4 de Março de 2024 Olivier Cabanel
OLIVIER
CABANEL — Não, não estamos a falar de um
certo ex-Presidente que regressa de férias, mas sim do El Nino, cujo regresso
acaba de ser anunciado.
Ambos podem ter efeitos devastadores, mas qual será o vencedor?
No que diz respeito ao El Nino, é provável que tenha consequências graves
para o nosso clima.
O El Nino, como
todos sabemos, é uma corrente costeira sazonal que provoca uma subida
anormal da temperatura do Oceano Pacífico.
Aparece normalmente um pouco depois do Natal, daí o seu nome (pequeno
Jesus), que lhe foi dado pelos navegadores portugueses nas suas viagens às
Américas.
O seu aparecimento desloca as chuvas para leste e impede a subida de
águas frias ao longo da costa da América do Sul, privando os peixes do seu
alimento habitual e, naturalmente, com graves consequências para os pescadores.
Foi Sir Gilbert
Walker quem descobriu a sua existência na década de 1920.
Ele estabeleceu uma correlação entre a pressão barométrica nas estações
meteorológicas a oeste e a leste do Pacífico.
Constatou um "efeito de equilíbrio": se a pressão aumentava a
Leste, diminuía a Oeste e vice-versa.
O seu aparecimento perturbou o clima na Austrália, em África, no Sul da
Ásia e nas regiões tropicais da América. link
Em 1997/98, as consequências foram significativas:
O Peru sofreu grandes tempestades de neve em Agosto, a seca atingiu a
Indonésia, várias regiões da China, o norte da Coreia e parte da Austrália, e o
deserto chileno ficou inundado em Maio e Junho de 1997, ao contrário de certas
regiões da América Central, que receberam muita chuva na mesma altura.
As consequências mais significativas foram observadas em 1972/1973,
1982/1983 e 1997/1998.
Em 1982/1983, no norte do Peru e do Equador, caíram mais de 2500 mm de
chuva durante 6 meses, transformando os desertos em campos salpicados de lagos.
A vegetação deu origem a uma enorme colónia de gafanhotos, que atraiu sapos e
aves.
Perto da ilha Christmas, o nível do mar subiu 30 cm, provocando o abandono
dos ninhos de aves marinhas e reduzindo em um quarto a população de focas e
outros leões marinhos.
As anomalias do vento desviaram os tufões das suas rotas habituais, em direcção
ao Havai e ao Tahiti, não preparados para tais condições meteorológicas.
Os prejuízos causados pelo El Niño de 1982 foram estimados em mais de 15
mil milhões de euros.
Ainda é muito cedo para dizer se este inverno será violento.
O que é certo é que, quando isso acontece, afecta um vasto leque de áreas:
novos surtos de doenças, redução do rendimento das colheitas, alterações na
procura de energia, incêndios florestais, consequências económicas, pesca e
migração de animais.
Nestes tempos de crise, de aquecimento mundial e de ameaça de epidemias, o
mínimo que se pode dizer é que não é um fenómeno bem-vindo.
O El Nino está a ter um impacto no clima mundial.
Os investigadores da NOOA (Administração Nacional Oceânica e Atmosférica
dos EUA) anunciaram a chegada do El Nino e prevêem que o fenómeno continue a
aumentar nos próximos meses e que se prolongue durante todo o inverno. link
Este facto foi confirmado pela OMM (Organização Meteorológica Mundial).
De acordo com esta organização, a temperatura das águas do Pacífico
oriental estava entre 0,5° e 1° acima do normal no final de Junho, prevendo-se
temperaturas semelhantes em julho. link
Há muita especulação sobre a dimensão deste novo fenómeno meteorológico:
entre os que estão convencidos de que será fraco e os que pensam que ainda é
cedo para dizer, a situação não é clara.
Entretanto, tal como em 1998, todos estão a fazer tudo o que podem para
limitar os efeitos.
Nas Filipinas, são utilizadas enormes folhas de plástico para canalizar a
chuva directamente para as explorações agrícolas.
Em 1998, estimava-se que 3,5 milhões de pessoas na Etiópia necessitariam de
alimentos de emergência.
Agora só nos resta esperar e fazer figas, porque infelizmente é uma das
poucas coisas que podemos fazer para combater estes fenómenos, porque como
dizia um velho amigo africano:
"Só um tolo mede a profundidade da água com os seus dois pés".
Fonte: Le petit est de retour – les 7 du quebec
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis
Júdice
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