RENÉ — Este texto é publicado em parceria com a www.madaniya.info.
Comunicação Social francesa: Jornalistas pró-palestinos expulsos da
Deutsche Welle e da France 24
O anti-semitismo deve ser combatido com determinação, com o mesmo vigor que a palestinofobia, a mais recente patologia contemporânea das democracias ocidentais.
O princípio da liberdade de informação é modulado nos países ocidentais de acordo com os interesses estratégicos da autoridade de controlo dos meios de comunicação social nacionais, a julgar pelas purgas de que dois meios de comunicação social europeus - Deutsche Welle e France 24 - têm sido palco desde 2021.
O canal alemão demonstrou-o em 2021 e a France 24 fez o mesmo em 2023, a pretexto da luta contra o anti-semitismo.... na medida em que a acusação de anti-semitismo nestes dois países traumatizados - a Alemanha pelo genocídio hitleriano e a França pela colaboração de Vichy com o nazismo - constitui agora um dissuasor maciço para neutralizar qualquer crítica a Israel. Sob o pretexto de não transpor o conflito israelo-palestiniano para a Europa
Apesar de Israel ter matado cinquenta e cinco (55) jornalistas palestinianos desde 2000, quando começou a segunda intifada, e de ter prendido outros 16...
Apesar de o Estado hebreu ter levado a cabo 430 assassinatos anti-palestinianos desde 2000, ao ponto de a organização americana Human Right Watch ter acusado Israel de cometer actos de apartheid.
§ Clique nos links
abaixo para ler mais sobre as várias questões abordadas neste texto.https://www.renenaba.com/de-laccusation-dantisemitisme-comme-arme-de-dissuasion/
§ https://www.madaniya.info/2021/11/10/430-assassinats-cibles-anti-palestiniens-depuis-lan-2000/
A Deutsche Welle é o serviço de radiodifusão internacional da Alemanha. Emite programas de rádio em ondas curtas, na Internet e por satélite em trinta línguas, bem como programas de televisão em quatro línguas. A Deutsche Welle emite regularmente desde 3 de Maio de 1953.
Entre os despedidos da Deutsche Welle, contam-se Bassel Aridi, director do
gabinete do canal alemão em Beirute, e quatro empregados da estação: Daouad
Ibrahim, Morhaf Mahmoud, Maram Salem e Faraq Marqa, acusados de terem feito
tweets de apoio à causa palestiniana, criticando simultaneamente Israel.
De facto, o jornal alemão Deutsche Zeitung invadiu as contas dos
jornalistas e divulgou os seus nomes.
A Alemanha também demitiu a jornalista alemã-palestiniana Nehmat Al Hassan
por ter participado numa manifestação de apoio à causa palestiniana.... em
2014.
Em 2019, Emilie Wilder, jornalista da agência americana Associated Press,
foi despedida do seu trabalho por ter criticado o comportamento das autoridades
de ocupação israelitas na repressão dos distúrbios no bairro de Hay Jarrah, em
Jerusalém. Emilie Wilder, de 22 anos, residente em Phoenix (Arizona), tinha
sido, de facto, alvo dos meios de comunicação social conservadores pelo seu activismo
em prol dos direitos dos palestinianos enquanto estudante na Universidade de
Stanford, onde se licenciou em 2020.
França 24
No país de Voltaire, na pátria dos Direitos do Homem, a France 24, a montra internacional dos meios de comunicação social franceses, anunciou a suspensão de 4 jornalistas, enquanto se aguardam os resultados de uma auditoria que os acusa de terem feito comentários anti-semitas.
Entre os jornalistas em causa encontra-se Leila Audeh, correspondente na
Palestina. Esta jornalista trabalha na France 24 desde 2008, tendo passado
anteriormente pela Abu Dhabi TV, Joelle Maroun (Beirute) e Dina Abi Saab,
correspondente da France 24 em Genebra, bem como Charif Bibi, responsável pelos
assuntos de imigração e asilo.
O caso teve início com a publicação de um artigo no site Web do Committee
for Accuracy in Middle East Reporting in America (CAMERA), retomado pelo Centro
Simon Wiesenthal, que implicava estes jornalistas de língua árabe da France 24
por causa de certos comentários que teriam publicado nas suas páginas pessoais
das redes sociais", refere um comunicado de imprensa da France 24.
