2 de Agosto
de 2023 Robert Bibeau
CAPÍTULO 5: AS CONDIÇÕES DA REVOLUÇÃO PROLETÁRIA
Por Robert Bibeau e Khider Mesloub.
A Parte 1 deste volume está aqui: https://queonossosilencionaomateinocentes.blogspot.com/2023/06/da-insurreicao-popular-revolucao.html
Parte 2 deste volume está aqui: https://queonossosilencionaomateinocentes.blogspot.com/2023/07/da-insurreicao-popular-revolucao.html
A Parte 3 deste volume está
aqui:
https://queonossosilencionaomateinocentes.blogspot.com/2023/07/da-insurreicao-popular-revolucao_19.html
A parte 4 deste volume está aqui:
https://queonossosilencionaomateinocentes.blogspot.com/2023/07/da-insurreicao-popular-revolucao_27.html
Sem teoria revolucionária não pode haver
revolução proletária...
Sem revolução proletária nenhuma teoria revolucionária
64. Em qualquer modo de produção, quando as
relações sociais de produção impedem o desenvolvimento dos meios sociais de
produção, especialmente das forças produtivas vivas (força de trabalho
proletária), é porque esse modo de produção em crise sistémica teve o seu tempo
e que está a ser preparada uma revolução social e económica.
tag.
65. A teoria revolucionária não precede a
prática revolucionária. É no cadinho quotidiano da luta de classes
revolucionária que os princípios e regras da teoria revolucionária internacionalista
proletária são forjados, experimentados, temperados e verificados. A prática
precede a teoria e valida-a.
tag.
66. Toda revolução social é um processo pelo
qual a classe portadora das novas relações sociais de produção – que libertará
os meios de produção e as forças produtivas – estabelece o seu domínio económico,
político, social e ideológico sobre toda a sociedade. A revolução proletária
não escapará a este princípio, mas os seus factores de realização e conteúdo
serão diferentes das revoluções sociais anteriores. As revoluções sociais
anteriores (da escravidão ao feudalismo e do feudalismo ao capitalismo) estavam
na encruzilhada de dois modos de produção dominados pela escassez e
essas revoluções (feudal e depois burguesa) tinham a função de substituir a
dominação de uma classe exploradora – a nobreza – pela dominação de outra
classe exploradora – a burguesia – encarregada de resolver a contradição
fundamental do sistema anterior e estabelecer um novo modo de uma produção
eficiente baseada em duas novas classes antagónicas e interdependentes
(burguesia e proletariado).
tag.
67. No entanto, o objectivo da revolução
proletária será substituir relações de produção baseadas na escassez (relativa)
por relações de produção baseadas na abundância. É nisto que porá fim a todas
as formas de propriedade, privilégio e exploração de classe, porque se tornou
inútil assegurar a reprodução da humanidade (1).
tag.
68. Estas diferenças conferem à revolução
proletária as seguintes características:
A) Será uma revolução social de dimensão mundial que só poderá atingir os
seus objetivos se se realizar no momento em que o velho modo de produção decadente tiver
atingido o seu pleno desenvolvimento económico, no momento em que já não lhe será
possível conter mais capital valioso e forças produtivas exploráveis com lucro
(produção de mais-valia). Marx sublinhou que um modo de produção – uma formação
social – não desaparece... «nunca antes de se desenvolverem todas as forças produtivas que é
suficientemente grande para conter» (2). Lenine retomou este axioma marxista neste escrito: "O
socialismo é impossível sem a técnica da grande indústria capitalista, uma
técnica organizada de acordo com a última palavra da ciência moderna; é impossível sem uma
organização metódica regulada pelo Estado e que imponha a dezenas de milhões de
homens a estrita observância de um padrão único na produção e distribuição dos
produtos. Nós, marxistas, sempre dissemos isso; Quanto às pessoas que não
compreenderam sequer esta verdade (como os anarquistas e uma boa metade dos
socialistas revolucionários de esquerda)..." (3). A revolução proletária só pode,
portanto, ocorrer quando o modo de produção capitalista atingiu o estágio
imperialista decadente, ou seja, o estágio em que não pode mais valorizar,
reproduzir ou acumular mais capital. O capitalismo atingiu hoje este limite
sistémico e apela à revolução proletária para libertar a humanidade.
