terça-feira, 27 de junho de 2023

Depois de Bagdad "Fortaleza América um", Líbano, "Fortaleza América dois" 1/2

 


 27 de Junho de 2023  René Naba  


RENÉ NABA — Este texto é publicado em parceria com a www.madaniya.info.

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Depois de Bagdad "Fortaleza América um", Líbano, "Fortaleza América dois" 1/2

Este documento é publicado por ocasião do quadragésimo aniversário do ataque à Embaixada dos EUA em Beirute.

Em 18 de Abril de 1983, a embaixada dos Estados Unidos em Beirute foi bombardeada. Exactamente às 13 horas e 3 minutos, uma pick-up carregada com cerca de 900 kg de explosivos embateu contra a porta da embaixada. A explosão foi tão forte que a onda de choque se propagou por vários quilómetros. De acordo com o relato de Robert Baer, antigo agente da CIA colocado no Médio Oriente, os navios americanos ao largo da costa libanesa foram abalados pela explosão.

O balanço foi pesado: 63 mortos, dos quais 17 americanos, entre os quais oito oficiais da CIA, incluindo o chefe da divisão do Médio Oriente, Robert Ames, o diretor-adjunto da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional e vários fuzileiros da guarda, 32 empregados libaneses e 14 visitantes. Cerca de 120 outras pessoas ficaram feridas.

Depois de Bagdad, Líbano, "Fortaleza América dois" 1/2

Trágica é a história das embaixadas dos Estados Unidos no Médio Oriente, centro do poder de decisão na região durante meio século da maior potência militar do mundo de todos os tempos, cujos servidores foram muitas vezes utilizados para descarregar as suas frustrações, prejudicando o prestígio da hiperpotência americana para além de qualquer razão.

Os Estados Unidos, que transformaram o palácio do antigo Presidente iraquiano Saddam Hussein numa fortaleza para albergar a sua embaixada na sequência da invasão americana do Iraque em 2003, planeiam agora construir uma nova fortaleza, desta vez no Líbano, para se protegerem da ira dos povos que a sua política imperial e presunçosa está a suscitar em todo o Médio Oriente.

Danos colaterais

Seis embaixadores pagaram o preço da política imperial americana com as suas vidas como danos colaterais, e nada menos do que quatro embaixadas foram destruídas por bombistas suicidas:

No Sudão, em Março de 1973, o embaixador americano Cleo Noel, juntamente com o seu conselheiro e o encarregado de negócios belga, foram feitos reféns por um comando palestiniano e executados dois dias depois.

Também no Sudão, 25 anos mais tarde, em 2008, foi assassinado um diplomata, John Michael Granfield, 33 anos, que trabalhava para a USAID, activa no sul semi-autónomo do Sudão. O atentado teve como pano de fundo o aumento do sentimento anti-americano no Sudão, onde as autoridades e os meios de comunicação oficiais denunciam constantemente a posição da administração dos EUA relativamente à crise do Darfur.

No Chipre, em Agosto de 1974, Rodger Davies foi morto a tiro nas instalações da embaixada em Nicósia, durante uma manifestação de cipriotas gregos que acusavam os Estados Unidos de apoiar a invasão turca da parte norte da ilha.

No Afeganistão, em Fevereiro de 1979, Adolph Dubs foi morto durante um assalto das forças governamentais para o libertar, depois de ter sido raptado em Cabul por islamistas radicais.

Por último, na Líbia, em 11 de Setembro de 2012, o embaixador dos EUA na Líbia, Christopher Stevens, e três outros funcionários norte-americanos foram mortos num ataque ao consulado em Benghazi, no leste da Líbia. O ataque foi atribuído a manifestantes zangados com o filme islamófobo "A Inocência dos Muçulmanos", uma produção amadora de baixo orçamento realizada nos Estados Unidos.

As autoridades líbias e americanas não excluíram a possibilidade de um ataque planeado, ou mesmo o envolvimento da rede al-Qaeda.

Ao nível das embaixadas

Os dois atentados contra as embaixadas americanas em África, em 7 de Agosto de 1998, em Nairobi (Quénia) e Dar es Salaam (Tanzânia), contam-se entre os actos terroristas mais importantes cometidos contra alvos americanos no continente africano.

O atentado com carro armadilhado contra a embaixada de Nairobi matou pelo menos 213 pessoas, incluindo doze americanos, dois dos quais funcionários da CIA, feriu entre 4.000 e 5.500 pessoas e destruiu vários edifícios de grandes dimensões no centro da cidade.

O ataque à embaixada em Dar el Salaam, utilizando o mesmo modus operandi, matou onze pessoas, mas sem vítimas americanas, e feriu outras 85. O edifício ficou muito abalado e danificado, mas não se desmoronou com a força da explosão.

Juntamente com o atentado ao World Trade Center em 1993, o ataque às Torres Khobar na Arábia Saudita e o ataque ao USS Cole no Iémen, os ataques às embaixadas americanas em África foram dos mais significativos ataques anti-americanos que precederam os de 11 de Setembro de 2001.

