7 de Setembro de
2022 Robert Bibeau
Por Brigitte Bouzonnie.
Hoje – 7 de Setembro de 2022 – convidamos um camarada
a partilhar o editorial connosco. A questão que ela levanta é fundamental para
nós, proletários revolucionários, nomeadamente, como ela escreve: "Como é que, com um equilíbrio de forças muito
favorável aos manifestantes, nunca ganhámos o nosso caso? Como podemos fazer a famosa análise de Gramsci:
"A crise social é quando os que estão
abaixo já não a querem e os que estão acima já não podem fazê-lo" (sic). Esta questão está no centro da revolução social proletária que está a ser preparada para além da guerra mundial que
estão a preparar para nós. Quem quer falar depois da nossa camarada Brigitte
(???)
Os Coletes Amarelos regressam socialmente no dia 10 de Setembro. Macron só tem que se defender. As exigências mudaram radicalmente. Não falo de ânimo leve, não gosto do triunfalismo antecipado antes do início da batalha. Sempre observei a máxima cautela. Mas "os tempos estão a mudar" (“the times there are changing”) teria dito Bob Dylan.
Para o poder em
exercício (Sarkosy, na época), acabou fechando grosseiramente um movimento
social, corrompendo generosamente os seus dirigentes, como durante o movimento
social de 2009 contra a reforma previdenciária. Lembremo-nos: este viu milhões
de manifestantes nas ruas contra a triste reforma de Sarkozy. 2,3 milhões de
pessoas apenas no dia 6 de Outubro de 2009. Magnificamente, o Facebook estava
em chamas e sangue. Estávamos a um fio de cabelo do sucesso. Não sou eu quem
diz isso, mas o centrista Jean-Louis Borloo, que não pode ser acusado de ser um
“activista” e um “bolchevique”! “Mais uma semana e cedemos” (sic) confessou
depois! O traidor Thibault foi pago como deveria, para trazer as suas tropas
para casa. Infelizmente, funcionou.
Para o poder em vigor
(Holande, numa certa época), não há mais voltas, quando milhões de
manifestantes saíram às ruas em 2016 contra o movimento anti-Khomri. Isso viu
14 dias nacionais de mobilização contra o projecto vilão que já planeia a quebra
do nosso código de trabalho. Em 31 de Março de 2016, éramos mais de um milhão
de pessoas na rua, todos os sectores de actividade somados.
Para o poder em vigor (Macron hoje), não há mais volta
contra o movimento dos Coletes
Amarelos que surgiu em 17 de Novembro de
2018. E o formidável dia de mobilização contra a reforma
das pensões de 5 de Dezembro de 2022, que reuniu
2 milhões de pessoas na rua. Não obstante os números manipulados comunicados
pelo traidor Martinez. (Ver no MOVIMENTO DO COLETE AMARELO PASSADO
– PRESENTE – A VIR: Procura resultados de "colete amarelo" – o 7 do
quebec).
Para o poder em vigor (Macron), terminou a ronda contra o movimento social contra a vacinação obrigatória do Verão de 2022, que viu entre 2,9 e 6,5 milhões de pessoas marcharem todos os sábados nas ruas contra o passe sanitário. Estes números são da associação "Antipassanitaire" (falsa questão do Ministério do Interior), e foram calculados graças ao reconhecimento facial e à ajuda de quase 500 voluntários.
Estou muito
confortável em dizer-lhe tudo isto, por ter "seguido", dia após dia,
cada um destes movimentos sociais. Primeiro no meu mural do Facebook, depois no
meu blog Médiapart. Finalmente, na minha carta política independente. O que
faço tem um nome: nos anos 70, dizia-se: "ter a memória (ou a cultura) das
lutas". Um activista político capaz de analisar lutas ao longo do tempo, para
além da pequena luta categórica do momento, era o imperativo. Ouvi dizer que o
meu velho amigo Maurice Najmann (olá Nadine!) usa esta fórmula com toda a
importância que merece. (VEJA
O APELO A UMA GREVE GERAL COM OS GREVISTAS DO Reino Unido: https://queonossosilencionaomateinocentes.blogspot.com/2022/08/greves-selvagens-no-reino-unido-pelos.html
Nesta fase, toda a
questão é: como
é que, com um equilíbrio de forças muito favorável aos manifestantes, nunca
ganhámos o nosso caso? Como podemos fazer a famosa análise de Gramsci:
"A
crise social é quando os que estão abaixo já não a querem e os que estão acima
já não podem fazê-lo" (sic).
A melhor resposta que
conheço é uma análise lúcida do filósofo Alain Badiou, no seu artigo
intitulado: "O
Estado acabou por impor que a manifestação ande em círculos" (Politis, 22 de Setembro de 2016). “No
passado, os governos estavam basicamente de acordo com a ideia de que, uma vez
que um certo nível de mobilização fosse alcançado, eles deveriam recuar. Eles
não pensam mais assim. Acho que é primeiro porque todos (ou quase) compartilham
a ideia de que outro mundo não é possível. Se não houver no horizonte uma
possibilidade que assuste o adversário, ele fica na convicção de que é só
esperar e que essa gente que contesta se cansará antes dele." (sic).