B) Será a primeira revolução que só poderá atingir os seus objectivos generalizando a todos os países – a mais ou menos longo prazo – uma vez que, abolindo a propriedade, a revolução proletária terá de abolir todas as leis, fronteiras e quadros jurídicos e administrativos sectoriais, regionais, nacionais e internacionais burgueses que estruturam e impõem o poder do capital internacional.
C) Pela primeira vez na história, a classe revolucionária será a velha classe
explorada no modo de produção anterior. A classe revolucionária proletária não
poderá contar com a sua riqueza acumulada ou com o poder económico na sua
conquista do poder político. A classe proletária não terá nenhum interesse
económico específico a defender, a não ser o interesse da humanidade a
perpetuar. Será a primeira revolução na história em que a tomada do poder
político precederá a tomada da economia social, daí o seu nome de economia
proletária internacionalista.
D) Pela primeira vez, a classe revolucionária dominante e dirigente será a classe explorada. Isto implica que a luta como classe alienada que luta pela sua emancipação não pode, de forma alguma, ser dissociada da luta como classe revolucionária. Como o marxismo sempre afirmou contra as teorias socialistas utópicas e reformistas pequeno-burguesas, o desenvolvimento da luta revolucionária é condicionado pelo aprofundamento e generalização da luta de classes do proletariado internacional.
tag.A insurreição será proletária, a revolução proletária será internacionalista
69
No decurso deste movimento, que vai
desde revoltas populares espontâneas, em muitos países e regiões ao mesmo
tempo, à insurreição globalizada, à revolução proletária internacionalista e,
depois, à consolidação da ditadura mundial do proletariado (não a ditadura de
um aparelho partidário burocrático), o papel impulsionador e dirigente da
classe proletária irá gradualmente impor-se – distanciando-a de todos os
contaminantes pequeno-burgueses. camponeses, populistas, cidadãos,
comunitaristas e comunalistas, e outras denominações por trás das quais a
esquerda burguesa esconde as classes pseudo-revolucionárias e fragmentos de
classe que procuram desviar a revolução para que ela sirva aos seus interesses
e não aos da classe proletária revolucionária. Lenine escreveu textos
importantes sobre a necessidade absoluta de nunca ligar a Revolução Bolchevique
à carruagem do campesinato russo ou da pequena burguesia menchevique.
"Numa perspectiva revolucionária, o proletariado como um todo, e no
primeiro escalão as suas grandes concentrações, continua a ser a única força
social capaz, pelo seu papel central nas relações de produção, de unificar as
reivindicações sectoriais ou categóricas de outras camadas sociais, de as
impedir de degenerar em revoltas empresariais, de as dirigir para o caminho da
luta pelo poder e da tomada em mãos da produção pelos próprios produtores
[...]. As explosões operárias existem, repetem-se, e o capitalismo não consegue
evitá-las há mais de um século. Trata-se de um facto obstinado, cujo retorno
está inscrito na própria estrutura das relações de produção capitalistas. A
partir daí, a questão não é desesperar porque a classe operária não é quotidianamente
revolucionária, mas procurar em que circunstâncias excepcionais pode tornar-se
revolucionária, como se preparar para ela e contribuir para ela." (4)
70. Para identificar as condições da
revolução proletária, é necessário especificar as condições de evolução do modo
de produção capitalista (MPC) e nunca esquecer que em tempos normais a instância
económica da luta de classes é dominante, enquanto no contexto de crise insurreccional
as autoridades ideológicas e políticas podem ser decisivas. Não se tornam
tão mecânica ou espontaneamente. É no plano da consciência revolucionária da
classe proletária "para si", combinada com a existência de
organizações revolucionárias – possivelmente agrupadas num partido político de
classe internacionalista – que depende esta evolução da insurreição
desorganizada através da luta de resistência na instância económica
espontânea para a luta revolucionária de classe consciente
visando a conquista do poder político primeiro, económico depois e ideológico
finalmente.
tag.
