domingo, 17 de março de 2024

Seremos livres para fazer as nossas próprias escolhas?

 


 17 de Março de 2024  ROBERT GIL  

Pesquisa realizada por Robert Gil

No nosso imaginário colectivo, as nossas sociedades estão associadas à liberdade. Mas ninguém nos deu uma definição de liberdade no seio de uma comunidade. Pensamos que estamos em democracia e que, portanto, somos livres porque existem "espaços" de liberdade, como a imprensa, as eleições, a assembleia parlamentar, etc. Na verdade, esses espaços de "liberdade" só existem porque são devidamente controlados pelo sistema. Estes espaços de pseudo-liberdade existem apenas como chamarizes, um dos mais eficazes dos quais é a liberdade de consumo. Mas, na nossa sociedade de consumo, a liberdade de escolha não existe; as várias possibilidades de escolha são fixadas e limitadas por aquilo que o mercado nos oferece e pelos lucros que pode obter com isso.

Os anúncios publicitários, verdadeiras caricaturas da realidade, exaltam as virtudes do consumismo quando, em última análise, o que está em jogo é o controlo social dos assalariados. É preciso pensar em comprar e consumir, não em exigir. É preciso influenciar os seus desejos para repor o dinheiro na máquina capitalista, orientando as suas escolhas de consumo.  Não importa que os produtos apresentados não sirvam para nada, o objectivo é vender tudo para obter o maior lucro possível. Os pobres não estão cá para pensar, apenas para produzir e consumir. No fim de contas, a corrida frenética em busca do novo produto apresentado como indispensável não nos torna mais felizes e acentua o mal-estar generalizado. Por fim, aproveitando a despolitização de muitos cidadãos, uma despolitização orquestrada pelos meios de comunicação social e pelos dirigentes ao serviço da finança e da oligarquia burguesa, que nos tocam a canção do nem-direita nem-esquerda, colocaram à frente do país um verdadeiro homem da direita dura: Macron! Sim, o nosso Presidente é um puro produto do marketing dos grandes grupos do CAC 40. Os 0,1% mais ricos venderam-nos Macron, e nós "comprámo-lo"! Para além deles, ninguém precisava dele, mas eles impuseram-no a nós. Peço desculpa aos que acreditaram.

Os consumidores precisam de sentir que são eles que mandam. Esta é uma das condições essenciais para que a manipulação funcione. Os produtos têm de ser constantemente renovados e remodelados, e os consumidores têm de acreditar que são eles que influenciam a procura, quando, na realidade, não decidem nada, não escolhem nada e estão apenas sujeitos a isso. Não foi ele que pediu que os produtos que compra se tornassem obsoletos um ano depois ou se avariassem dois anos após a compra... tudo para o seu próprio bem-estar, sem dúvida. Se uma máquina de lavar roupa é um objecto útil, porque há séculos que as pessoas são obrigadas a lavar a roupa, o telemóvel não tem qualquer utilidade real, mas tornou-se indispensável. Pedir a alguém que se separe do seu telemóvel é simplesmente impossível: a nomofobia é o medo pânico de se separar do telemóvel. Como é que chegámos aqui? Esta frustração inconsciente gerada pelo sistema é explorada pelos fabricantes para oferecerem novos modelos e novas aplicações, com um tempo de vida cada vez mais curto e modificações cada vez mais inúteis.

Não só somos obrigados a consumir o que o mercado nos disponibiliza, como também somos obrigados a votar nos defensores deste sistema. Quando, ano após ano, em programas, noticiários e debates, o sistema capitalista de mercado é exaltado, o nosso cérebro capta-o. Mas ainda mais insidiosos são os filmes e as séries de televisão que, muitas vezes, confirmam o que os meios de comunicação social nos fazem ver todos os dias, através de falas ou cenários bem pensados e aparentemente inócuos. O acaso e a coincidência não têm nada a ver com isso. Tudo é pensado e ponderado. Não, quer se trate das suas compras ou dos seus votos, não controla nada! Mesmo quando pensa que está seguro e vê um filme para "descomprimir", acha que o computador em cima da secretária, a marca do carro do herói ou o fato de treino que ele veste são fruto do acaso? Não, esta técnica chama-se colocação de produto, também conhecida como "publicidade oculta". Consiste em introduzir visualmente ou verbalmente uma marca. Não está seguro em lado nenhum... porque está concentrado no filme, o seu cérebro regista mecanicamente o anúncio sem que se aperceba.

 

Fonte: Sommes-nous libres de nos choix? – les 7 du quebec

Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice




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