sexta-feira, 15 de março de 2024

LADO DOIS (Louise Demers)

 


 13 de Março de 2024  Equipa de edição 

COTE DEUX (1982)

Louise Demers (1952-2014)

 

O tempo pára, como num filme de Igmar Bergman

As palavras perfuram, Deus e o Diabo rasgam a minha alma

Entre as minhas entranhas, os meus sentidos sacodem a minha castidade

Sou o espectador comovido com a sua frivolidade

 

Eu gostaria de colher o que eles semeiam

Mas as ervas daninhas crescem e cobrem aqueles que amo

O jardim tem frutos que têm de ser colhidos

Ou morrer de fome ou ser envenenado

 

Brotei sob as pedras que a razão inflige

A rapariga camponesa de ontem debochada pela estupidez

Arrastei o meu exterior anárquico pela Terra

Para ti o mais pequeno mistério torna-se inevitavelmente herético

 

Sou feito de cinza, como num filme de Igmar Bergman

Sou um Dezembro, um deserto em que remo

Venham, pescadores! Vinde, pescadores! Trazei a minha alma!

A pesca é melhor quando é banhada em lágrimas

 

O silêncio é demasiado alto ou és mudo?

Tudo o que ouço de vós são os vossos olhares distraídos

Os vossos olhos de corvos pousados na minha alma

O teu coração a coaxar e eu por baixo a querer comer

 

Brotei sob as pedras que a razão inflige

A rapariga camponesa de ontem debochada pela estupidez

Arrastei o meu exterior anárquico pela terra

Para ti o mais pequeno mistério torna-se inevitavelmente herético

 

Quem fará rir o triste dragão

Que vagueia à beira de um precipício?

É pena que seja a cara ou a coroa a decidir

Se devo saltar ou começar de novo.

 

Os direitos autorais deste texto pertencem às autoridades envolvidas. É aqui publicado, num espaço cidadão sem rendimentos e livre de conteúdos publicitários, com fins estritamente documentais e em total solidariedade com o seu contributo intelectual, educativo e progressista.

 

Fonte: https://les7duquebec.net/archives/236611

Este poema foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice




Sem comentários:

Enviar um comentário