sábado, 1 de abril de 2023

Especulações sobre o futuro multipolar após a guerra na Ucrânia... Unipolar!

 


 1 de Abril de 2023  Robert Bibeau  

por Régis Chamagne. Sobre A Guerra Real Revelada (reseauinternational.net)

Em 21 de Março de 2023, Vladimir Putin, na presença de Xi Jinping, revelou oficialmente a natureza da guerra com os Estados Unidos: "Somos a favor do uso do yuan chinês nos pagamentos entre a Federação Russa e países da Ásia, África e América Latina. »

Se Vladimir Putin diz isso agora, é porque as condições estão reunidas: diplomáticas, militares, económicas e financeiras.

Um pequeno lembrete

Resumidamente, lembremo-nos de que o poder americano repousa sobre o dólar como moeda de reserva mundial. Isso permite que os EUA alimentem o esquema Ponzi no qual o dólar repousa porque os países ao redor do mundo precisam de dólares para o seu comércio. A missão dos militares dos EUA é impor o dólar em todo o planeta e punir países recalcitrantes quando eles aparecem: a Líbia, por exemplo, que visava lançar uma moeda pan-africana atrelada ao ouro. O colapso do dólar será, portanto, o verdadeiro testemunho da mudança de paradigma geopolítico.

Pequena precisão

Para medir adequadamente o significado da declaração de Vladimir Putin, devemos ter uma coisa em mente: as declarações oficiais dos chefes de Estado geralmente não anunciam uma intenção, mas na maioria das vezes revelam um processo já iniciado e validado, elas evocam um facto consumado. Assim, se Vladimir Putin anunciou o fim da hegemonia do dólar, é porque o caso já vem acontecendo há algum tempo e está a chegar ao seu ponto crítico, onde a economia americana está em grande perigo. Tanto que a questão foi levantada recentemente na CNN; o economista convidado a debater a questão simplesmente disse que a desdolarização seria um desastre para os Estados Unidos e o povo americano, que levaria à hiperinflação nos Estados Unidos.

Além disso, além das explicações técnicas, o fracasso de alguns bancos americanos talvez seja apenas a antecipação do colapso mundial do esquema Ponzi.

Ponto da situação

No domínio financeiro, os EUA e a UE cavaram a sua própria sepultura, já em 2014, excluindo certos bancos russos do sistema de comércio interbancário SWIFT. Isso levou a Rússia e a China a desenvolver os seus próprios sistemas. Hoje, o CIPS chinês apoiará intercâmbios entre países fora do Ocidente. Mas o SWIFT não é apenas um sistema financeiro, é também, e talvez acima de tudo, uma valiosa ferramenta de inteligência, porque nos permite conhecer todo o comércio entre os países do mundo. Assim, as trocas económicas entre países fora do Ocidente tornar-se-ão cada vez mais opacas para os Estados Unidos e o Ocidente em geral. É uma confusão.

Em paralelo, o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) do BRICS, com sede em Xangai, foi oficialmente inaugurado em Julho de 2015. Dilma Rousseff acaba de ser apontada como sua líder. Todas as ferramentas estão, portanto, em vigor para o desenvolvimento do comércio não-dólar. Além disso, o banco central indiano agora permite pagamentos internacionais em rúpias indianas e a Arábia Saudita está a preparar-se para vender o seu petróleo à China em yuan; Este é o fim do petrodólar... rei.

No campo diplomático, as coisas estão a acelerar-se e os eventos estão a vir um após o outro. Vamos citar o mais recente, que remonta a menos de um mês:

§  Restauração das relações diplomáticas entre o Irão e a Arábia Saudita, sob a égide da China.

§  Recepção de Bashar al-Assad por Vladimir Putin em Moscou. A este respeito, será necessário monitorizar as operações na Síria e o destino das instalações militares dos EUA aí.

§  Bashar al-Assad e a sua esposa viajam para os Emirados Árabes Unidos.

§  Assinatura de um acordo de cooperação em segurança entre o Irão e o Iraque para acabar com as actividades curdas apoiadas pela CIA.

§  Recepção de Xi Jinping por Vladimir Putin em Moscovo.

§  Recepção de Luiz Inácio Lula por Xi Jinping em Pequim durante cinco dias.

§  Fórum Rússia-África em Moscovo com líderes africanos.

Esta sequência diplomática vem depois de um ano de grande agitação do mundo. Gradualmente, os países não alinhados passaram de uma postura de neutralidade benevolente para o apoio implícito (para dizer o mínimo) à Rússia, como evidenciado pela rejeição da África aos países ocidentais e pelo recente fórum Rússia-África. Mas, acima de tudo, as duas organizações nas quais se baseia o novo paradigma geopolítico emergente, a Organização de Cooperação de Xangai (OCS) e os BRICS, estão a atrair cada vez mais.

