30 de Setembro de 2022 Robert Bibeau
Fonte: Comunia. Tradução e comentário:
O QUE ACONTECEU?
No dia anterior à noite, os primeiros relatos de fugas apareceram no Nordstream 2. Pouco depois, ao longo do dia de ontem, os relatórios sismológicos suecos deixaram claro que não se tratava de um acidente, mas, talvez, de um acto de sabotagem, uma vez que confirmaram mais duas explosões no NordStream1. Relatos posteriores do exército dinamarquês não deixaram dúvidas.
QUE CONSEQUÊNCIAS TEM ISTO?
1.
Qualquer possibilidade de a Alemanha
voltar a receber gás da Rússia neste Inverno e mais tarde através do NordStream,
agora encerrado para reparação como parte da pressão de
Moscovo sobre Berlim, está encerrada.
2.
O NordStream2, já concluído e capaz de
duplicar o fluxo de gás para a Alemanha, entra definitivamente para a história.
A pressão russa contra a Alemanha centrou-se até este mês sobre Berlim, concordar em iniciá-la.
3.
As fugas põem em perigo a navegação na passagem entre o Báltico e
o Mar do Norte. Uma zona de exclusão de 8 km já foi imposta em torno de cada um dos três pontos de fuga.
Isto é mais relevante do que parece: é via de saída do petróleo russo para o
Atlântico e já foi posta em causa por um braço de ferro entre a Dinamarca e
a NATO. A Dinamarca não quis fechar a passagem nem deixar de ajudar
os capitães russos devido aos perigos que poderia representar para a navegação
geral.
4.
PORQUE É QUE ISTO É O FIM DE UMA ERA?
Em Fevereiro de 2022, Biden promete "acabar" com o NordStream na
Casa Branca em frente a um Scholz que finge demência.
O fornecimento da indústria alemã e do negócio da energia russa tem estado
no centro da batalha imperialista na Europa há vinte anos.
A tensão entre Vladimir Putin e os Estados Unidos remonta ainda mais longe,
no início dos anos 2000, quando o todo-poderoso chefe da Yukos, a maior empresa
petrolífera da Rússia, forjou alianças com o grupo Exxon Mobil. O seu chefe
executivo, Mikhail Khodorkovsky, planeia vender o seu grupo aos anglo-saxões
por 25 mil milhões de dólares, o que lhe permitiria financiar uma campanha
presidencial com a benevolência dos americanos. Vladimir Putin processou-o
então por evasão fiscal e prendeu-o durante dez anos. Os americanos entendem,
neste momento, que não vão pôr as mãos nas matérias-primas russas.
Vinte anos depois, os Estados Unidos tornaram-se um exportador de gás
natural liquefeito e procuram conquistar o mercado europeu. Os alemães, sob
pressão dos Verdes, optaram por 45% das energias renováveis intermitentes:
precisam do gás adicional das suas centrais eléctricas alimentadas a gás, actualmente
alimentadas por gasodutos russos. E o novo, Nord Stream 2, ultrapassa a
Ucrânia. Obviamente, é este oleoduto que os americanos ameaçam encerrar em caso
de incidente em solo ucraniano.
Editorial por Marianne ,
16/02/2022
Nesta última fase, foi
Trump quem iniciou abertamente o confronto
na cimeira da NATO de 2018: ou os EUA entram no negócio do gás
russo, ou vão impor sanções à Alemanha, como finalmente fez, até que assuma o
mercado enviando transportadoras de GNL através de França, Holanda e Polónia. A
posição dos EUA levou imediatamente ao
divórcio do eixo franco-alemão na UE.
A chegada de Biden à
presidência só radicalizou as coisas. Os EUA concentraram a sua política em
relação à UE na promoção do confronto com a Rússia ao ponto de transformar
a repressão sobre Nalvalny num pretexto para tentar forçar a mão da Alemanha.
Quando Biden
finalmente tornou iminente a entrada da Ucrânia na OTAN e a implantação de
mísseis com capacidade nuclear no seu território, aumentando a pressão contra a
Rússia, a primeira ameaça dos EUA, à frente do próprio Scholz, não visava tanto
Moscovo como a Alemanha.
