O número de recrutas ucranianos que não querem combater está a proliferar, apesar de o exército estar a enfrentar uma grande escassez de mão de obra, noticiou The Guardian. Embora a Ucrânia tenha obtido dinheiro e armas do Ocidente para contribuir para o esforço de guerra, pelo menos durante os próximos meses, a falta de mão de obra é um problema que não pode ser resolvido.
"Quero deixar o país. A minha mente não aguenta mais estar aqui preso", disse Dmytro, um potencial recruta de 31 anos. "Nunca pensei em sair antes da introdução das leis de mobilização. Mas não posso ficar no meu apartamento para sempre".
O natural de Kharkov disse ao jornal britânico que contactou pessoas na Internet que prometeram facilitar a sua fuga da Ucrânia por, pelo menos, 8000 euros, uma quantia astronómica se tivermos em conta que o salário médio no país ronda os 550 euros.
"Não fui feito para a guerra. Não posso matar pessoas, mesmo que sejam russas. Não vou durar muito tempo na frente... Quero formar uma família e ver o mundo. Não estou pronto para morrer", disse, acrescentando que, embora não confiasse nos traficantes de seres humanos, não tinha outra opção.
Segundo o jornal, mesmo antes da intensificação da
mobilização, mais de 20.000 ucranianos já tinham fugido do país, apesar das
tentativas do regime de Kiev para os impedir. O êxodo começou quando o
Presidente ucraniano Volodymyr Zelensky assinou, em Abril, uma lei que reduzia
a idade de recrutamento de 27 para 25 anos e punia os desertores com o
congelamento das suas contas bancárias, a apreensão dos seus bens e a
confiscação das suas cartas de condução.
De acordo com a lei, todos os elegíveis para o serviço militar devem actualizar
os seus dados pessoais num centro de recrutamento e as datas de desmobilização
também não são especificadas.
"Desde o início da guerra, o projecto tem sido criticado como caótico
e manchado pela corrupção. A Ucrânia intensificou os esforços para evitar que
as pessoas fujam através das fronteiras e evitem o recrutamento, como
evidenciado pela demissão de Zelensky de todos os chefes regionais de recrutamento
militar em Abril. A demissão ocorreu após relatos de oficiais a aceitar
subornos para isentar os homens do alistamento militar. Mas a prática parece
ser difícil de ser erradicada pelas autoridades ", detalhou o The
Guardian.
Uma sondagem revelou
que 94% dos inquiridos acreditam que a corrupção é um
dos principais problemas na Ucrânia, com 61,7% a
afirmar que a corrupção nas aquisições para as forças armadas é
o mais prejudicial para a capacidade da Ucrânia de resistir e derrotar a
Rússia. É natural que os ucranianos se mostrem relutantes em arriscar as suas
vidas a lutar contra um exército mais bem armado e mais bem equipado quando a
corrupção dificulta ainda mais uma tarefa quase impossível.
Outro ucraniano, Andrei, disse ao Guardian que também ele estava a tentar deixar
o país, tendo falhado antes.
"A viagem está a tornar-se cada vez mais difícil", disse,
acrescentando: "Acho que não vou ter esta oportunidade uma segunda vez se
as coisas correrem mal", mas que continuava a considerar a hipótese de
pagar os 8000 euros exigidos pelos traficantes de seres humanos para o levar
para a Moldávia.
"Para já, estou em prisão domiciliária. Não saio do meu
apartamento", diz Andrei. E quem o pode censurar por querer esquivar-se aos
recrutadores quando alguns dos seus amigos mobilizados já tinham sido
destacados e mortos, o que, segundo o jornal, "prejudicou a sua saúde
mental".
O meio de comunicação social salienta que há várias razões para os
ucranianos evitarem o serviço militar obrigatório, desde o desejo de evitar
"combates horríveis nas trincheiras e uma taxa de mortalidade brutal"
até às queixas de "formação inadequada antes de serem enviados para a
linha da frente" e razões familiares. De facto, os ucranianos não estão
preparados para combater e a conscrição, como admite com relutância o The
Guardian, "corre o risco de dividir a sociedade ucraniana, que já está a
sentir o cansaço da guerra".
"Muitos soldados ucranianos na frente de combate, ou aqueles que
regressaram depois de terem sido feridos, criticam a fuga ao recrutamento,
argumentando que isso enfraquece o esforço de guerra do seu país, numa altura
em que as forças russas avançam em várias frentes", conclui o artigo.
Apesar de a Ucrânia ir receber 61 mil milhões de dólares de ajuda dos
Estados Unidos nos próximos meses e de receber novas armas e munições que irão
aliviar alguns problemas, mas não resolvê-los, um problema que não pode ser
resolvido é a falta de efectivos. No início deste ano, um soldado ucraniano
disse ao Washington Post que as companhias do seu batalhão estavam apenas a 35%
dos níveis normais.
Este é um problema que não pode ser resolvido com dinheiro ocidental, e é
por isso que o regime de Kiev está a tentar mobilizar mais meio milhão de
ucranianos para combater o exército russo, incluindo a população prisional do
país. Com os ucranianos a deixarem de acreditar cegamente na propaganda do
regime de que a guerra será ganha, o moral e a motivação caíram, ao ponto de os
cidadãos comuns estarem dispostos a arriscar-se a partir com as suas poupanças
pela hipótese de escapar à mobilização.
Este artigo foi originalmente publicado
no InfoBrics.
Ahmed Adel é um pesquisador em geopolítica e
economia política baseado no Cairo. É um colaborador regular da Global
Research.
A
fonte original deste artigo é Global Research
Copyright
© Ahmed Adel,
Pesquisa Global, 2024
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis
Júdice
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