segunda-feira, 26 de setembro de 2022

Os ladrões de paisagem

 


 26 de Setembro de 2022  Olivier Cabanel  

OLIVIER CABANEL — Para onde quer que o nosso olhar vá, ele pára hoje, não na linha azul dos Vosges, ou no topo do Monte Branco, mas numa miríade de painéis, cada um tão gigante como o outro: a publicidade.



Esses cartazes gigantes, supostamente para nos estimular a consumir, multiplicaram-se tanto que agora é difícil ver a paisagem.

Temos diante dos nossos olhos mensagens cativantes que querem que sonhemos mas os apartamentos com "vista para o mar" tornaram-se "vista sobre a amargura".

Chama-se a isso, sem nos rirmos, árvores  de publicidade http://www.dailymotion.com/video/x1ioak_les-arbres-a-pub

Tudo é bom para convencer o freguês: uma miúda meio nua para nos encorajar a comprar um carro ou um queijo branco.

Coluche entendeu isto com o seu esboço em detergentes que lavavam mais branco que o branco.

"Branco, eu sei", disse ele, "menos branco é cinzento, mas mais branco que branco, não vejo... transparente? »

Coluche também fez simples trocas de letras: lembramo-nos de "avó esmaga os peidos", e nesses tempos, o anúncio fez-nos passar sem o seu saber bons tempos.

Mas a publicidade tornou-se insuportável.

Não podemos escapar a isso: está presente em todos os meios de comunicação, da rádio à televisão, passando pelos jornais, mas também pela internet, pelos telemóveis e até pelas nossas próprias roupas, porque a publicidade mais subtil é a que fazemos involuntariamente.

Da marca de jeans, estampada nas nossas costas, à do polo, somos uma forma de espaços de publicidade voluntário.

Também entra nos filmes e, inconscientemente, vamos gravar a presença desta ou daquela marca: carro, perfume, álcool, e isso vai incentivar-nos a comprá-lo.

Os publicitários sabem-no bem e é por isso que financiam muitos filmes.

A publicidade também nos leva a fazer perguntas estranhas.

A EDF está a gastar quantias malucas para nos convencer a comprar a electricidade.

Qual é o objetivo, já que ainda tem o monopólio.

Isto vai mudar em breve, mas podemos perguntar-nos com que propósito gasta tanto dinheiro em espaço publicitário?

Colocar nas nossas caixas de correio os autocolantes "stop pub" é eficaz, mas contra os outros, o que fazer?

A resistência à publicidade começa a organizar-se para nos devolver as nossas paisagens.

Para levar a cabo uma acção cidadã, foi criada uma associação: os caçadores de pub.

http://www.casseursdepub.org/

Todos os anos, propõem iniciativas: um dia sem compras, uma semana sem TELEVISÃO com o slogan "a TV ou o planeta".

Há também os "borradores de pub ", que, de pincel na mão, atacam a pub manu militari, e mancham ou desviam os cartazes que poluem as nossas paredes.

Estes anúncios têm outra consequência: 180 kg de papel são consumidos por ano por pessoa em França, e florestas inteiras desaparecem todos os dias para publicar mensagens comerciais.

Mais de metade da polpa é importada.

Os chineses ainda estão apenas a 35 kg, mas não há dúvida de que em breve nos alcançarão.

O uso de papel reciclado é apenas um penso temporário, uma vez que ele próprio vem do papel, e, portanto, anteriormente, das árvores.

10 milhões de hectares de florestas são destruídos a cada dois segundos, e o aquecimento mundial está a acelerar por causa de alguns anúncios tolos.

Então, como dizia um velho amigo africano:

"Quem remar na direcção da corrente, faz os crocodilos rirem."

 

Fonte: Les voleurs de paysage – les 7 du quebec

Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice




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