28 de Setembro de
2022 Robert Bibeau
Por Khider Mesloub.
A
primeira parte deste texto está disponível aqui:
https://queonossosilencionaomateinocentes.blogspot.com/2022/09/orquestracao-da-escassez-economica-e.html
Estamos em guerra, não
cessam de martelar os governantes dos países europeus. Em tempos de guerra, a
regra continua a ser a mobilização geral para assegurar a soberania económica
do país, com vista a reforçar o seu poder e a assegurar o seu crescimento bem-sucedido.
No entanto, os países europeus, especialmente a França, parecem estar a
organizar-se deliberadamente, para fins estratégicos que são tanto económicos
como militaristas, a sua "economia especulativa".
O parque nuclear francês, curiosamente, num impasse
O caso da França é exemplar a este respeito. Embora se suponha que ela é
supostamente confrontada com uma crise energética que exige a mobilização geral
de todas as estruturas estatais e privadas para aumentar a produção de energia
eléctrica, a fim de reforçar as capacidades produtivas do país, garantir a
sustentabilidade do abastecimento e a estabilidade das tarifas, ficamos a saber
que, dos 56 reactores nucleares em França, 32 estão curiosamente parados há
vários meses. Por outras palavras, a maior parte da frota nuclear francesa é
deliberadamente encerrada, a pretexto da manutenção, resultando numa queda da
producção de electricidade. E, por efeito mecânico, o aumento exponencial dos
preços. Assim, o preço grossista da electricidade subiu num ano de 85 euros por
MWh para mais de 1100 euros hoje.
Assim, o Estado francês orquestra deliberadamente a escassez em muitos
sectores económicos vitais, fontes de inflacção especulativa. Particularmente
no sector nuclear, como reconheceu o CEO da EDF (do qual o Estado é accionista
de 84%, e que será nacionalizado muito em breve), Jean-Bernard Lévy, que, num
comunicado de 29 de Agosto de 2022, tinha denunciado a falta de mão-de-obra e
tinha acusado o Estado, nomeadamente o Presidente Macron, de ser responsável
pela actual crise energética, ou seja, a falta de electricidade. Macron é
acusado de ter vendido a indústria nuclear francesa, primeiro em Bercy, quando
era ministro da Economia, depois no Eliseu. "Por que não temos equipas
suficientes formadas? Porque nos disseram: "Por favor, preparem-se para
desligar as centrais eléctricas." As duas primeiros já foram fechados.
Estes são também os textos em vigor neste momento. Disseram-nos:
"Preparem-se para fechar as próximas doze." Nós, com o sector, não
contratamos pessoas para construir doze fábricas, contratámo-las para fechar as
doze", disse Jean-Bernard Lévy no dia 29 de Agosto. Já se fazem sentir as
primeiras consequências para as empresas. Devido à subida dos preços da electricidade
e do gás, as empresas, que já não podem passar o aumento das facturas dos seus
clientes, deixam de produzir. Então, encerram as suas empresas.
Este afundanço nuclear, como a sabotagem sanitária materializada pela
destruição de milhões de máscaras e a orquestração da escassez de respiradores
e produtos desinfectantes e equipamentos de higiene profissional (géis
hidroalcoólicos, luvas, batas) no início da pandemia, servirá de pretexto para
estabelecer um "confinamento energético", aliado ao racionamento e
cortes de energia, ou mesmo um passe climático?
Esta perspetiva de
"confinamento energético" já foi oficialmente evocada pelo governo
irlandês, como noticiou no início de Junho de 2022 pelo jornal Irish
Independent. O jornal adianta que foi interrompido um "exercício de
planeamento de alto nível", com "três cenários possíveis para fazer
face à falta de abastecimento de combustível". Este exercício teria
mobilizado "todas as principais agências do Estado e do Governo". Uma
série de medidas possíveis tinha sido divulgada, incluindo uma informação de
que "todos
os trabalhadores não essenciais serão obrigados a trabalhar a partir de casa", bem como a
introdução de uma limitação
para "todas
as viagens de carro não essenciais", mas também um rigoroso controlo "da quantidade de
combustível que os motoristas podem comprar a qualquer momento". Tudo isto num
cenário de um "confinamento
energético" generalizado.