71. É com um contra-exemplo –
retirado da obra de um intelectual
de esquerda – que continuamos este estudo das condições necessárias para uma
insurreição proletária espontânea e para uma revolução proletária consciente e
bem-sucedida para a construção de um novo modo
de produção. Refutamos o argumento revisionista de que:
" O modo de produção "puro", tal como Marx o
construiu a partir da formação social inglesa do século XIX não existe na
realidade. Constitui um objecto abstrato formal, um arquétipo com o qual
nenhuma formação social concreta coincide. E por uma boa
razão, Nicos Poulantzas considera no seu
livro Poder Político e Classes Sociais uma formação social como "a sobreposição específica de
vários modos de produção 'puros'". Nicos Poulantzas
acrescenta: "A própria formação social constitui uma unidade
complexa dominada por um modo de produção sobre os outros que a compõem". (...) "A crise revolucionária que
estamos a estudar não é, portanto, a crise de um modo de produção, porque entre
modos de produção há transformação e não crise (sic). A única crise que pode
ser discutida é a de uma determinada formação social onde as contradições do
modo de produção ganham vida e se actualizam através das forças sociais reais
nelas envolvidas. Toda a história é feita de acções de personalidades que são
forças actuantes (sic)" (5).
Quando uma formação social – produto de um modo de produção dominante –
constitui, como escreve este autor, "a sobreposição específica de vários
modos de produção – uma unidade complexa e dominante (...)" é porque este modo de produção capitalista (MPC), nesta
formação social burguesa específica, ainda não atingiu o seu estágio supremo –
imperialista "puro" e decadente – neste momento em que nenhuma solução
emerge dessa ganga económica, Pútrido, social, político e ideológico (cultura,
moralidade, etc.) que só encontra a sua "salvação" na sua auto-destruição
assassina. Por outras palavras, isto significa que a primeira e a segunda
condições fundamentais para uma revolução proletária bem sucedida não estão
preenchidas.
.
72. No que diz respeito ao papel das
"personalidades revolucionárias, forças activas (...)", nós,
proletários revolucionários, afirmamos que as personalidades são forjadas e
colocadas na vanguarda do movimento social na medida em que correspondem às
necessidades das tarefas históricas da época. Não são os partidos políticos nem
os líderes carismáticos e populistas que forjam a história das classes sociais,
são as classes sociais que moldam os seus líderes de acordo com as necessidades
e contingências do momento histórico... caso contrário, as massas repudiam-nos.
.
A contradição fundamental conduz à crise
económica que conduz à insurreição popular
73. O desenvolvimento sistémico e
sistemático do modo de produção capitalista «puro» implica o desenvolvimento
total da principal contradição do MPC, a saber, a contradição entre capital e
trabalho, a contradição entre a classe burguesa e a classe proletária, a
contradição entre a propriedade privada dos meios de produção e de troca e as
forças sociais produtivas. Esta contradição empurra o sistema capitalista para
a frente e dá-lhe vida e movimento até ao dia em que o capital deixa de
preencher as condições para a sua valorização – para a sua reprodução alargada
– daí a impossibilidade de se realizar como lucro capitalista. O capital
desvalorizado – não enriquecido pela mais-valia – é capital morto e é
capitalismo moribundo, formação social "pura" em putrefação
degenerativa. A isto chama-se crise económica sistémica do capitalismo na fase
imperialista.
.
