Jordan Bardella, presidente do Rassemblement National, declarou que tencionava reservar “os lugares mais estratégicos do Estado” aos “cidadãos franceses”, que distinguiu dos que têm dupla nacionalidade, nomeadamente nos domínios da defesa e da segurança.
Bardella justificou a sua decisão com a necessidade de proteger a França do
risco de ingerência estrangeira. Mas ainda não sabemos como é que ele define um
posto “estratégico”.
Assim seja.
Assim, na pátria do tríptico republicano (Liberté, Égalité, Fraternité), a
discriminação estava em vigor quando a formação de extrema-direita fundada por
Jean Marie Le Pen chegou ao poder, em 1972, há cinquenta e dois anos.
Um estudo retrospectivo da história francesa mostra, no entanto, que o
facto de ser de ascendência francesa não imuniza o seu detentor da ignomínia,
nem imuniza um metacarpo de fazer um sacrifício glorioso pela França.
Por exemplo, Philippe Pétain, não só francês de nascimento mas também
Marechal de França, mergulhou a França na colaboração, manchando o seu país com
uma nódoa indelével, enquanto o arménio Missak Manouchian desafiou o inimigo,
lutando contra os nazis e a polícia de Vichy, ao preço do sacrifício supremo.
O mesmo se passa com o prefeito Maurice Papon, o rosto sinistro dos
períodos negros da história francesa, praticante implacável do “crime de
gabinete”, e o seu oposto, o guianense Félix Eboué. Administrador na África
Negra, Félix Eboué foi o primeiro alto responsável a apoiar o general De
Gaulle, quando o comandante de Dakar bombardeou o cruzador Richelieu que
transportava o líder da França Livre, que tinha vindo ao continente negro para
reunir tropas após a humilhante capitulação francesa de 1940.
Jordan Bardella, presidente do Rassemblement
National, também não escapou às críticas.
François Auguste De Le Maresquier é
uma coisa, um nome de “açúcar puro”, com o carimbo “blanc de blanc”, mas Jordan
Bardella é mais parecido com açúcar mascavado. É açúcar, mas é outra coisa, é
exactamente o oposto. Se pensarmos bem, a sonoridade do seu nome sugere uma
origem estrangeira... mista, até italiana ou espanhola.
Mas se algum curioso fosse investigar
mais a fundo para explicar este zelo francês, a surpresa seria total,
espantosa, beirando a demagogia eleitoral:
Por mais surpreendente que possa
parecer, Jordan Bardella tem sangue argelino nas veias.
O bisavô do presidente do
Rassemblement National era, de facto, um trabalhador imigrante argelino que se
instalou em França, na região de Lyon, no início dos anos 1930. O seu avô era
originário da Cabília e chamava-se Mohand Séghir Mada.
O periódico Jeune Afrique, que revelou esta informação, afirma que este facto é “tabu” no Rassemblement National. Será porque poderia ser uma mancha no quadro idílico que o RN está a tentar pintar para atrair os eleitores franceses? Nesse caso, a intransigência de Jordan Bardella será apenas o zelo de um neófito.... Tal como o seu rival, o ministro do Interior, Gérald Moussa Darmanin, que, ao longo de todo o seu mandato, jogou com o tema da segurança para superar o seu rival. Em vão.
A confirmar-se esta informação, é de apostar que as conversas à lareira entre Jean Maire le Pen, o carrasco da guerra da Argélia, e o seu descendente argelino, que era também seu parente por casamento, seriam certamente animadas quando se tratasse de evocar a utilização do “gégène” para “suar o burnous” durante as “ratonnades” periódicas nos becos da Casbah de Argel.
§ https://www.mediapart.fr/journal/international/190124/en-algerie-en-1957-jean-marie-le-pen-torture
A França, pátria dos direitos humanos, tem tido um comportamento
esquizofrénico em relação aos povos exógenos do seu império, compilando as suas
leis numa base gobino-darwinista: Do Code Noir, ao Code de l'Indigénat, aos
zoológicos antropológicos.
Nos séculos anteriores, o esplendor imperial da Europa podia exonerar as
potências ocidentais da sua torpeza, se não da sua coerência.
No século XXI, em que o Ocidente está em declínio, a ascensão de um líder
de um partido abertamente xenófobo à liderança de um país portador de uma
civilização universalista, membro permanente do Conselho de Segurança, pode ter
consequências nefastas para a sua influência. Sobretudo a França em África,
principal fonte do mundo francófono, base do seu poder internacional.
Cuidemos de um amanhã decepcionante.
SOBRE O MESMO TEMA, CF, ESTES LINKS
§ https://www.renenaba.com/france-identite-nationale/
§ https://www.renenaba.com/france-colonies-la-france-schizophrene/
§ https://www.renenaba.com/la-france-et-le-phenomene-exogene-letre-et-le-neant/
- Nota
do Tradutor: Meteco é um
termo depreciativo, racista. Significa
estrangeiro estabelecido em França e cujo comportamento é julgado
desfavoravelmente. Na Antiga Grécia, Os metecos não tinham direitos
políticos, não tinham bens fundiários e pagavam um imposto especial. Mas
participavam na vida cultural da cidade e na sua defesa. Atenas
devia-lhes, em parte, a sua prosperidade.
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis
Júdice
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