Além disso, desde o início da pandemia, especialmente desde o início da
guerra na Ucrânia, devido às múltiplas medidas restrictivas e aos sucessivos confinamentos
impostos pelos governos, e devido à hiperinflacção que induz uma erosão do
poder de compra, a producção de serviços tem sofrido um declínio muito
acentuado, particularmente nos sectores culturais (artes, espetáculos e actividades
recreativas, atormentados por uma queda muito acentuada de atendimento), os sectores
hoteleiro e de restauração, com um declínio particularmente acentuado no
alojamento. Já para não falar do sector do turismo. Há todas as razões para
acreditar que, neste contexto de economia de guerra, estes sectores terciários
"parasitas" são deliberadamente sacrificados para centrar a producção
na economia da defesa nacional. Recorde-se que a economia de guerra induz a
introdução de medidas para reduzir o consumo de energia, a implementação de
medidas para reduzir o consumo privado, que podem incluir o racionamento da
indústria e das famílias, o aumento da producção de indústria pesada e militar.
Em resumo: a economia de guerra é a dissuasão do consumo privado (daí a
orquestração da escassez) e o controlo da economia pelo Estado (daí a
militarização da sociedade e a corporalização das mentalidades). Mussolini
resumiu o fascismo em três estrofes: TUDO para o ESTADO; TUDO pelo Estado; TUDO
no ESTADO. Esta é a verdadeira definição política e sociológica do fascismo,
amplamente ilustrada nos últimos dois anos graças ao surto da pandemia politicamente
instrumentalizada e à crise energética causada pelas sanções económicas
maquiavélicas contra a Rússia na sequência da invasão da Ucrânia.
Em geral, toda a elite burguesa, desde políticos até economistas passando
pelos médicos e outros supostos peritos científicos, culpou o coronavírus por
ser responsável pela crise económica. Actualmente, é a distante guerra local na
Ucrânia que é incriminada. O Covid-19 tem as costas largas. Na verdade, o
coronavírus é apenas um sintoma visível do declínio do capitalismo ocidental. E
de modo algum a causa da crise do capitalismo moribundo. Com efeito, durante
anos, com base em relatórios alarmistas, os cientistas têm alertado
constantemente as autoridades públicas para a ameaça de uma pandemia causada
por coronavírus. Os governantes ocidentais ignoraram deliberadamente os avisos
dos cientistas. Por que razão? Porque, do ponto de vista do capital, não há
dúvida de que o Estado investe em políticas de pensões e logística antecipada
(especialmente na compra de Canadairs, para falar de um tema de actualidade
ardente: os incêndios florestais que devastam vários países). Para o
capitalismo, a prevenção é uma despesa supérflua e inútil. Acima de tudo, não
traz qualquer lucro. Além disso, a prevenção nunca é integrada na lógica da
contabilidade de capital. Mas está amplamente integrada na sua estratégia de
instrumentalização política (em particular, com a conflagração das florestas,
na verdade causada pela falta de equipamentos contra incêndios, isto permite
que os governos alimentem o debate ideológico incendiário sobre o aquecimento e
a desregulamentação do clima).
Certamente, a pandemia coronavírus contribuiu para o colapso relâmpago do
sistema económico ocidental. Mas a queda tinha começado o seu deslize anos
atrás. Na realidade, o coronavírus apenas desempenhou um papel na aceleração de
uma tendência económica recessiva que está a funcionar há vários anos. Já os
primeiros sinais alarmantes tinham eclodido durante a crise de 2007-2008, face
à qual a actual crise é muito mais relâmpago e devastadora. Se a crise de
2007-2008 afectou principalmente o sector financeiro, ilustrada pelo colapso de
vários bancos, a actual crise é multifacetada. Atinge os pulmões da economia
ocidental, neste caso a producção. O colapso é geral.
Para além do abrandamento da economia, a queda do sector do turismo, das
companhias aéreas, paira sobre o colapso do comércio dos países ocidentais e,
em especial, a queda da producção. Na maioria dos países ocidentais, as
fábricas estão em mutação devido à desestabilização das cadeias de
abastecimento, à escassez de componentes electrónicos, às matérias-primas. E
acima de tudo ao aumento do preço dos materiais energéticos.