Como comentamos na altura:
"A conferência de imprensa após o encontro foi estranhamente violenta do
lado americano e passiva-agressiva do lado alemão." O New York Times diz o
seguinte:
"Se a Rússia invadir, significa que tanques e tropas estão a
atravessar novamente a fronteira ucraniana, então não haverá mais Nord
Stream", disse Biden. "Vamos acabar com isto." Quando
questionado exactamente como, Biden respondeu: "Prometo que podemos
fazê-lo."
Biden diz que o oleoduto
Rússia-Alemanha não avançaria se Moscovo invadisse a Ucrânia, o
New York Times 07/02/2022.
QUEM FEZ ISTO?
As declarações de
Biden foram recordadas ontem pelo representante
dos EUA no Parlamento Europeu com um retweet pouco antes de
outra entrada em que, comentando uma foto de uma das fugas,
disse sucintamente: "Obrigado, EUA", no que parecia ser uma
justificação para o ataque por si só.
A imprensa alemã
comentou que a
CIA tinha alertado os seus homólogos alemães para o perigo e
que, na realidade, apenas um "agente estatal" poderia levar a cabo um
ataque destas características, que requer mini-submarinos e comandos especiais.
Algo difícil numa área saturada de presença militar da NATO. Além disso, apenas
a Ucrânia – que não consideravam ter tais capacidades operacionais – e os
Estados Unidos poderiam estar interessados nos resultados do ataque.
A resposta da UE tem
sido exigir uma investigação
sobre o que já é dado como certo de ter sido sabotado. Só a Polónia insiste que
isto pode ser um
erro humano.
Entretanto, na Rússia,
Peskov culpou
o golpe sem apontar abertamente o dedo a ninguém, mas as
agências sediadas em Moscovo recordaram
que:
Em 23 de Setembro, um grupo de assalto anfíbio da Marinha dos EUA deixou o
Mar Báltico, consistindo nos grandes navios de desembarque USS Kearsarge, USS
Arlington e USS Gunston Hall. Abrigaram um batalhão de infantaria marítima
expedicionária de até 2.400 soldados, bem como uma unidade das forças
especiais.
.
QUE FASE ESTÁ ABERTA AGORA?
Lançamento de um míssil balístico intercontinental Yars russo durante
exercícios de forças nucleares num local desconhecido na Rússia. Imagem de um
vídeo divulgado em 19 de Fevereiro de 2022 pelo Ministério da Defesa russo.
Para a Alemanha, é queimar os seus navios (expressão que, na Língua
francesa, significa não ter volta atrás – NdT), ou melhor, a
descobrir que o seu principal aliado os queimou. Para a Rússia, perder
o último objectivo para um dia reconquistar a UE. Os gasodutos Nordstream
foram, no final, o cordão umbilical do capital russo com o resto da Europa.
Não é por acaso que
Medvedev coloca abertamente em cima da mesa a possibilidade de uma guerra
nuclear. Ainda
ontem, escreveu no seu canal Telegram:
O tema dos últimos dias
é a ameaça nuclear russa. Biden e Truss, vários indicadores secundários, e Sullivans, pulverizando saliva atlântica, exigem
que a Rússia retire a mão do seu "botão nuclear". Juntos, ameaçam-nos
constantemente com consequências "aterradoras" se a Rússia usar armas
nucleares. E o jovem primo de Londres está pronto para lançar imediatamente uma
troca de ataques nucleares com o nosso país.
Devo lembrar aos surdos que só se ouvem a si mesmos. A Rússia tem o direito
de utilizar armas nucleares, se necessário em casos pré-determinados. No
estrito cumprimento dos fundamentos da política de dissuasão nuclear do Estado.
Se nós ou os nossos aliados formos atacados usando este tipo de armas. Ou se a
agressão com o uso de armas convencionais ameaça a própria existência do nosso
Estado.
