Por Khider Mesloub.
Em França, depois dos circos eleitorais, organizados num clima de ausência
de espírito de colaboração e de negação da democracia (uma vez que o partido
que se esperava que ganhasse acabou por ficar em último lugar e o último
partido - falido - foi empurrado para o primeiro lugar), vêm agora os circos
desportivos olímpicos, que se desenrolam num clima de crise económica e
institucional.
Depois das difíceis eleições europeias e legislativas, em que vários
milhões de maratonistas franceses acorreram às urnas para votar nos seus
campeões políticos que concorrem a um lugar no Parlamento, a França prepara-se
para inaugurar os Jogos Olímpicos, a 26 de Julho.
A França tornou-se assim campeã na organização de jogos eleitorais e
olímpicos. Para distrair a sua população empobrecida (e desprezada pelo seu
presidente-rei) e desviar a sua raiva, a classe dirigente francesa organiza
circos legislativos e desportivos.
No tempo do Império Romano, para apaziguar a ira dos plebeus e garantir o
seu apoio, os Césares distribuíam-lhes pão e recompensavam-nos com jogos de
circo (Panem et circense). Hoje, a
senil burguesia francesa oferece muitos jogos eleitorais e desportivos, mas sem
o pão (o prémio).
Em todo o caso, estes Jogos Olímpicos vão custar muito dinheiro ao Estado,
ou seja, ao contribuinte francês. Mas trarão enormes lucros para o capital
privado.
Os Jogos Olímpicos sempre foram um desastre financeiro para os países
anfitriões. De acordo com várias fontes, o custo estimado para o Estado da
organização dos Jogos Olímpicos de 2024 é de quase 9 mil milhões de euros. Os
lucros privados deverão ser da ordem dos 11 mil milhões de euros.
Por outro lado, quando se trata da competição por violações dos direitos
profissionais e humanos, se a França merece uma medalha, é na disciplina da
corrida da política anti-social. Como acaba de provar com os preparativos para
os Jogos Olímpicos de 2024, durante os quais bateu todos os recordes de
demolição da vida dos trabalhadores e de violação dos direitos dos imigrantes
sem documentos, dos estudantes, dos sem-abrigo e dos pobres sem casa.
No que diz respeito às violações das regras profissionais, a França tem-se
destacado pelo elevado número de mortos no trabalho, nos estaleiros de
construção; pelo recurso abusivo à sub-contratação, muitas vezes por empresas
que empregam trabalhadores sem documentos como mão de obra hiper-precária. Mas,
sobretudo, pela utilização de mão de obra gratuita. Com efeito, o Estado francês,
provando o seu carácter anti-social, vai recorrer a milhares de voluntários
para trabalharem gratuitamente durante este período. Assim, em vez de criar
postos de trabalho, este acontecimento contribuirá para uma maior demolição do
direito do trabalho. Na verdade, a França capitalista está simplesmente a
respeitar as tradições da Grécia antiga. A Grécia dos Jogos Olímpicos foi
fundada sobre a escravatura.
No domínio das “violações dos direitos humanos”, a França está há meses a
transgredir, nomeadamente com a caça aos sem-abrigo, a expulsão dos imigrantes
clandestinos da região parisiense, que são deportados à força para outras
cidades, e a destruição dos acampamentos ciganos.
Os estudantes, que já se encontram numa situação precária, estão no mesmo
barco que os sem-abrigo, uma vez que os seus alojamentos foram requisitados
para serem alugados aos visitantes e participantes nos Jogos Olímpicos. Agora,
dormem sob as estrelas ou em hotéis de preços proibitivos.
Os preços dos quartos de hotel e do aluguer de alojamento, bem como dos
serviços e produtos turísticos, dispararam na capital. Hotéis, restaurantes,
alojamento turístico, transportes públicos, todos estes sectores viram os seus
preços disparar.
Os preços dos bilhetes, da comida, da bebida e de tudo o que está relacionado com os Jogos Olímpicos são escandalosos, mesmo para uma capital tão cara como Paris.
Outra violação dos “direitos humanos” é o facto de estes Jogos Olímpicos serem marcados por um reforço da segurança, da repressão e da vigilância policial nos bairros da região parisiense. Com detenções domiciliárias, penas de prisão e um dispositivo policial maciço, estão a ser utilizados todos os meios para reprimir e isolar os bairros da Ilha de França.
Para não falar do facto de que centenas de milhares de parisienses serão controlados por QR Code. Sob o pretexto de querer “garantir a segurança de todos”, o Estado policial francês vai pôr em prática um verdadeiro sistema generalizado de controlos que deverá afectar cerca de um milhão de pessoas durante os Jogos. Na realidade, trata-se da continuação da experiência levada a cabo durante a epidemia de Covid, no âmbito do ensaio geral da guerra imperialista em preparação.
Assim, mais de 30.000 polícias serão mobilizados diariamente, para além dos 22.000 seguranças privados e dos 20.000 militares destacados durante todo o evento.
Os Jogos Olímpicos são o reflexo da classe dirigente francesa que os organiza: desprezíveis.
Uma coisa é certa: os Jogos Olímpicos não são, de modo algum, uma pausa na ascensão do nacionalismo e da guerra mundial.
Khider MESLOUB
Este artigo
foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice
Sem comentários:
Enviar um comentário