quinta-feira, 11 de julho de 2024

França: O verdadeiro perigo é a democracia capitalista belicista

 

DESINTEGRA-SE GRADUALMENTE A SUA COLIGAÇÃO

 Julho 11, 2024  Robert Bibeau  


Por Khider Mesloub.

 França: O verdadeiro perigo é a democracia capitalista belicista


Em França, o resultado eleitoral do Rassemblement National na primeira volta das eleições legislativas de 30 de Junho foi um acontecimento histórico, segundo os meios de comunicação social. Pela primeira vez, o RN saiu vitorioso na primeira volta das eleições legislativas.


Os derrotados, os "partidos do governo", denunciaram em uníssono a vitória "vergonhosa". Estes democratas de geometria política variável desencadearam imediatamente uma operação anti-RN, polarizando a atenção de toda a população e despertando em todos o espectro de um fascismo fantasiado.

Desde a noite da primeira volta do escrutínio, a histeria democrática explodiu, com a multiplicação de manifestações de cidadãos para "bloquear" a extrema-direita. Todas as forças democráticas hipócritas do Estado burguês belicista, do Nouveau Front Populaire à Macronie, apelam ao voto na segunda volta para um "candidato republicano". Uma mente maliciosa diria um "candidato prostituta" do capital. Os proletários franceses terão assim de se resignar a escolher entre um candidato prostituto ou um candidato Petain.

Utilizando a derrota esmagadora da maioria presidencial e o avanço eleitoral do RN, todos os políticos da burguesia francesa, à direita e à esquerda, estão a trabalhar arduamente para conduzir os proletários atrás da falsa alternativa: democracia versus fascismo.

A burguesia francesa está a propor um remake do seu grande medo do "fascismo". As sondagens e as previsões dos politólogos colocam complacentemente os candidatos do RN à frente na grande maioria dos círculos eleitorais. Na segunda volta das eleições legislativas, o RN obteria a maioria absoluta na Assembleia Nacional, segundo esses temerosos políticos.

E os meios de comunicação social e os políticos "republicanos" fazem soar o alarme. Desta vez, não é o mesmo que em 2022, 2017 ou 2002, é o apocalipse genocida que se anuncia após a votação de 7 de Julho: "o fim da democracia", "o advento da ditadura", "o fascismo", a perpetração de "pogroms" e "ratonnades".

Tantos horrores genocidas que esperam os franceses, em particular os de origem imigrante, se não votarem de acordo com as recomendações dos membros de direita do governo e dos media, ou seja, nos candidatos "republicanos" e "democratas". Os mesmos que, se forem reeleitos, se preparam para piorar ainda mais as suas condições de vida, aplicando novas leis anti-sociais e enviando-os para as frentes de guerra, nomeadamente na Ucrânia. São os mesmos que permitiram que as ideias lepénistas passassem as portas do Palácio do Eliseu e penetrassem em todos os meios de comunicação social.

Uma coisa é certa: o "bloqueio democrático" impedirá certamente o Rassemblement National de chegar ao poder, mas não as suas ideias, que já estão largamente difundidas na República Francesa, na sociedade civil, e incutidas pelos partidos "governantes", os "democratas".


Assim, o verdadeiro perigo é a democracia burguesa. De facto, o principal perigo que ameaça os proletários franceses de hoje não é o fascismo fantasiado, mas a pressão democrática, a chantagem e a culpabilização exercidas sobre a sua consciência, numa altura em que questionam a fiabilidade da democracia, a sua sinceridade, a sua autenticidade. Numa altura em que a democracia capitalista é cada vez mais contestada e rejeitada.

Em todo o caso, em todos os períodos de crise, logo que a classe dominante não tem mais "pão" para dar aos proletários, começa a organizar jogos (eleitorais) para os distrair. Mas, sobretudo, para os fazer esquecer a degradação das suas condições de vida.

As eleições são uma distracção eficaz, um escape salutar. Uma mente maliciosa diria que é um excelente supositório, administrado pelos poderosos aos proletários, para quem a prostração eleitoral substituiu o protesto social.

O animado Macron, o joguete do capital, compreendeu o que está em jogo nos jogos eleitorais. Estes são os únicos jogos em que são sempre os ricos que ganham, os ricos que apostam. O capital ganha automaticamente. E os proletários continuam sempre a ser os anões da farsa eleitoral da democracia burguesa.

Hoje, num período marcado por uma crise económica sistémica, todos estes tubarões políticos, responsáveis pela degradação das condições de vida da população laboriosa, aproveitam a ascensão do RN para desferir um novo golpe na consciência dos trabalhadores franceses, fazendo crer que a sua sobrevivência e o seu futuro estão em jogo na farsa eleitoral. A crença de que a democracia capitalista é o seu bem mais precioso, a sua salvação final.

