segunda-feira, 26 de junho de 2023

Exibicionismo, África e Françafrique

 


 26 de Junho de 2023  Olivier Cabanel 


Por OLIVIER CABANEL —

Será que a justiça decidiu interessar-se pela Françafrique? A novela ainda agora começou e, para já, apesar da sua raiva, duas contas de Omar Bongo (no valor de 4 milhões de euros) foram bloqueadas.

O Presidente gabonês conta com o apoio do seu amigo Nicolas Sarkozy, com quem se gaba de se ter encontrado pelo menos 7 vezes no seu hotel privado em Paris (fonte: "la lettre du continent").

Na edição de Fevereiro de 2007 do Le Nouvel Observateur, afirmou: "Com Nicolas, há uma diferença porque somos amigos. Se amanhã ele me renegar por ser Presidente, dir-lhe-ei: Nicolas, não podes estar a falar a sério... Creio que a própria base da Françafrique se manterá, mesmo que seja necessário melhorá-la".

Seria difícil adivinhar o epílogo da novela que está prestes a começar, porque toda a gente sabe que Bongo tem ficheiros e que pode utilizá-los.

O episódio de Bernard Kouchner é talvez a prova.

(Ler "La Françafrique décomplexée" de Samuel Foutoyet, Dezembro de 2008).

http://survie.org/Francafrique-le-reseau-Chirac-la.html

E a China e os EUA estão cada vez mais interessados em África e nas suas riquezas.

Mas o Gabão não é o único país africano onde a França tem interesses: há o Congo Brazzaville onde Sassou N'Guesso, que tinha perdido o poder, organizou um golpe de Estado financiado pela Elf e governa o país com mão de ferro desde 1997, apoiado pela França.


É de salientar que a TotalfinaElf obteve um lucro de 12 mil milhões de euros com o petróleo neste país e no Gabão.

No Chade, Idriss Deby é um ditador confirmado e o seu petróleo está a atrair muita atenção. Deby acredita poder contar com o apoio militar francês, que parece ter obtido, uma vez que La Croix de 7 de Fevereiro de 2008 afirma que o exército francês interveio para permitir ao ditador manter o seu lugar.

http://survie.org/TCHAD-La-France-reste-alignee.html


No Níger, o actual governo está ameaçado pelos tuaregues.

(O coronel Maïnassara, que tomou o poder através de um golpe de Estado em 1999, foi assassinado e outro militar, Mamadou Tandja, líder do antigo partido único, tomou o seu lugar).

Os tuaregues queixam-se de que a exploração nuclear do seu território só teve consequências negativas.

Por isso, os tuaregues declararam guerra ao urânio e estão a mobilizar 3.000 combatentes.

A França também tem interesses neste domínio: o urânio do Níger abastece 70% das nossas centrais eléctricas.

Assim, os nossos militares também têm armas nas mãos.

No Burkina Faso (o país dos homens íntegros), Thomas Sankara tornou-se presidente em 1983, conduzia um R5, impôs um estilo de vida modesto aos seus ministros e criticou a política africana da França.

Foi assassinado em 1987, num golpe de Estado que levou Blaise Compaoré (apoiado pela França) à chefia do Estado.


Continua no poder, e num dos países mais pobres de África. Tem um palácio e um Boeing 747 pessoal.

Há também os Camarões, onde Bolloré fez mil milhões em vendas de madeira em 2004.

No Mali, o ouro é uma fonte de receitas para a Sodamex (uma filial da Bouygues), para além dos diamantes da República Centro-Africana, do gás da Argélia, dos fosfatos do Togo e de Marrocos, dos produtos agrícolas (café, ananás, cacau, amendoim, cana-de-açúcar, etc.) e, claro, das armas que lhes vendemos: um negócio suculento que rendeu à Dassault e à Lagardère 30 mil milhões de euros entre 1996 e 2003.

O genocídio no Ruanda foi objecto de um relatório, o relatório Poncet, à luz do qual se tenta esconder a triste realidade:

http://survie.org/La-France-et-le-genocide-au-Rwanda.html


No entanto, Nicolas Sarkozy falou da "ruptura necessária" durante a sua campanha presidencial, quando disse :

"Quero virar a página da complacência, do secretismo e da ambiguidade ... Quero livrar-me das redes de outra era ... Quero deixar de lidar indiscriminadamente com democracias e ditaduras ... Temos de parar de repetir que a França está presente em África para pilhar os seus recursos, porque, no cômputo geral, é verdade, não precisamos de África economicamente - e desafio qualquer um a provar que estou errado”.

Veremos, com o episódio "Bongo", que peso pode ser dado a esta afirmação.

Tanto mais que ninguém terá esquecido o sumptuoso acolhimento reservado ao sulfuroso Kadhafi.

Porque, como diz um velho amigo africano:

 "Um grão de milho engana-se sempre à frente de uma galinha".

 

Fonte: La frime, l’Afrique et la Françafrique – les 7 du quebec

Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice




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