Nenhum país do bloco atlântico escapa ao colapso da sua economia. Todo o
sistema capitalista ocidental corre o risco de colapsar. Apesar da injecção de
triliões de dólares e da nacionalização da economia, a degradação dos países
ocidentais é inevitável. A economia do bloco ocidental está à beira da
implosão, acentuada pelas sanções económicas impostas contra a Rússia, por
instigação dos Estados Unidos.
Certamente, a pandemia coronavírus manifestou-se no momento certo para
servir de cobertura política e argumento explicativo para o colapso há muito
previsível da economia ocidental. Da mesma forma, a guerra na Ucrânia surge no
momento certo para obscurecer os verdadeiros motivos económicos da actual
recessão, mas também como um biombo para justificar o início da Terceira Guerra
Mundial.
Estas explicações ideológicas incriminatórias, primeiro um vírus
microscópico, depois a guerra local ucraniana, por ser responsável pelo colapso
da economia ocidental (mundial) é aberrante. Visa exonerar o capitalismo. A
burguesia ocidental não pode admitir a sua notória incapacidade de operar o seu
sistema capitalista, que se tornou caótico e irracional.
O colapso do sistema capitalista
Perante cada catástrofe económica gerada pelas contradições do capital
(sobreprodução, queda da taxa de lucro, saturação dos mercados, exacerbação das
tensões comerciais), a burguesia ocidental brande sempre explicações
fantasiosas para exonerar a sua responsabilidade pelo colapso do seu sistema
capitalista. Já durante a crise de 1973, responsável pelo aumento do desemprego
endémico e da inflacção galopante, a burguesia ocidental tinha invocado o
aumento do preço do petróleo para explicar estes dois fenómenos, inerentes ao
modo de producção capitalista. Tudo acontece como se o aumento do petróleo
fosse externo ao sistema, e não constitutivo do funcionamento normativo do
comércio capitalista marcado por oscilações de preços, flutuações na situação
económica permanentemente sujeitas às pressões e tensões da concorrência.
Actualmente, a burguesia ocidental, sob a alçada da degradação económica,
invoca a guerra na Ucrânia para explicar o colapso da sua economia. Melhor:
acusa a Rússia de ser responsável pela recessão. A guerra na Ucrânia torna-se
"culpa da Rússia autocrática", não do capitalismo em recessão. Como
se a Rússia não fosse parte integrante do capitalismo mundial, que está agora
em pleno declínio.
Além disso, a burguesia ocidental, para justificar a austeridade económica
imposta aos proletários, apresenta estes sacrifícios como lamentáveis danos
colaterais induzidos pelas medidas necessárias de retaliação económica contra a
Rússia "totalitária" que é imperativo enfraquecer, recomenda (para
não dizer exige), sob o pretexto de solidariedade para com o povo ucraniano e
defesa das liberdades (que andam a pisar alegremente há três anos, graças ao
movimento dos Coletes Amarelos reprimidos com sangue, e à pandemia Covid-19, a
pior era liberticida desde a década de 1930), a reducção do consumo de produtos
essenciais, especialmente materiais energéticos, materializado pela diminuição
do consumo de aquecimento.
No entanto, as sanções penalizam principalmente os países europeus. A
prova. Medidas de retaliação económica contra a Rússia que conduzem à escassez
de matérias-primas em todos os países europeus. Do mesmo modo, estas sanções
conduzem à perda de mercados na Rússia para as empresas europeias. Os preços
das matérias-primas estão a subir, com impacto em muitos bens.
Hoje, os povos da Europa, ainda atordoados pela gestão criminosa da
pandemia, testemunham impotentes a amplificação da crise económica, o
agravamento da sua miséria, a acentuação da exploração da classe operária. O
grande capital ocidental faz com que o colapso económico do seu sistema seja
pago pelas classes populares, as classes médias e os pequenos estractos
empresariais que se tornaram economicamente "inúteis", reduzidos ao
desemprego e precipitados para o absoluto empobrecimento.
Globalmente, o mundo inteiro está a testemunhar o colapso do sistema económico
ocidental. Ao colapso da ordem social ocidental dominante. Ao fracasso
histórico da senil classe burguesa ocidental. À militarização da sociedade
ocidental impulsionada pelas classes dominantes assustadas, a fim de tentar
salvar o seu sistema em total decomposição. À guerra e à pressa bélica dos
países ocidentais em putrefacção moral e política.
Khider MESLOUB
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis
Júdice
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