22 de Setembro de 2022 Robert Bibeau
Os neoconservadores americanos sempre
tiveram o dom de associar os seus projectos autoritários de linha dura a
qualquer palavra de ordem do último culto ocidental à "virtude".
By Alastair Crooke – 21 de Agosto
de 2022 – Fonte Al Mayadeen
Em 24 de Junho, no Instituto Hudson, em Washington, Mike Pompeo proferiu um discurso sobre política externa intitulado Os Três Faróis, apresentando Taiwan, Ucrânia e "Israel" como "balizas da liberdade". Os neo-conservadores americanos sempre tiveram o dom de associar os seus projetos autoritários de linha dura a qualquer palavra de ordem do último culto da "virtude ocidental", conseguindo assim estabelecer uma narrativa mediática.
Desde os primódios do
Covid, as palavras vulnerabilidade, solidariedade e cuidado que têm circulado
entre as elites "performativamente
compassivas" em relação ao regime bio-médico têm-se consolidado numa narrativa mais ampla destinada
a intimidar o público a adaptar-se à nova "política de sacrifício". Por outras
palavras, "estar
pronto e disposto a sacrificar as nossas liberdades para proteger grupos
vulneráveis: Esta é a nossa solidariedade... A sua liberdade individual termina
onde começa a liberdade colectiva."
O uso de Pompeo de protecção
da "liberdade" dentro deste
grupo de "faróis
vulneráveis" destina-se a encobrir um projecto neo-conservador que causou a perda
de vidas, perda de direitos, perda de rendimentos e danos psicológicos a muitos
dos que vivem ao lado destes "cavalos de Tróia". Claro que "proteger os vulneráveis" destruindo os meios de
subsistência e as vidas dos outros sempre foi uma proposta ilógica. O seu verdadeiro
objectivo é apenas reunir o apoio público à acção belicosa contra as forças
chinesas, russas e iranianas.
No entanto, na
desajeitada formulação linguística de Pompeo, há uma pista para as semelhanças
entre os três faróis: a
visita da Presidente Pelosi a Taipé acordou o Dragão adormecido. Vê agora
claramente os paralelos entre Taiwan e a Ucrânia. Desde o início do século XX,
o Ocidente estabeleceu várias jurisdições extra-territoriais (as Concessões)
dentro da China, que têm servido para fragmentá-la e enfraquecê-la.
Pequim vê agora que os EUA pretendem fazer tudo o que estiver ao seu
alcance para que a reunificação pacífica de Taiwan com o continente nunca se
realize, e que a actual política dos EUA é apenas uma extensão de uma velha
estratégia colonial.
Isto permitiu à China compreender melhor a questão da Ucrânia: o Ocidente,
desde o início do século XX, tem procurado explorar o nacionalismo étnico
ucraniano de extrema-direita contra os ucranianos culturalmente russos, a fim
de enfraquecer a Rússia.
Tal como a China face a Taiwan, Moscovo entendeu que os Estados Unidos e os
seus aliados europeus fariam tudo o que fosse possível para impedir a
unificação pacífica dos vários povos desta região fronteiriça (que era o objectivo
dos acordos de Minsk).
A resposta chinesa à
visita de Pelosi foi que "o nó à volta do pescoço da independência de
Taiwan" será cada vez mais apertado, como avisou o ministro Wang Yi,
acrescentando que "não
há espaço para compromissos" sobre esta questão.
Li Fei, professor da
Universidade de Xiamen, concebeu o que
chama de
"modelo de Pequim", o que deu a Pequim a noção
de "reunificação
inteligente" — uma abordagem que combina esforços pacíficos com forças militares.
Esta abordagem deve ser implementada passo a passo, e a normalização dos actuais
exercícios militares em toda a ilha constitui um passo em frente. Se a "reunificação inteligente" ainda não
atingir o nosso objectivo final, acrescentou, será necessária uma abordagem
mais directa baseada na força. (Em Janeiro de 1949, o PLA rodeou Pequim,
que foi então ocupada pelas forças kmt, e eventualmente forçou os comandantes do
KMT a renderem-se, de modo que a libertação da cidade realmente ocorreu
pacificamente...).
Bem... A Rússia, passo
a passo, está gradualmente a apertar o laço à volta do pescoço do exército
ucraniano pós-Maidan, formado pela NATO. Se uma solução não sair naturalmente
da sensação da corda no pescoço, este "nó" também será apertado.
Isto leva-nos ao
terceiro dos faróis de Tróia de Pompeo: "Israel ." O Irão e muitos outros países entendem que os Estados Unidos não
querem ver o Médio Oriente unido. Pelo contrário, o Ocidente colectivo vê uma
região fragmentada e polarizada dividida por seitas e a questão palestiniana
como o caminho a seguir para enfraquecer o Irão e os seus aliados.
Daí a resposta do
Irão. Passo a passo, o Irão e os seus aliados têm vindo a apertar gradualmente
o laço em torno de "Israel", a partir de
quatro pontos geográficos distintos. A UE apressou-se a salvar o mecanismo de
contenção do Irão (o JCPOA), embora o Irão seja agora um "limiar" de energia
nuclear e possa, num espaço de tempo relativamente curto, fabricar uma arma, se
assim o decidir (o que não é o caso).
O Almirante
Shamkhani disse aos membros do
Comité de Segurança Nacional do Parlamento iraniano que o Irão também
pode dar-se ao luxo de ir
devagar, passo a passo. O Irão pode dar-se ao luxo de dizer sim ou não à
proposta supostamente final da UE e confirmar que o Irão não se vai desviar das
suas "linhas
vermelhas".
Afinal, o Irão vende o
seu petróleo e gera receitas substanciais, enquanto o Médio Oriente, a Ásia e o Sul
colectivo sofrem uma metamorfose geo-política revolucionária. O panorama
político consolida-se numa esfera mundial autónoma e anti-Ordem. E o paradigma
económico da Ásia Ocidental está também prestes a transformar-se com o advento
de um novo sistema de compensação comercial e financeira.
Em suma, o Irão não precisa explicitamente de apertar o laço neste momento.
Uma nova arquitectura geo-estratégica de largo espectro liderada por Moscovo,
que está a ganhar forma em toda a região, está a tratar disso de qualquer forma
para o Irão.
Alastair Crooke
Traduzido por Zineb, revisto por Wayan, para o Saker Francophone
Fonte: Les trois «chevaux de troie» sentent l’étau se resserrer – les 7 du quebec
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis
Júdice
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