30 de Março de 2024 Robert Bibeau
Por Khider Mesloub.
Num artigo anterior,
intitulado "Para
que servem as gesticulações belicistas e as lucubrações bélicas de
Macron?", depois de sublinhar que o exército francês não dispunha de
meios humanos e militares para levar a cabo uma ofensiva militar de alta
intensidade contra a Rússia, e muito menos legitimidade jurídica internacional,
concluí a minha análise com estas palavras: "Na realidade, Putin tornou-se o melhor
aliado de Macron. Serve de baluarte contra o proletariado francês, de
espantalho para justificar e legitimar o endurecimento autoritário da
governação. Para assegurar a transição militarista e fascista da França."
Neste período de crise
económica que atinge cruelmente a França, o governo Macron precisa de criar um
clima de guerra ou medo de guerra para exigir que os trabalhadores participem
no fantasmagórico "esforço de guerra", através de sacrifícios socio-económicos
adicionais. É também uma forma indirecta de ajudar os capitalistas, impondo austeridade aos trabalhadores.
Sobriedade económica e social em nome do imaginário perigo russo.
Enquanto Macron se vangloria de ameaçar enviar tropas para a Ucrânia para combater o grande capital russo, a França continua a abrir amplamente as fronteiras francesas a empresas russas, para fazer negócios com a Rússia. Recordamos que o ministro da Economia, Bruno Le Maire, declarou: "Vamos causar o colapso da economia russa" através de sanções económicas ocidentais. Se houve um colapso económico, foi o da economia francesa.
Para um ministro determinado a torpedear a economia da Rússia, é
surpreendente saber de fontes confiáveis que ele está a permitir que várias
empresas continuem a negociar com empresas russas. A hipocrisia não falta à
burguesia francesa. Não muito longe de uma farsa.
É o caso das unidades agroquímicas do grupo Boréalis, que tem unidades de
produção na Áustria e na Alemanha, mas sobretudo três fábricas em França: perto
de Rouen, perto de Melun e na Alsácia. Milhares de toneladas de amoníaco russo
continuam a chegar às fábricas francesas da Borealis, incluindo a de Rouen.
Recorde-se que a Rússia é o maior exportador mundial de amoníaco, que,
curiosamente, não parece estar sujeito aos pacotes de sanções europeias.
Porque, segundo especialistas, esta matéria-prima é uma questão importante para
a Europa e, portanto, para a França.
Num relatório recente,
a Greenpeace revelou como a
empresa francesa Framatome, uma subsidiária da EDF, e a empresa alemã Siemens
Energy continuam os seus negócios com a empresa nuclear estatal russa Rosatom.
"A
França está a fazer lobby duro a nível europeu para proteger os interesses da
indústria nuclear e continuar o seu comércio nuclear com a Rosatom", sublinha o
Greenpeace.
Enquanto, na frente diplomática, Macron acena teatralmente com a ameaça de guerra contra a Rússia, na frente económica, os verdadeiros nervos da guerra, ou seja, a valorização do capital, a empresa francesa Framatome, assina pacificamente uma joint venture com a gigante russa Rosatom para fabricar combustível nuclear na Alemanha. Esta cooperação entre os dois gigantes provocou indignação e protestos na Alemanha. De facto, o acordo entre a francesa Framatome e a russa Rosatom está a alimentar polémica na Alemanha, onde está localizada a central onde a Framatome vai montar, sob licença russa, o combustível para alimentar reactores nucleares. Milhares de opositores alemães mostraram a sua raiva contra esta cooperação franco-russa, vista como uma traição, até mesmo um punhal plantado nas costas da Alemanha pela França.
Para além dos sectores agroquímico e nuclear, a França e a Rússia prosseguem o seu idílio económico no domínio do vinho, em particular o dos grandes crus. De acordo com documentos aduaneiros exclusivos publicados pelo site económico Challenges, em 16 de Março de 2024, os grandes crus da Borgonha foram entregues em 2022 e 2023 a Moscovo, contornando o embargo europeu. Em matéria económica, o credo do regime de Macron é: não importa qual
seja a garrafa (o Estado, pseudo-democrático ou ditatorial), desde que estejamos bêbados (de dinheiro)!No sector dos hidrocarbonetos, de acordo com várias fontes fiáveis, a
França continuaria a ser um cliente privilegiado de Moscovo no que diz respeito
ao gás natural liquefeito (GNL).
Em 2023, as
importações francesas de gás natural liquefeito russo aumentaram 41%. Apesar
das sanções económicas impostas pela União Europeia aos hidrocarbonetos, a
França continua a importar gás russo, como reconhece o patrão da TotalEnergies,
Patrick Pouyanné: "Sei
como substituir o petróleo e o gasóleo russos, mas o gás, não sei como fazê-lo". "Se eu decidir parar de importar gás
russo, não sei como substituí-lo, não tenho nenhum disponível. Tenho contratos
de 25 anos e não sei como sair desses contratos", acrescentou o
empresário francês.
A hipocrisia do regime
de Macron, um regime que defende um apoio "ilimitado" à Ucrânia para
combater a odiada Rússia, não conhece limites quando se trata de enriquecer os
seus amigos capitalistas com dinheiro russo abençoado... os ricos franceses
e/ou russos nunca perdem o Norte, onde os lucros se acumulam. (Ver Trouvailles – les 7 du québec https://queonossosilencionaomateinocentes.blogspot.com/2024/03/por-uma-alianca-franca-russia-recem.html)
Khider MESLOUB
Este artigo
foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice
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