Lembre-se de que a OCS tem a forma de uma boneca russa (matriosca - NdT), com os países membros no primeiro círculo, os países observadores no segundo e os países parceiros de discussão no terceiro círculo. A reunião de Samarcanda, em 15 e 16 de Setembro de 2022, foi uma oportunidade para esclarecer as obrigações do Irão de se juntar à organização, lançar o processo de aprovação da Bielorrússia como Estado-membro e concordar em tornar o Egipto, a Arábia Saudita, o Catar, o Bahrein, as Maldivas, os Emirados Árabes Unidos, o Kuwait e Mianmar novos parceiros de discussão.

Quanto aos BRICS, sob a iniciativa chinesa do formato "BRICS Plus" em Maio de 2022, a organização poderá abrir as suas portas mais facilmente para futuros membros. Actualmente, existem quatro pedidos oficiais: Argélia, Argentina, Irão e México; países que têm todos algum peso regional. Há também muitas manifestações de interesse, ainda não oficiais: Arábia Saudita, Turquia, Egipto, Indonésia, Afeganistão, Paquistão, Cazaquistão, Nicarágua, Nigéria, Senegal, Tailândia, Emirados Árabes Unidos, Bangladesh, Filipinas, Vietname, Coreia do Sul.

Estamos a testemunhar a mudança do mundo em direcção a esse novo paradigma geopolítico que está a ser implementado cada vez mais rapidamente e concretamente.

Operações militares em apoio

No meu artigo anterior, mencionei a possibilidade de pelo menos duas opções estratégicas para a Rússia na sua guerra na Ucrânia. Parece razoável hoje pensar que Vladimir Putin, com o apoio da China e outros, optou pela opção predominantemente económica de estrangular os países ocidentais, estando a acção militar ao serviço do "empurrão dominante".

Visto a esta luz, a estratégia e táctica russas na Ucrânia assumem um significado diferente. Trata-se de prolongar a guerra através de uma táctica lenta mas contínua de mordiscar, destruindo os sucessivos exércitos criados pela Ucrânia e pela OTAN até o Ocidente se esgotar, económica e consequentemente militarmente.

A este respeito, vamos citar Yevgeny Prigogin, que disse em 28 de Novembro de 2022: "A nossa tarefa não é a própria Bakhmut (Artyomovsk), mas a destruição do exército ucraniano". A palavra "tarefa" é importante porque significa claramente que a Wagner tem uma missão específica, portanto, em coordenação com o Estado-Maior russo.

Por terem feito de Bakhmut-Artyomovsk um objectivo estratégico a nível militar, mas acima de tudo simbólico, os russos atraem unidades ucranianas que, desprovendo outras partes da frente, estão a ser esmagadas uma após a outra. A manutenção de 600.000 soldados ao longo da linha de frente também oferece a possibilidade de ofensivas estratégicas em vários lugares, portanto, uma ameaça permanente que representa uma dor de cabeça para o Estado-Maior da OTAN.

Juntamente com essa estratégia de desgaste e exaustão, a Rússia afirma a sua superioridade tecnológica usando, com moderação e sabedoria, mísseis hipersónicos, a fim de dissuadir os países da OTAN de dar o passo longe demais. Uma salva recente de seis mísseis, um dos quais supostamente destruiu uma sede secreta da OTAN nos arredores de Kiev, entrega uma mensagem clara: seis mísseis hipersónicos são suficientes para enviar seis porta-aviões dos EUA para o fundo simultaneamente.

O que vem a seguir?

Virtualmente, a Rússia já venceu os EUA e a OTAN. O surgimento de um mundo multipolar acelerou consideravelmente num ano, particularmente nas últimas semanas, e está a tornar-se uma realidade diante dos nossos olhos. O colapso do dólar está em andamento e podemos prever uma sucessão de falências dos bancos ocidentais, bem como hiperinflação no curto prazo.

No terreno, a Rússia vai reintegrar a Novorrússia na sua federação. Como? Ou por uma rápida ofensiva militar, uma vez que o exército ucraniano esteja completamente exausto, ou durante as negociações em que imporá as suas condições.

Do lado do velho mundo, a queda do dólar provocará um colapso dos padrões de vida nos Estados Unidos, tanto que nos perguntamos se a União sobreviverá a esse choque e, pelo efeito dominó, a uma queda das economias ocidental e europeia. Assistiremos ao desmantelamento da NATO e da UE e a fenómenos insurreccionais, não necessariamente violentos, que conduzem a uma mudança de regime.

Esta será uma oportunidade para a França recuperar a sua soberania e o seu lugar no mundo, se o novo regime for digno disso.

fonte: Régis Chamagne

 

Fonte: Spéculations sur le futur multipolaire après la guerre d’Ukraine…unipolaire! – les 7 du quebec

Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice




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