As duas organizações, que têm fama de serem pró-israelitas e de direita,
acusam os jornalistas de terem feito certas publicações nas redes sociais que
consideram "anti-semitas".
A questão é saber se se trata de uma indicação, de uma queixa ou de uma
denúncia.
Seja como for, o sentimento de culpa pela colaboração de Vichy com o
nazismo é tão forte em França que o mais pequeno espirro israelita ou
pró-israelita provoca uma onda de pânico na casta política e mediática,
desencadeando um alvoroço ansioso a todos os níveis da alta administração, com
vista a amordaçar o mais pequeno recalcitrante da ordem catódica ocidental.
A versão árabe deste caso para os falantes de árabe, ver este link do jornal libanês Al AKhbar de 14 de Março de 2023.
§ https://al-akhbar.com/Media_Tv/358529
A França reincide nesta matéria.
A França é reincidente. Durante o mandato de Nicolas Sarkozy (2007-2012), a amizade estrondosa do "primeiro presidente de sangue misto" com o emir do Qatar não impediu a erradicação sistemática de todas as sensibilidades pró-palestinianas da administração da província e dos meios audiovisuais estrangeiros franceses, com a expulsão de Richard Labévière, chefe de redação da RFI e de Wahib Abou Wassel, o único jornalista palestiniano da redacção de língua árabe da RMC Moyen Orient, bem como de Bruno Gigue, e a promoção concomitante de personalidades com um sionismo filo exacerbado.
A lista é longa e inclui Bernard Kouchner (Quai d'Orsay), Pierre Lellouche
(Assuntos Europeus), Dominique Strauss Kahn (FMI), Arno Klarsfeld (Matignon) e
François Zimeray, antigo vice-presidente do comité de estudos políticos do CRIF
e embaixador dos Direitos do Homem, Christine Ockrent (divisão audiovisual
estrangeira), Philippe Val (France inter) e a mais recente contratação, Valérie
Hoffenberg, directora para França do American Jewish Committee e representante
especial da França para o processo de paz no Médio Oriente.
É uma curiosa noção de "equilíbrio" nomear para tal missão a
directora de uma organização que é parte no conflito israelo-palestiniano. É
uma ambição curiosa para a França envolver o representante em França de uma
organização americana nas discussões com os Estados Unidos e a União Europeia.
É um conceito curioso quando a organização em questão se gaba de estar
comprometida com a potência ocupante, quando Telavive continua a ocupar os
territórios palestinianos, desrespeita os direitos humanos mais elementares e
planeia apenas a guerra contra aqueles que recusam curvar-se à sua dominação
colonial", argumentou a Association France Palestine Solidarité (AFPS), a
única organização francesa a protestar contra esta "parcialidade inaceitável".
A censura dissimulada parece estar generalizada em França quando se trata
de qualquer assunto relacionado com a Palestina.
Só em Dezembro de 2022, a Reitoria da Universidade de Aix Marselha e a
Câmara Municipal de Marselha, liderada pelo socialista Benoît Payan, proibiram
uma conferência da Amnistia Internacional subordinada ao tema "Israel, um
Estado de apartheid", tal como o Bispado de Versalhes.
O anti-semitismo e a judeofobia devem ser combatidos sem tréguas, com a
mesma vigilância e determinação que a palestinofobia, a mais recente patologia
contemporânea das democracias ocidentais.
A liberdade de expressão, fundamento da democracia, não pode constituir uma
forma de anti-semitismo. A menos que estejamos a caminhar para um sistema
totalitário, ninguém pode escapar à crítica.
Sobre a rede de radiodifusão externa de França, uma viagem acidentada, um sistema caótico e uma visão etnicista, ver estes links:
§ https://www.renenaba.com/le-pole-audiovisuel-exterieur-francais/
§ https://www.liberation.fr/societe/1999/06/28/grand-angle-l-honneur-perdu-de-jacques-taquet_274868/
A Palestina na memória dos povos combatentes
§ https://www.madaniya.info/2022/11/12/palestine-leurope-aux-abonnes-absents/
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis
Júdice
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