5 de Junho de
2023 Olivier Cabanel
OLIVIER CABANEL — Como todos sabemos, as centrais
nucleares necessitam de grandes quantidades de água para arrefecer os seus
reactores.
No entanto, o aquecimento mundial está a reduzir o
fluxo de água nos rios, o que coloca um problema aos operadores, uma vez que a
água libertada para o rio não deve ultrapassar os 28°.
É uma verdadeira dor de cabeça para quem gere as
centrais nucleares, porque são necessários 100 litros de água por cada
quilowatt produzido.
No Verão, a água é 1,5° mais quente, e o caudal dos
rios franceses baixou em média 50% em Setembro de 2008.
Outro problema é o desaparecimento de fornecedores de
peças qualificadas para as centrais eléctricas.
Um exemplo entre muitos: os cabos eléctricos
concebidos para funcionar em condições de acidente deixaram de ser fabricados.
"São necessários 4 a 5 anos para voltar a
fabricar este tipo de peças", admite Dominique Minière, presidente da SFRP
(Sociedade Francesa de Radioprotecção/EDF).
O principal problema continua a ser o tempo de vida
das centrais eléctricas: este foi fixado em cerca de 25 anos.
Actualmente, por razões de rentabilidade, fala-se em
prolongar esta vida útil.
Isto multiplica os riscos.
34 reactores (mais de metade do parque) são afectados
por este prolongamento de vida, uma vez que foram concebidos entre 1977 e 1987.
Os custos de manutenção dos 58 reactores ascendem a
mil milhões de euros por ano, e quanto mais antigo for o reactor, mais elevados
são os custos.
O custo do prolongamento da vida útil de toda a frota
de 25 para 40 anos está estimado em 3,4 mil milhões de euros.
Este ano tem início a inspecção decenal em Tricastin
(local dos repetidos acidentes ocorridos este Verão).
O reactor será encerrado durante 4 meses e a cuba do
reactor será inspeccionada.
No entanto, se a cuba apresentar uma deterioração
grave, a decisão de a substituir não será tomada, por razões óbvias de custo, e
a central será definitivamente encerrada, o que poria em causa o prolongamento
da vida dos outros 33 reactores.
Como se pode ver, a EDF está perante um dilema, pois
78% da electricidade consumida pelos franceses provém da energia nuclear,
metade da qual de centrais "antigas".
A solução EPR não resolve nada, porque o custo de cada
reactor está estimado em 3,3 mil milhões de euros, sem contar com as
derrapagens de custos previstas, se tomarmos como exemplo o EPR finlandês (+1,2
mil milhões).
Em 14 de Maio de 2008, o Wall Street Journal estimava
o preço de um reactor nuclear em 12 mil milhões de dólares, ou seja, 4 vezes
mais do que o estimado anteriormente, e isto antes da crise.
O EPR de Flamanville, avaliado em 3,3 mil milhões de
euros, está agora avaliado em 4 mil milhões de euros, mas, segundo o site bakchich.info, este valor está ainda muito subavaliado.
Para os alemães e italianos, a estimativa é de 5 mil
milhões de euros.
Quanto ao ITER, estima-se que o seu custo seja, pelo
menos, o dobro.
Actualmente, a EDF e a AREVA perderam cerca de 55% do
seu valor na bolsa desde 1 de Janeiro.
"Reactivar a cadeia de construção e o know-how das centrais nucleares
equivale a cinco vezes o custo do projecto do Airbus A380", afirma Dominique Finon, director-adjunto do
programa de energia do CNRS.
Será que isto significa que
estamos seguros?
Ao fim de apenas dez anos,
as paredes interiores de contenção de 24 das nossas centrais eléctricas
apresentam uma taxa de fugas anormal.
Mas Jean Pierre Hutin,
director dos programas de I&D da EDF, não se mostrou alarmado.
"Para restabelecer a estanticidade, basta
revestir as zonas fissuradas com resina", diz.
Excepto que, em alguns
casos, foi necessário cobrir um quarto da superfície com esta resina.
O que é ainda mais
preocupante são os resultados, no mínimo decepcionantes, de quase todos os
controlos de segurança, não anunciados ou mesmo anunciados.
Registou-se um atraso médio
de quase uma hora, quando deveria demorar pelo menos 15 minutos a ficar operacional.
Numa altura em que muitos
países se voltam resolutamente para soluções alternativas menos perigosas, é
lamentável ver a teimosia do Chefe de Estado em promover a sua querida (muito
querida) energia nuclear.
Como dizia um velho amigo
meu africano:
"O
fogo que te queima é também o fogo que te aquece".
Fonte: Centrales en danger – les 7 du quebec
Este artigo
foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice
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