Curiosamente, os atentados anti-americanos em África utilizaram o mesmo modus operandi que os bombistas suicidas no Líbano que atacaram a embaixada americana em Beirute e os quartéis-generais franceses e americanos, mas os seus autores estavam ligados a membros locais da Al Qaeda, o movimento aliado dos Estados Unidos na guerra anti-soviética no Afeganistão. Um terrível efeito de boomerang.

Iraque: Antigo palácio presidencial de Saddam Hussein transformado na "Fortaleza América"

No Iraque, objecto de uma invasão americana em violação do direito internacional e palco de uma feroz resistência anti-americana, os Estados Unidos instalaram uma embaixada considerada a maior e mais cara do mundo.

Com uma área de 0,44 km2, foi inaugurada em Janeiro de 2009 na Zona Verde de Bagdade, num antigo palácio de Saddam Hussein. Esta nova embaixada, que é tão grande como o Vaticano, tem 21 edifícios, restaurantes, lojas, escolas, um cinema, um quartel de bombeiros e os seus próprios sistemas de produção de electricidade e de tratamento de resíduos. Tem também as suas próprias instalações de telecomunicações e um sistema de gestão de águas residuais.

A propriedade é 6 vezes maior do que a sede das Nações Unidas em Nova Iorque e 2/3 do tamanho do National Mall em Washington DC. Conhecida como Fortress America, é composta por 21 edifícios distribuídos por 42 hectares e funciona de forma autónoma, não dependendo dos serviços públicos da cidade de Bagdade.

Foi construída após a invasão americana do Iraque em 2005, segundo projectos do gabinete de arquitetura Berger Divine Yaeger Inc. Foram mobilizados novecentos (900) trabalhadores para a construção do edifício, que ficou concluído em 12 de Maio de 2008, com um custo de 736 milhões de dólares.

Situada nas margens do Tigre, a oeste da ponte 14 de Julho, data comemorativa do golpe de Estado anti-monárquico, na Zona Verde, 3.577 trabalhadores contratados são responsáveis pela sua segurança.

No entanto, a fortaleza tem sido alvo de ataques esporádicos com rockets e mísseis, sobretudo desde o assassinato do general Qassem Souleimany, chefe da Brigada de Jerusalém dos Guardas da Revolução Iraniana.

Sobre o balanço político da invasão do Iraque pelos EUA, ver este link: https://www.renenaba.com/l-hecatombe-des-faiseurs-de-guerre/

Mas se a embaixada americana em Bagdade é alvo de fogo hostil, devido à invasão do país pelo exército americano e à resistência anti-americana que aí se desenvolveu, o mesmo não acontece no Irão e no Líbano, dois países que, no entanto, estão no topo da lista das acções mais humilhantes para o prestígio americano, na medida em que os opositores à política americana se apoderaram dos arquivos das missões americanas, revelando a missão clandestina da chancelaria e decapitando os seus agentes regulares, membros da CIA.

Irão: A crise dos reféns. Uma grande bofetada na cara.

A crise dos reféns americanos no Irão durou de 4 de Novembro de 1979 a 20 de Janeiro de 1981. Durante 444 dias, cinquenta e dois diplomatas e civis americanos foram mantidos reféns por estudantes iranianos na embaixada dos Estados Unidos em Teerão.

O gatilho foi a hospitalização do Xá deposto em Nova Iorque, a 22 de Novembro de 1979, mas a principal causa desta crise foi a suspeita das autoridades iranianas de espionagem da embaixada americana, justificada pela descoberta de instrumentos e documentos dos serviços secretos que apontavam nesse sentido.

"Os americanos tentaram fazer desaparecer os seus documentos confidenciais utilizando incineradores e trituradores. Mas quando os estudantes viram o fumo a sair do edifício, forçaram a entrada (no edifício da embaixada) e detiveram os agentes", comenta o guia, em frente a uma das máquinas ainda cheias de papel.

Oitenta livros de documentos secretos foram reconstruídos "graças aos estudantes que, pacientemente, voltaram a juntar os documentos rasgados". Os livros podem ser consultados numa das salas do museu.

Os iranianos exigiram que os Estados Unidos reconhecessem as suas falhas passadas, que eram o apoio americano inabalável ao Xá desde a Operação Ajax, no Verão de 1953. Para Jimmy Carter, isso equivalia a pôr em causa a política de seis presidentes americanos.

A operação Ajax, conduzida pela CIA, tinha por objectivo derrubar o primeiro-ministro nacionalista Mohamad Mossadegh, o arquitecto da primeira nacionalização do petróleo no Terceiro Mundo e da restauração do Xá do Irão no seu trono.

A ocupação da embaixada dos Estados Unidos em Teerão, em 1980, um verdadeiro prémio de guerra, levou à apreensão de um grande número de documentos confidenciais que descreviam a arquitectura da rede de serviços secretos americanos no Médio Oriente e a lista dos seus membros.

 

Fonte: Après Bagdad «Fortress America One», le Liban, «Fortress America two» 1/2 – les 7 du quebec

Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice




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