segunda-feira, 4 de março de 2024

O genocídio anual dos trabalhadores perpetrado com discrição

 


 4 de Março de 2024  Robert Bibeau  

Na civilização ocidental, fundada na hipocrisia moral e na impostura democrática, a sensibilidade é uma geometria variável, e está na moda denunciar o "feminicídio ", esse conceito ideológico "justo" inventado pelas feministas misandristas. Mas este neologismo não tem qualquer valor jurídico, científico, filosófico ou moral.

Composto pela palavra mulher e pelo sufixo "-cídio" (do latim caedere, que significa matar), este neologismo intelectual tipicamente pequeno-burguês designa o assassínio de uma mulher "por causa do seu sexo". (sic) A palavra "feminicídio" não aparece em todos os diccionários devido à sua definição polémica.

Além disso, o conceito não existe no direito penal. A lei utiliza o conceito de "homicídio conjugal" (do latim homo, que significa o género humano) para descrever este tipo de crime, cometido pelo marido ou pela mulher.

Contrariamente às afirmações das feministas - tanto de esquerda como de direita - mergulhadas na ideologia misandrista, o assassínio de uma mulher pelo marido é um crime passional e, nos Estados Unidos, é designado por violência doméstica (os homens também são vítimas desta violência).

De acordo com este feminismo burguês, falar de feminicídio é transformar uma notícia num facto social. Esta leitura "sexuada" de um homicídio é um empreendimento ideológico destinado a atribuir um carácter social, e especificamente feminino, a uma notícia social... de modo a criar uma cratera de oposição entre os géneros (mulher-homem-trans-homo-lesbo-bi- indeterminado-outro-etc.) e a destruir a unidade da classe proletária.

Esta leitura degenerada do género é a contrapartida invertida da concepção dominante que reduz os fenómenos sociais e políticos eminentemente humanos a trivialidades sociais insignificantes. De facto, esta manipulação ideológica feminista politiza uma notícia mas despolitiza um facto social.

Ou mesmo ignora-o.

É o caso do "genocídio das mulheres trabalhadoras " cometido, com a indiferença geral orquestrada pelo capital, no mundo prisional das empresas, a destruição psicológica sistemática perpetrada no local de trabalho contra os empregados pelos seus empregadores... em suma, este mundo indulgente dos "acidentes" de trabalho, do qual beneficiam os apparatchiks sindicais subsidiados pelo aparelho de Estado burguês.

Sem de forma alguma desculpar ou mesmo minimizar o dramático problema da violência perpetrada contra as mulheres, gostaríamos de revelar a violência assassina ainda mais dramática e maciça infligida a milhões de mulheres e homens em todo o mundo, sem suscitar qualquer indignação ou protesto. Pelo contrário, ninguém fala disso. Não há nenhuma organização que lute contra estas violações psicológicas, esta violência de gestão, este assédio patronal, estes genocídios profissionais quotidianos perpetrados pouco a pouco no silêncio cúmplice geral.

Esta é a violência letal vivida no local de trabalho, em todas as empresas. Esta "violência no local de trabalho" mata e incapacita centenas de pessoas todos os dias. E quem morre? 99% deles são os trabalhadores. E os sectores onde morrem mais pessoas são sempre os mesmos, especialmente a construção e a agricultura, onde emprega uma mão de obra imigrante maciça, incluindo imigrantes ilegais. Sectores para os quais os governos dos países ocidentais, nomeadamente a França e a Alemanha, acabam de aprovar leis que permitem o recrutamento e a regularização de trabalhadores estrangeiros.

Quem sabe que "acidentes" no trabalho matam um trabalhador (independentemente do sexo) a cada quinze segundos? São 6.300 pessoas por dia. No total, todos os anos, 2,3 milhões de trabalhadores e trabalhadoras são mortos no seu local de operação devido à falta de medidas de segurança e negligência criminosa por parte dos empregadores. Em dez anos, 23 milhões de trabalhadores foram mortos nas suas explorações. É um verdadeiro proletariocídio.

Para não falar dos outros milhões de trabalhadores acidentados declarados incapazes para a vida. Um verdadeiro genocídio patológico perpetrado nas empresas com a indiferença geral. Para não falar de todas as outras formas de assédio infligidas diariamente aos trabalhadores nas empresas. O assédio moral. O suicídio. A alienação. As desigualdades entre trabalhadores "intelectuais" (muito bem pagos) e trabalhadores manuais (miseravelmente pagos), entre projectistas (valorizados) e executores (desprezados).

Ninguém fala ou condena esta desigualdade entre trabalhadores intelectuais e trabalhadores manuais. O feminismo burguês é vergonhosamente silencioso sobre esta desigualdade entre trabalhadores intelectuais e manuais. E com razão. O feminismo é uma ideologia misandrista, difundida por mulheres da maioria da elite burguesa, activas nos escalões superiores, nos sectores culturais e intelectuais da elite.

Do mesmo modo, ninguém denuncia a desigualdade de riqueza entre a minoria parasitária da classe dominante e a maioria da classe laboriosa. Ela é democraticamente legalizada, moralmente naturalizada, antropologicamente ontologizada. E não só pelas feministas burguesas.

Os operários, oficialmente declarados vítimas de "acidentes de trabalho fatais", não tiveram azar, mas foram simplesmente sacrificados pelo capital no altar dos seus lucros. É a exploração do trabalho assalariado que está na origem da precariedade da vida proletária e da morte de milhões de trabalhadores.

Os capitalistas não só dispõem do poder discriccionário de dar ou recusar trabalho aos operários, único meio de sobrevivência numa sociedade capitalista onde tudo se compra, até o ar que se respira, como também dispõem da vida dos trabalhadores, activos ou desempregados, "nativos" ou "estrangeiros", que podem encurtar à vontade, matando-os nas suas prisões industriais ou nos campos de batalha. Por outras palavras, as guerras. É o único sector em expansão, nunca em crise. Além disso, em 2023, o orçamento do armamento - ou seja, o orçamento da morte - atingirá a cifra astronómica de 2200 mil milhões de dólares, dos quais quase metade serão gastos pela primeira potência mundial, os Estados Unidos.

O capitalismo é mortal. Polui. É racista, sexista, imperialista, tóxico, nocivo, patogénico, viral, letal, belicista e genocida.  Recentemente, provou também que é incapaz de vencer um simples vírus, devido à sua senilidade e decadência. O Covid revelou a morbidez avançada do capitalismo, que se tornou perigoso para a humanidade. Não só o capitalismo, desde o seu início, demonstrou a sua incapacidade congénita para alimentar a humanidade, como está agora a demonstrar a sua incapacidade para proteger a humanidade da doença, particularmente em resultado do desmantelamento das estruturas de saúde e das infra-estruturas hospitalares ao longo das últimas décadas.

O capitalismo é o sistema mais irracional e bárbaro da história porque, embora dotado de extraordinária tecnologia produtiva, é incapaz de alimentar a humanidade com dignidade, oferecendo-lhe condições de trabalho e existência digna. Pelo contrário, leva a humanidade diária e periodicamente à morte, através da fome, das doenças e das guerras genocidas.

Khider MESLOUB

 

Fonte: Le génocide annuel des travailleurs perpétré avec discrétion – les 7 du quebec

Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice




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