O Presidente da Rússia
falou directamente sobre esta questão recentemente. Além disso, faremos tudo o
que estiver ao nosso alcance para evitar o aparecimento de armas nucleares nos
nossos vizinhos hostis. Por exemplo, na Ucrânia Nazi, que agora é directamente
controlada pelos países da NATO. Não faz sentido confiar na razão e na vontade
política do regime de Kiev. Mas subsiste uma frágil esperança de bom senso e de
auto-preservação por parte dos países inimigos que os toleram. Compreendem que,
se a ameaça contra a Rússia exceder o limite de perigo estabelecido, teremos de
reagir. Sem pedir permissão a ninguém, sem consultas longas. E certamente não
é bluff.
A questão é diferente. Imaginem que a Rússia é forçada a usar a arma mais
formidável contra o regime ucraniano, que cometeu um acto de agressão em larga
escala que é perigoso para a própria existência do nosso Estado.
Penso que a NATO não intervirá directamente no
conflito, mesmo nesta situação. Afinal, a segurança de Washington,
Londres e Bruxelas é muito mais importante para a Aliança do Atlântico Norte do
que o destino da moribunda Ucrânia, de que ninguém precisa, apesar de estar
abundantemente equipada com várias armas. O fornecimento de armas modernas é
apenas um negócio para os países ocidentais que estão fortemente envolvidos no
ódio contra nós. Chega.
Demagogos estrangeiros e
europeus não perecerão num apocalipse nuclear. Por isso, engolirão o uso de
qualquer arma no actual conflito. Seria bom que as autoridades de Kiev
tivessem, pelo menos parcialmente, conhecimento desta triste conclusão.
Infelizmente, isto é quase impossível. Eles estão num frenesim de guerra
constante com breves pausas para estranhos sonhos alucinatórios.
O perigo é óbvio. O
ataque abre a caixa
nuclear de Pandora. O governo polaco, com a vontade genocida
infatigável de todas as burguesias nascidas da
imundície estalinista da Rússia à Albânia, praticamente se
felicitou e apostou imediatamente numa resposta
"devastadora" da NATO.
É evidente que as
classes dominantes do antigo bloco russo da Guerra Fria estão a tocar o céu dos
seus sonhos: estão a travar uma guerra contra a Rússia com toda a força dos
Estados Unidos e da NATO por trás deles. O que não está claro é contra quem os
Estados Unidos já estão a travar uma guerra. Como lembrou
ontem Sigmar Gabriel, ministro dos Negócios Estrangeiros de Merkel
até à entrada do actual governo alemão.
Entrar numa escalada
militar na grande guerra entre a NATO e a Rússia não deixaria uma Ucrânia
livre, mas sim uma Europa devastada.
Este é o horizonte que se abre agora. E desde o início, a resistência à sua
realização é menos do que inércia. Certamente na Polónia ou nos países
bálticos. E aparentemente nos Estados Unidos e na Rússia.
Só o aparecimento de
lutas reais – ou seja, greves maciças – contra a guerra e o militarismo, e não apelos
individuais ao pacifismo,
por mais
suicidas, violentos ou
mesmo massivos que possam ser, podem pôr fim a esta deriva acelerada da barbárie.
Não é necessário
voltar a 1918 para encontrar exemplos. Há dois anos, protestos
e greves na Líbia, de ambos os lados da frente, travaram o que era
uma escalada em que quase todas as grandes potências e os seus agentes
participaram.
O que temos de fazer em cada país
para lidar com o empobrecimento é o mesmo que é necessário
para derrotar
o militarismo e a guerra dos dois blocos beligerantes antes que
a carnificina se multiplique. Comecem enquanto operários.
§
As principais vítimas dos atentados e
sanções são os operários de ambos os lados da frente.
§
A guerra expressa o crescente
antagonismo entre o capitalismo e a vida humana
§
Em todos os países, o inimigo está
dentro do próprio país, apelando a sacrifícios e subordinando as necessidades
humanas universais em benefício das corporações e dos investimentos.
§
Em todas as greves, em todas as
reuniões, em todas as empresas e em todos os bairros, tornemos visível o militarismo
e a guerra e organizemo-nos como trabalhadores contra eles.
Proletários de todos os países, uní-vos, abulam
exércitos, polícias, producção de guerra, fronteiras, trabalho assalariado!
Fonte: LA FIN DE NORDSTREAM ET LE DÉBUT D’UNE NOUVELLE ÈRE NUCLÉAIRE??? – les 7 du quebec
Este artigo
foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice
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