De uma forma
estimulante, Alain Badiou acredita que a ausência de um projecto alternativo
explica o sucesso da única ideologia capitalista mundializada. À sua frente,
"não há alternativa", como Thatcher teria dito. "Com o fim da ideologia comunista
(1991), passamos de DOIS para UM. Isto é fundamental. Não é a mesma coisa quando, sobre o
mesmo assunto, há duas questões em conflito, e quando há apenas uma (sic) (excerto
do seu livro "O
nosso mal vem de mais longe, pensando nas mortes de 13 de Novembro", edição Flammarion,
2016).
A novidade, neste Outono de 2022,
é o
sucesso ideológico e prático do mundo multipolar. O momento mundialista está morto. Os
russos estão a ganhar a guerra de ideias, como demonstra o sucesso da narrativa
russa da guerra na Ucrânia contra a narrativa da NATO. E a guerra na Ucrânia no
terreno, depois das vitórias de Mariupol, Severodonetz e Lissytchank. Recriam
um DOIS, onde, ainda ontem, só havia um. Abrem um novo espaço de
possibilidades.
"O tempo está a
mudar". Infelizmente, as nossas manifestações acabam sempre em fracasso,
por isso talvez uma página esteja a virar. Um novo mundo está a emergir. E com,
na frente das mobilizações, uma possível vitória. Uma vez na vida, acredito que
finalmente temos sorte...
2°)-Alain Badiou: "O Estado impôs
finalmente QUE a manifestação circule em círculos...!"
1)- Alain Badiou, 22 de Setembro de 2016, em Politis: "No passado, os
governos basicamente concordaram com a ideia de que, uma vez atingido um certo
grau de escala de mobilizações, tiveram de recuar. Já não pensam assim. Acho
que é principalmente porque todos (ou quase) partilham a ideia de que outro
mundo não é possível. Se não há no horizonte uma possibilidade que assuste o
adversário, ele permanece na convicção de que só há que esperar e que estas
pessoas que disputam se vão cansar antes dele! T...)
O estado é mais paciente do que ninguém. Ele contém as coisas, manda a
polícia para lá e para cá, deixa as pessoas conversarem... Ele até acabou,
aqui, impondo que a manifestação andasse em círculos. No entanto, o facto de
isso poder acontecer não é um bom sinal: que o governo proponha isso, ainda
passa, mas que as pessoas tenham cumprido, é completamente incrível” (sic).
(Leia este texto no site “Compagnie Jolie Môme”.
2)-Brigitte Pascall: No passado, os governos recuaram assim que uma
mobilização ganhou força. Por exemplo, sabemos que Pompidou não dormiu à noite
em 1967, porque o desemprego atingiu 400.000 candidatos a emprego. E que temiam
as explosões sociais que iriam inevitavelmente resultar. Hoje, as regras do
jogo são totalmente modificadas e codificadas: com a mobilização contra a lei
Khomri, foram 14 dias de mobilização nacional. +greves em refinarias e centros
de tratamento de resíduos. Uma mobilização muito boa onde os jovens estiveram
presentes com os sindicatos dos assalariados. Estavam em vigor todas as
condições para que a lei fosse retirada.
No entanto, o estado enfraquecido não cedeu. Ele inventou a manifestação
com desconto, onde os participantes foram revistados, gaseados, presos numa armadilha,
indiciados. Impondo percursos burlescos onde o evento andava em círculos, como
explica muito bem Alain Badiou. O que mais me surpreendeu neste caso foi a
aceitação dessas condições hiper-humilhantes por Martinez e Mailly, que na
época estavam muito chateados contra o projecto
de lei Khomri. Quando era simplesmente nosso direito constitucional a
manifestação e a formação de ajuntamentos espontâneos, profundamente
questionados e vazios de substância. Além disso, o pacífico “manifestante”,
figura clássica no campo social há 150 anos (lei de 1880 que reconhece a
manifestação) foi transmutado em “delinquente” que é revistado e encaminhado à esquadra
de polícia se necessário. Durante o Verão de 2016, falei sobre isso várias vezes
no Facebook, e não interessou a ninguém (excepto a Domi, meu amigo de sempre):
enquanto esse problema aparentemente legal era a chave para uma mobilização
bem-sucedida.
A continuação da luta social, ou seja, o fracasso no Outono de 2017 da
mobilização contra a reforma do código do trabalho deve-se, em grande parte, a
dirigentes sindicais (corruptos?) que preferem negociar do que manifestar.
Alain Badiou acredita que a ausência de
outra proposta política explica o "sucesso" da "ideologia
capitalista" ante a qual não existe alternativa. "Com o fim da
ideologia comunista, passamos de dois para um. Isto é fundamental. Não é a mesma
coisa quando, sobre o mesmo assunto, há duas questões em conflito, e quando há
apenas uma" (sic) (excerto do seu livro "Nôtre mal vient de plus loin,
Penser les tueries du 13 Novembre", edição Flammarion, 2016).
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis
Júdice
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