quinta-feira, 14 de março de 2024

O pântano burguês

 


Desesperada com o pântano em que o seu governo PS fez cair a política económica e financeira capitalista – que compromete a taxa de acumulação de capital desejada -, um vasto sector da burguesia, apoiada pela judicatura nacional – mormente a representada pelo Ministério Público -, levou a cabo um autêntico golpe de estado, ao bom estilo bonapartista, que teve como consequência a demissão do governo liderado por António Costa.

Um governo que protaginou incontáveis episódios de fragilidade e instabilidade, de “casos” e “casinhos”, que levou esse sector da burguesia a dar uma autêntica “pedrada no charco”, que obrigasse o Presidente da República – o inefável e incompetente Marcelo Rebelo de Sousa – a promover a dissolução da Assembleia da República e a convocar as eleições antecipadas que vieram a ocorrer no passado dia 10 de Março de 2024.

Da política de “contas certas” à “excelência” das notações das principais agências de “rating” internacionais – que atribuiram uma classificação A a Portugal -, passando pelos excedentes orçamentais registados, nada resultou numa melhoria de vida para as condições de vida do povo – antes as agravou -, nem beneficiou o objectivo principal da burguesia que se prende com a melhoria constante da taxa de acumulação capitalista, que só a exploração de mais valia proporciona.

O que levou a que vários sectores da população – operários, escravos assalariados e precários, camponeses, médicos, enfermeiros, professores, etc. – se começassem a organizar e a promover, na rua, autênticos levantamentos populares – ainda que dispersos e mal conduzidos – para se oporem aos autênticos ataques que o governo e a classe dominante está a levar a cabo contra os seus interesses mais básicos.

Antes que o protesto se alargasse, se transformasse em contestação generalizada e incontrolável pelos sindicatos e centrais sindicais corporativistas vendidos à burguesia e dominados pelo aparelho de estado burguês e, pior ainda, redundasse em levantamentos populares – autênticas antecâmaras da Revolução proletária, comunista, internacionalista-, a burguesia preferiu, como política de “contenção de danos”, ensaiar a manobra da “descompressão”, que sempre procura como solução para “desanuviar” as tensões que a luta de classes implica.

Ao mesmo tempo que, e uma vez mais, ensaia a política do bastão e da cenoura. Isto é, a cenoura, fazendo crer aos explorados que, através de eleições, os efeitos negativos e desastrosos que a crise económica e política causa sobre os seus rendimentos, serão, senão ultrapassados, pelo menos, “mitigados”. Se a cenoura falhar, então será usado o bastão, apresentando um governo mais “musculado”, assente em sectores da burguesia mais extremistas e reaccionários.

Porém, saiu-lhes o tiro pela culatra! Em vez da “calmaria” desejada pela burguesia, em vez de “secar” o pântano, o carnaval eleitoral burguês provocou um agravamento da situação política pantanosa que a fez promover, primeiro, um autêntico golpe de estado e, depois, eleições antecipadas. O eleitorado respondeu massivamente ao “apelo” à votação! Mas não da forma que a burguesia desejava.

Ainda que iludidos com a possibilidade de ver resolvidos os seus problemas e ansiedades através do carnaval eleitoral burguês, ainda que apanhados na armadilha da votação em candidatos previamente eleitos conforme os interesses dos sectores da burguesia dominantes, e ainda que a abstenção, que vinha a ser cada vez mais crescente e pronunciada, tenha registado os níveis mais baixos desde 1995, quando se esperava que a tendência seria de crescimento, o que o resultado deste acto eleitoral demonstra e a distribuição de votos evidencia, é que a burguesia já não consegue encontrar “soluções” para resolver os problemas que a crise sistémica e endémica do sistema capitalista e seu modo de produção provocam e promovem.

A “pulverização” dos votos demonstra-o à exaustão, mas não só! Ficou ainda evidente que os eleitores – sobretudo das camadas populares -, têm cada vez maior e mais profunda consciência daquilo que NÃO QUEREM! Isto apesar de ainda não possuirem idêntico grau de consciência daquilo QUE QUEREM e, sobretudo, do que precisam de fazer para o obter.

E não será, certamente, o que a pequena-burguesia, a falsa esquerda, lhe pretende impingir. Mormente, trafulhas como o Bloco de Esquerda (BE) que, replicando a política revisionista da “longa noite fascista”, propõe agora uma reunião de toda a “esquerda” – o que foi aceite por todos os partidos representantes deste sector de classe – para discutir e criar, eventualmente, uma “frente unida anti-fascista”.

Esta pequena-burguesia, estúpida, diletante, incoerente, inconsistente, sempre à deriva, cobarde e poltrona, não compreendeu, uma vez mais, nada do que se está a passar. Quer quanto ao conteúdo, quer quanto à forma. Desde o Livre de Rui Tavares, ao revisionista e social-fascista PCP, passando pelo PS e pelo “híbrido” PAN (Partido dos Animais, em que as pessoas aparecem como um adorno), TODOS serão, uma vez mais, responsáveis pela “opera bufa” que se começa a desenhar e que tem por objectivo – uma vez mais, também -, desviar as massas populares e trabalhadores das tarefas de organização que as conduzam à Revolução comunista e proletária, internacionalista, à destruição do sistema capitalista e do seu modo de produção, ao término da sociedade onde é priveligiada a exploração do homem pelo homem e faça emergir do pântano a flor da sua libertação.

 

 

Luis Júdice

14 de Março de 2024

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