Operários de todo o mundo uni-vos!
CARÁCTER
ECONÓMICO, LIMITES E VIRTUALIDADES DA MOEDA
A moeda
é expressão das relações sociais de produção sendo que depende também
das condições naturais de produção a quantidade e a funcionalidade da moeda
em circulação – é que, ao contrário do que muita gente pensa, a moeda é
tanta quanto o que se produz para transacionar, pois o produto é função do
trabalho e não da moeda.
Devemos
ter em conta a natureza - como coisa preciosa! pois é nela que a actividade
produtiva ocorre - em simultâneo com o proporcionado pelo modo de produção e
respectivas relações de produção onde se incluem os conhecimentos técnicos
e científicos que lhes são próprios.
A moeda
tem evoluído, continua a evoluir, tem virtualidades e tem também limites,
tanto em expansão como em funcionalidade.
Com
a revolução burguesa o dinheiro circulante tornou-se capital
ao incorporar a força de trabalho como mercadoria geradora de mercadorias
concorrendo intensamente no mercado consumidor. Foi um boom extraordinário
em diversidade e dimensão e também um boom preocupante em
predação de recursos vitais no planeta no contexto duma exponencial divisão
do trabalho cada vez mais universal - carácter social da produção - e não
menos exponencial apropriação privada da riqueza acumulada numa cada vez mais
exclusiva corporação de magnatas interactuando com um punhado altamente
financiado de campeões da guerra.
A crise
actual consiste no que acima se expõe.
Tanto a
revolução como a contra-revolução burguesas centram a monetarização
no sobre-produto ou mais-valia, objecto consciente ou inconscientemente de
contestação por quem é prejudicado com esse procedimento em avolumadas
massas humanas atemorizadas, empobrecidas e revoltadas no mundo. A mais-valia -
forma moderna do milenar saque - ao não ser obtida pelo capital-salário por
efectiva ou iminente insolvência, é-o de uma só vez pela venda, seja ela de
propriedade fundiária, industrial, comercial ou outra. Mesmo assim só uma
parte da mais-valia fica para o vendedor pois a outra parte é imposto tomado
pelo Estado para efeito de superiormente gerir os interesses económicos da
classe a quem deve existência e serviço.
Ao
centrar a monetarização no produto, a revolução
proletária transforma o capital-dinheiro naquilo que lhe dá
efectivamente corpo, o capital-trabalho. As consequências são significativas,
mas ferozmente contestadas sob as mais diversas formas e disfarces pela
reacção burguesa, pois a riqueza muda da linha do dinheiro
(representação) para a linha do trabalho (representado) e o comboio da
população mundial progride na medida da satisfação das necessidades e
expectativas proporcionada pelo desenvolvimento das forças produtivas liberto
dos constrangimentos do redutor paradigma assalariado.
Mas é
importante voltar ao curso da História para a compreensão do que vivemos.
A
contabilidade em partidas dobradas apresentada pelo frade italiano Luca Pacioli
na edição em Veneza no ano de 1494 do seu livro intitulado Summa de
Arithmetica, Geometria, Proportioni et Proportionalità, permitiu o
controlo da receita e da despesa no universo conceptual de activo e de passivo
contabilísticos.
Nos
finais do século XV, com as viagens marítimas para o Oriente e descoberta das
Américas acontece a primeira mundialização, época também e simultaneamente
da acumulação primitiva do capital, isto é, quando assumidamente se usa em
contexto mercantil o dinheiro para obtenção de mais valor, seja em mais
dinheiro, seja em acrescida posse de bens, transaccionáveis ou não.
A
subsequente vitoriosa revolução burguesa, política, militar e económica,
nos séculos XVIII, XIX e XX, acabou com senhorios, vinculações e morgadios
do antigo regime e impôs a mercantilização total, incluindo emissão de
moeda e propriedade da força de trabalho. Manteve-se no entanto o objectivo de
dinheiro fazer mais dinheiro... agora em grau superior!
A
liberdade tipicamente burguesa de tudo se ter e de tudo se alienar por dinheiro
inclui, justifica e impõe a liberdade para uns terem cada vez mais e outros terem
cada vez menos entre pessoas politicamente livres e juridicamente iguais! São
cada vez mais carros de luxo nas ruas da cidade de Ponta Delgada cada vez mais
cheias de sem-abrigos, pedintes e assaltantes numa ilha controlada pelo freio
dos subsídios.
Como se
explica tais contradições?
A
explicação está na referida exclusiva obtenção de mais valor. Toda a
lógica de desenvolvimento do capital-dinheiro é exactamente a multiplicada
apropriação para quem o detém – crescimento impossível de acontecer sem a
correspondente perda para quem é desapossado dos meios de produção ou da
força de trabalho.
Se, no
caso português, a revolução burguesa resolveu no século XIX a contradição
entre uma industrialização emergente e uma administração fundiária
morgadia e senhorial ineficaz e retrógrada, entre uma proletarização
progressiva e um humilhante servilismo e odiada escravidão, hoje a resolução
da contradição acima expressa da liberdade de tudo se ter e alienar por
dinheiro para uns terem cada vez mais e outros terem cada vez menos faz-se com
a transformação da sua odiosa funcionalidade de saque em desejada fruição
que a moeda pode proporcionar se dirigida para satisfação das - mundializadas
- necessidades e expectativas de quem faz, produz, elucida e resolve.
Região
Autónoma dos Açores, 2 Julho 2024 Pedro Pacheco e António Vital
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