74. A incapacidade do modo de produção
capitalista de realizar o seu ciclo de reprodução leva as forças do capital a
imaginar soluções falsas como a propagação do crédito em abundância (ver Quadro
2); emitir uma quantidade de dinheiro aberto sem valor (ver https://queonossosilencionaomateinocentes.blogspot.com/2023/07/o-colapso-do-sistema-economico-mundial.html
), e impor (ou ter imposto através de governos subservientes) medidas de
austeridade, programas, políticas a fim de modificar a distribuição do capital
entre a aquisição da força de trabalho viva necessária (salários) e a
"remuneração" do capital (lucro). Sabendo que as despesas do Estado
burguês são essencialmente despesas destinadas a assegurar as condições para a
valorização do capital, é todo o orçamento do Estado que é mobilizado por estas
medidas de austeridade generalizada que é necessário contestar. O tempo muito
curto do Estado social teve o seu dia – este é o tempo do Estado
policial e da austeridade que criará as condições para a insurreição
proletária espontânea.
.
75. Aqui está em ordem uma explicação. Todos
terão observado os movimentos de protesto e manifestações populares que se
multiplicam e ganham força, como os movimentos de estudantes, trabalhadores
empobrecidos, desempregados negligenciados, beneficiários de assistência social
pobres e abandonados, migrantes, fome e miséria, expatriados e refugiados de
guerras imperiais genocidas, agricultores empobrecidos, camponeses sem terra,
de trabalhadores do serviço público demitidos, ecologistas utópicos, feministas
e pequeno-burgueses a caminho de uma proletarização acelerada, de meios
burgueses falidos, e assim por diante. Estes movimentos de protesto são
necessários, mas insuficientes. Enquanto a classe proletária como classe
consciente "para si" não se tiver posto em marcha para a defesa das
suas condições de vida e de trabalho; Enquanto a classe proletária não tiver
unido forças em vastos movimentos de greve geral, nada sairá de toda esta
agitação que os comunistas não devem tentar liderar. A classe proletária
revolucionária só está interessada nas actividades revolucionárias da sua
própria classe e não em federar e "unificar as exigências sectoriais ou
categóricas de outras camadas sociais (para) evitar que degenerem em revoltas
corporativas (...)", que essas reivindicações (corporativistas) são-no
desde o início e não pode ser de outra forma. Todos estes movimentos de
protesto a nível local, nacional e até internacional (Ocupados, Indignados,
Praças Vermelhas, Coletes Amarelos, etc.) são úteis na medida em que
criam certas condições para a insurreição proletária que se avizinha e que
agora examinaremos.
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76. Ao contrário do que afirmam os
economistas da esquerda académica, sindical e populista, não é importante para
o bom funcionamento do regime capitalista monopolista que o poder de compra dos
assalariados seja minado pelos cortes nos salários directos pagos aos
trabalhadores e pelas restricções impostas pelo Estado burguês às
transferências sociais. e reduzir os gastos do governo com bens e equipamentos.
O Estado poderia facilmente enviar um cheque multibilionário directamente aos
banqueiros e o capital realizaria o seu lucro. Basta pensar que, durante a
crise do "subprime" e dos derivados do mercado bolsista nos
Estados Unidos em 2008 e 2009, o governo norte-americano não pagou os seus
créditos e subsídios aos pequenos proprietários de casas para que estes
mantivessem o seu poder de compra e pagassem as suas hipotecas em atraso. O
governo dos EUA pagou milhares de milhões de dólares directamente a bancos,
trusts e grandes corporações industriais multinacionais e, assim, conseguiu
estancar temporariamente a hemorragia dos lucros. O mesmo se aplica à crise da
dívida soberana e à crise da dívida privada que estão a pesar sobre toda a
economia imperialista globalizada e mundializada. Se não fosse o capital
internacional a deixar de ser capaz de se valorizar, todas estas dívidas
combinadas poderiam muito bem continuar a acumular-se sem que o sistema
económico e social capitalista entrasse em colapso. É quando um modo de
produção já não consegue reproduzir-se – quando, pelo seu funcionamento
natural, caminha para a sua paralisia degenerativa que a situação de crise
endémica assume proporções pandémicas. É então que um modo de produção já não
cumpre a sua missão de reprodução da espécie e que deve desaparecer.
.
