domingo, 24 de março de 2024

Geopolítica do gás e servilismo europeu

 


 24 de Março de 2024  ROBERT GIL  

Pesquisa realizada por Robert Gil

Desde a destruição do Nord Stream I e II, por ordem dos Estados Unidos, o abastecimento de gás à Europa será redireccionado para sul, através da Turquia, que se tornará a nova encruzilhada da distribuição de gás por gasoduto na Europa. Mas o principal objectivo dos americanos era dissociar a Alemanha da Rússia de uma vez por todas.

Vivemos num mundo estranho. A Ucrânia continua a fornecer gás à Hungria, à Eslováquia e à Áustria, através de um gasoduto que atravessa o seu território, proveniente da Rússia, e esta continua a pagar-lhe taxas de trânsito. A França, cujo ministro B. Lemaire tinha dito que iria pôr a economia russa de joelhos em 15 dias, está agora a comprar cada vez mais gás russo, na sequência da redução dos fornecimentos dos EUA. Os fornecimentos de gás russo a França aumentaram 41% em 2023. A este ritmo, a Rússia poderá tornar-se o principal fornecedor de GNL a França. É tanto como o Nord Stream 2, mas quatro vezes mais caro! Em termos de análise, de previsão, de diplomacia e de inteligência, nunca a França conheceu um tal desastre por parte dos seus dirigentes!

Ao mesmo tempo, a empresa turca Botas propôs fornecer gás à União Europeia através do corredor dos Balcãs em modo inverso. Este é o gasoduto através do qual o gás russo, e anteriormente o gás soviético, era transportado para a Roménia e a Turquia através da Ucrânia.  O volume poderá em breve atingir 11 milhões de metros cúbicos por dia. A Turquia é abastecida de gás pelo Turkish Stream e pelo Blue Stream através do Mar Negro, ambos fornecidos exclusivamente pela Rússia. Mas a Turquia também pode contar com o gás do Azerbaijão. O Azerbaijão, país com o qual os europeus assinaram um contrato de fornecimento de gás em Julho de 2022, é parcialmente abastecido pelos russos porque a sua produção de gás é insuficiente... um mundo louco! A confirmação de que as sanções contra a Rússia não estão a prejudicar a Rússia, mas sim a Europa... e Erdogan.

Por conseguinte, a Grécia vai receber a maior parte do pacote de gás da Turquia, pelo que tem de se aproximar, apesar das suas diferenças históricas. A partir da Grécia, o gás passará por Itália, que o redistribuirá pela Áustria, que o redistribuirá pela Alemanha. Além disso, a Itália mantém boas relações diplomáticas com a Argélia para o fornecimento de gás. Assim, a Itália está também a tornar-se uma nova encruzilhada de gás na Europa, em detrimento da Alemanha, que passa a depender dela. A redistribuição da energia na Europa está assim concluída, ainda sob o controlo dos Estados Unidos, e é o Sul da Europa que passa a ter a maior influência em termos energéticos. O gás do Mar do Norte servirá de apoio. O pesadelo dos Estados Unidos era uma grande aproximação entre a Alemanha e a Rússia: missão cumprida, a ruptura entre os dois países é quase definitiva.

Com a questão europeia resolvida, os EUA podem agora concentrar-se no Cáucaso e manobrar para colocar o Azerbaijão sob a sua esfera de influência através da UE e da NATO. A Geórgia, o Cazaquistão e os outros antigos países satélites da URSS na Ásia Central serão, por sua vez, sujeitos a uma alternância de promessas e ameaças de Washington, numa tentativa de isolar e enfraquecer a Rússia. Neste jogo de enganos, o alinhamento da Europa com os interesses americanos é o resultado do mais abjecto servilismo e da perda total da soberania que lhes resta.

 

Fonte: Géopolitique du gaz et servilité européenne – les 7 du quebec

Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice




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