Por isso, não têm outra perspetiva senão mobilizarem-se eleitoralmente para a salvar. Fazer um cerco maciço às assembleias de voto de 7 de Julho para defender, não os interesses da classe explorada, dos trabalhadores e das classes populares ameaçadas de extinção social e física pela crise económica e pela guerra preparada pela burguesia belicista francesa, mas a democracia capitalista, apresentada como "o bem comum mais precioso".

A campanha eleitoralista histérica visa semear a ilusão de que o futuro da sociedade não reside na luta de classes entre exploradores e explorados, mas numa frente unida do "povo da França republicana", incluindo todas as classes, contra o "fascismo fantasiado".

Mesmo que fosse real, o fascismo é capitalista na sua essência, obra da burguesia, do capital. Isto equivale a associar-se àqueles que ajudaram a criá-lo, os incendiários do fascismo, os governantes e políticos "democráticos".

Como a história do século XX nos ensina, foi através da mobilização de dezenas de milhões de proletários atrás das bandeiras do anti-fascismo nos anos 30 que os partidos de esquerda, em nome da defesa da democracia burguesa, conseguiram envolver os proletários na Segunda Guerra Mundial em defesa do capital nacional. Foi em nome da defesa da democracia contra o fascismo que os proletários foram sacrificados, usados como carne para canhão para uma causa que não era a do proletariado, mas a do capital imperialista.

Os proletários nunca devem esquecer esta verdade histórica: a democracia e o fascismo são duas faces da mesma moeda, duas faces da mesma implacável ditadura do capital. A democracia é a folha de figueira atrás da qual se esconde a ditadura do capital. Ao longo da história, Democracia e Ditadura, dois modos de regulação política dentro de um mesmo modo de produção capitalista, alternaram-se, dentro de um mesmo Estado, de acordo com a conjuntura económica e social, ou seja, com a exacerbação ou abrandamento da luta de classes. Mas depende também do agravamento das tensões inter-imperialistas.

Foi o capitalismo decadente que deu origem ao fascismo. Foi a respeitável República de Weimar, democrática, que forneceu o terreno fértil para o nazismo. Foi este mesmo capitalismo francês moribundo que permitiu o avanço histórico do partido Lepéniste, o Front National.

É em nome da defesa dos valores democráticos que os Estados ocidentais, nomeadamente a França, armam e apoiam o Estado fascista de Israel, que comete um genocídio contra o povo palestiniano há 9 meses. É em nome da democracia que a França trava as suas guerras imperialistas e destrói países soberanos.

É ainda este sistema capitalista decadente, dirigido por delinquentes políticos "democráticos", o único responsável pela decomposição generalizada da sociedade francesa no seu conjunto, pela ruptura dos laços sociais, pela insegurança permanente, pela violência cega, pela xenofobia, pelo racismo, pelo ódio inter-étnico, pelo terrorismo, pela apologia do sionismo genocida, pelo belicismo suicida dos ucranianos.

Estas abominações são geradas e propagadas não pelo Rassemblement National, que nunca chegou ao poder, mas pelos partidos democráticos da direita e da esquerda. Foram os governos democráticos de direita e de esquerda que mergulharam os franceses no empobrecimento, no declínio social, no desemprego endémico, no mal-estar social e psicológico; que alimentaram o ressentimento e o ódio, o racismo e a xenofobia. Venenos inoculados, nomeadamente, pelos meios de comunicação "democráticos".

Uma coisa é certa, como observou o revolucionário francês Auguste Blanqui: "Mas para os proletários que se deixam divertir com passeios ridículos pelas ruas, com a plantação de árvores da liberdade, com as frases sonoras de um advogado, haverá primeiro água benta, depois insultos, finalmente tiros de metralhadora, e sempre miséria".

Nunca uma transformação social surgiu das urnas "democráticas". Nem as urnas "democráticas" impediram o aparecimento do fascismo.

Por isso, a única forma eficaz e radical de combater a extrema-direita, essa "Arlesienne fascista" de que todos falam e anunciam o seu aparecimento, é liderar a luta, não no campo eleitoral, à maneira donquichotesca, fazendo moinhos de vento, mas no campo social e económico, combatendo directamente o seu progenitor: o sistema capitalista e os seus verdadeiros fiéis mandatários, defensores e protectores, os políticos democráticos de direita e de esquerda. 

Khider MESLOUB

 

Fonte: France : le vrai danger c’est la démocratie capitaliste belliciste – les 7 du quebec

Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice



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