77. Todas essas dívidas acumuladas, esse
crédito gigantesco e insolvente, não têm importância do ponto de vista da
reprodução ampliada do modo de produção capitalista. Nenhuma importância no
sentido de que não é determinante, não constitui a essência do sistema. Este
crédito – este nada de valor de uso – é apenas um indicador do nível de
paralisia a que chegou o sistema financeiro que deveria regular o funcionamento
de todo o sistema de reprodução e acumulação expandida de capital. Ninguém
identificou um limiar numérico de endividamento para além do qual um sistema
financeiro entra em colapso. Quando chegar o dia, o capital internacional
apagará essa dívida sobrestimada com uma canetada, como fez a Alemanha em
1923-1924, quando o Império Alemão desvalorizou o marco (6). O mesmo se aplica
ao franco francês em 1945-1948 e 1949 (7).
.
78. Isto significa que a primeira e mais
importante das condições necessárias da insurreição proletária foram
adquiridas... a existência de um proletariado mundial inflaccionado e de uma
crise económica desastrosa. Que os esquerdistas empolgados parem de mexer como a
mosca do porco em torno da equipa proletária – a tempestade acabou e o navio
burguês está a ir directo para ela. Temos de abandonar esta agitação infantil –
estas manifestações, muitas vezes inúteis, para denunciar isto e indignarmo-nos
com isso, para assinar petições contra a pobreza e para nos ofendermos com a
injustiça dos ricos, para denunciar a evasão fiscal e a concentração da riqueza
nas mãos de plutocratas condescendentes. Que a pequena burguesia lute para
realizar esses protestos reformistas implorando justiça ao Estado dos ricos.
Enquanto o faz, a pequena burguesia dá-se importância e crê-se numa posição
vantajosa para o próximo caos dos pobres. Se a pequena burguesia é uma
subclasse numericamente importante sob o modo de produção capitalista na sua
fase imperialista, é também uma subclasse destinada a definhar à medida que a
crise sistémica se aprofunda, o que o pequeno-burguês percebe confusamente, e
ele está indignado, aquele que tem uma estima tão grande pela sua pessoa. Não
compreende que os políticos e as suas milícias não se apercebam do seu mérito e
do seu poder de incómodo que já manifestou durante os acontecimentos de Maio-68
na Europa (8). (Ver resultados da pesquisa para "Maio de 68" – Les 7 du
Quebeque e também o Maio de 68, movimento
proletário internacional ou revolta pequeno-burguesa? – Les 7
du Quebeque e https://queonossosilencionaomateinocentes.blogspot.com/2023/05/como-e-que-historiografia-oficial-do.html
).
.
79. Assim, o modo de produção capitalista,
na sua fase imperialista, continua a sua descida ao inferno impulsionado pela
tendência de queda da taxa média de lucro e, ao contrário da mística veiculada
pela pequena burguesia de esquerda e de direita, nenhum Estado-nação pode
inverter esta tendência inscrita nos genes do modo de produção capitalista.
(Ver: QUESTÃO NACIONAL
E REVOLUÇÃO PROLETÁRIA SOB O IMPERIALISMO – Les 7 du Quebec – ver PDF
com a versão em língua portuguesa). O Estado burguês não pode ser o meio de
solução para a crise sistémica do capitalismo e das suas políticas de
austeridade porque o Estado burguês não pode ser senão o organizador e
administrador da reprodução do capital, assegurando em primeiro lugar a
reprodução da força de trabalho. Um organizador cada vez mais essencial como o
desenvolvimento caótico do sistema. Pior, qualquer fortalecimento do papel do
Estado-nação burguês só pode ser um fortalecimento da espoliação dos operários
dos meios da sua existência, um fortalecimento da ditadura burguesa e o domínio
sobre eles do capital estatista e privado e seus representantes, fantoches
políticos que Marx chamou de "os funcionários do capital".
Porque só aprovam e fazem cumprir leis que facilitam a exploração e a
espoliação. Esta mística utópica faz-se sob os gritos de "democracia
participativa, cidadã, laica e republicana no e pelo Estado sagrado através dos
nossos valores nacionais colectivos" (sic) e outros disparates
demagógicos do mesmo género. Este estatismo fascista que sobrevoa as lutas de
classes não é fruto do acaso, manifesta uma tendência para o totalitarismo
inerente à própria essência do Estado burguês sobre o qual repousa o destino da
pequena burguesia perturbada e o destino da grande burguesia desesperada nesta
época em que o imperialismo atingiu a sua plena maturidade e se sente ameaçado
(9).
tag.
