28 de Junho de
2023 Robert Bibeau
por Larry Johnson
Ouvi dizer que os chineses iam acrescentar a imagem de Antony Blinken à definição de "Kow Tow" do diccionário. Ele foi a Pequim, de chapéu na mão, e teve uma recepção pouco calorosa. A palavra "gelada" vem-me à cabeça. Blinken e os seus anfitriões chineses encetaram uma "troca franca de pontos de vista" unilateral (uma expressão utilizada pelos diplomatas para descrever uma conversa tensa e fracturante). Os chineses obedeceram e Blinken acabou por dizer o que os chineses lhe tinham exigido que dissesse - "os Estados Unidos não apoiam a independência de Taiwan".
Acho isto um pouco hilariante. Blinken limitou-se a reafirmar a política de "uma só China" negociada e implementada por Richard Nixon e Henry Kissinger há 51 anos. O que Blinken disse tem sido a pedra angular da política dos EUA em relação à China durante décadas. Mas não foi assim que a declaração foi recebido nos Estados Unidos.
"Na segunda-feira, o Secretário de Estado Antony Blinken levantou algumas dúvidas quando disse aos jornalistas que os Estados Unidos "não apoiam a independência de Taiwan", depois de se ter reunido em Pequim com responsáveis, incluindo o Presidente chinês Xi Jinping.
A declaração de Blinken irritou muitos republicanos do Congresso, que a consideraram - juntamente com o facto de o Secretário de Estado não ter restabelecido as comunicações entre militares - como uma cedência indesejável ao maior adversário dos Estados Unidos.
"Blinken viajou para a China comunista para apaziguar Xi Jinping e declarar que a administração Biden não apoia a independência de Taiwan", disse a senadora Marsha Blackburn (R-Tenn.) no Twitter. "Porque é que esta administração não enfrenta os tiranos e defende a liberdade?
A situação é a seguinte: Blinken reafirma a política de longa data dos Estados Unidos em relação à China e é atacado como um fraco que cede às exigências irrazoáveis do governo chinês. Tenho alguma simpatia por Blinken (não muita, apenas um pouco), mas é culpa dele e da administração Biden o facto de Biden ter tido de fazer uma reviravolta diplomática para tentar reverter mais de um ano de comentários chamando à China um "inimigo" e a promessa pública de Biden de enviar tropas americanas para defender Taiwan.
A China tem sido firme quanto ao que espera da administração Biden. Eis parte do que o Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês divulgou no dia seguinte à reunião:
“Wang Yi afirmou que a visita do Secretário de Estado a Pequim ocorreu num
momento crítico das relações sino-americanas e que era necessário escolher
entre o diálogo e o confronto, entre a cooperação e o conflito. A história
avança sempre, e as relações entre a China e os Estados Unidos acabarão por
progredir. Não há forma de voltar atrás na roda da história, e é ainda menos
aconselhável começar de novo. Adoptando uma atitude responsável em relação ao
povo, à história e ao mundo, temos de inverter a espiral descendente das
relações sino-americanas, fazer pressão para que regressem a um caminho
saudável e estável e trabalhar em conjunto para encontrar uma forma correcta de
a China e os Estados Unidos se entenderem na nova era.
Wang Yi salientou que o ponto baixo das relações sino-americanas tem origem
na percepção errada que os Estados Unidos têm da China, o que conduz a
políticas erradas em relação à China. As relações sino-americanas têm tido
altos e baixos, e é necessário que os Estados Unidos reflictam profundamente e
trabalhem com a China para gerir conjuntamente as diferenças e evitar surpresas
estratégicas. Para que as relações sino-americanas deixem de se deteriorar e se
estabilizem, a prioridade absoluta é a aplicação efectiva do consenso alcançado
pelos dois chefes de Estado. Para que as relações sino-americanas sejam
estáveis e duradouras, o mais importante é seguir os princípios do respeito
mútuo, da coexistência pacífica e da cooperação vantajosa para todos, propostos
pelo Presidente Xi Jinping. (...)
Wang Yi exortou os Estados Unidos a deixarem de exagerar a "teoria da ameaça chinesa", a levantarem as sanções unilaterais ilegais contra a China, a deixarem de asfixiar o desenvolvimento tecnológico da China e a absterem-se de qualquer interferência injustificada nos assuntos internos da China. Wang Yi concentrou-se na análise da essência da questão de Taiwan, salientando que a salvaguarda da unidade nacional estará sempre no centro dos interesses fundamentais da China, que é o destino de todo o povo chinês e que é a missão histórica inabalável do Partido Comunista Chinês. Relativamente a esta questão, a China não tem margem para compromissos. Os Estados Unidos devem aderir efectivamente ao princípio de "uma só China" enunciado nos três comunicados conjuntos sino-americanos, respeitar a soberania e a integridade territorial da China e opor-se claramente à "independência de Taiwan".
https://www.mfa.gov.cn/2023/06/19/1099675
Não há nada de caloroso nesta mensagem de Pequim. Trata-se de um ultimato chinês completamente típico - digo típico porque é apresentado com muita calma, sem hipérboles, mas de uma forma muito directa. A China deu a Blinken duas opções: reafirmar a política de "Uma só China" ou preparar-se para uma ruptura nas relações.
Os chineses não têm pressa em deixar a administração Biden à vontade. A sua recusa em restabelecer as comunicações entre militares indica que a China tenciona esperar para ver se Blinken e o resto da equipa de segurança nacional de Biden abrandam a sua retórica e adoptam a política de Uma Só China.
O grande problema de Biden e da sua equipa de palhaços é que ajudaram a envenenar as águas políticas dos EUA com uma retórica tóxica que retrata a China como o principal inimigo da América nos últimos dois anos e agora precisam de encontrar um antídoto para esse veneno. Não creio que seja possível saírem desta confusão. Biden e Blinken colocaram-se numa situação sem saída e tudo o que fizerem para dar a volta à situação será visto como fraqueza e cobardia por muitos políticos e cidadãos americanos.
É provável que as coisas se agravem nas próximas semanas, e Biden estará sob pressão crescente para atirar Blinken para debaixo do autocarro. O Wall Street Journal, citando actuais e ex-responsáveis dos EUA, relata o seguinte:
«China e Cuba estão em negociações para
estabelecer um centro de treino militar conjunto na ilha, o que significa que
os militares chineses podem estar às portas dos Estados Unidos.
A alegada indignação
dos EUA com a medida da China ignora convenientemente o facto de os EUA terem
provocado esta situação ao enviar treinadores militares
norte-americanos para Taiwan:
«O governo dos EUA enviou cerca de 200
soldados a Taiwan para treino militar no meio do aumento das tensões com a
China, de acordo com uma reportagem do
Taiwan News. A maioria das tropas enviadas para Taipé pertence ao
exército dos EUA e está actualmente estacionada em novos centros de treino e
brigadas de reserva das Forças Armadas de Taiwan."
Pequim está a enviar a Washington uma mensagem directa: tudo o que vocês puderem fazer, nós podemos fazer melhor. Quando se trata de "olho por olho", a China sabe como jogar duro.
Os Estados Unidos são confrontados com uma escolha muito simples: aceitar a política de "uma só China" ou preparar-se para a guerra com a China. Não há meio-termo. Nunca pensei que um dia daria por mim a desejar que alguém como Richard Nixon tomasse as rédeas do Estado. Apesar da sua presidência manchada, ele compreendeu inteligentemente que entrar em guerra com a China era uma receita para o desastre nacional.
fonte: A Son of the New American Revolution
Fonte deste artigo : Biden et les États-Unis ont un grave problème avec la Chine – les 7 du quebec
Este artigo
foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice
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