A Terceira Condição da Revolução
Proletária
80. A contradição fundamental de o modo de
produção capitalista estar plenamente desenvolvido como examinamos
anteriormente, a classe capitalista mundial não encontrará outro meio de
sobreviver senão envolver-se em guerras pela partilha de zonas de influência,
pela partilha de sectores de recursos, zonas de exploração do trabalho e pela
partilha de mercados. Para que cada uma das alianças imperialistas concorrentes
espere reavivar o processo de reprodução ampliada do seu capital. Estas guerras
de pilhagem serão travadas primeiro à margem das zonas de influência de cada
uma das alianças, nos Balcãs, no Cáucaso, na Ucrânia, na Ásia Central, no Médio
Oriente e em África para uma das alianças; Nicarágua, Venezuela, Colômbia,
Equador, Bolívia, Brasil, África, Nepal, Vietname, Mianmar, Coreia e Mar da
China para a outra aliança. O mundo vive sob esta conjuntura de guerras locais
mais ou menos latentes, mais ou menos controladas desde o fim da Segunda Guerra
Mundial (observamos nada menos que uma centena de guerras locais entre 1945 e
2023). Depois, as condições de reprodução e acumulação de capital deterioram-se
ainda mais, uma vez que estas guerras genocidas em nada farão para reavivar a
valorização do capital, as várias alianças imperialistas virão a confrontar-se
directamente, será a Terceira Guerra Mundial que forjará a terceira condição
objectiva para a eclosão da insurreição proletária.
tag.
A revolução impedirá a guerra ou a
guerra conduzirá à revolução
81. Ao longo do último século, os comunistas
esperaram que a revolução proletária pudesse impedir a eclosão de uma guerra
mundial e ficaram duas vezes desapontados. É difícil admitir, mas apenas a
angústia causada por uma guerra mundial assassina – genocida – apocalíptica –;
O empobrecimento da classe operária e das massas camponesas nos países
subdesenvolvidos – a destruição dos meios de produção – o deslocamento das
relações sociais burguesas de produção convencerá o proletariado, tantas vezes
enganado e traído, tantas vezes desprezado, tão profundamente alienado a
apresentar-se no palco da história para impor a sua alternativa revolucionária
à depredação capitalista.
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82. As organizações da esquerda e da direita
burguesas não têm controle sobre o processo espontâneo de insurreição
proletária. A responsabilidade dos proletários revolucionários, rejeitando a
bolchevização das suas organizações, o sectarismo e o dogmatismo que o
acompanha, e respeitando o direito de fracção dentro das organizações; será
compreender o processo insurreccional espontâneo e desordenado, apreciar
adequadamente o seu desenvolvimento e, no momento oportuno, propor uma direcção
revolucionária através de palavras de ordem apropriadas. Acima de tudo, nenhuma
palavra de ordem reformista como farão dezenas de organizações da esquerda
burguesa oportunista entusiasmadas com a ideia de partilhar o prato de manteiga
do poder burguês "reformado".
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83. Lenine teve que resignar-se ao
compromisso de palavras de ordem reformistas como o slogan "Pão, Paz
e Terra", porque a maior parte das forças revolucionárias
bolcheviques eram muzhiks, pequenos burgueses, oficiais do exército e
funcionários do Estado. Em 1917, o proletariado russo, uma minoria, carecia de
experiência e maturidade revolucionária. Tal compromisso seria inadequado nas
condições da próxima insurreição proletária. Seria um crime e uma traição à
revolução.
.
84. A próxima insurreição proletária mundial
não ocorrerá nas condições de um modo de produção em transição entre o
feudalismo camponês e o capitalismo. A próxima insurreição proletária
espontânea terá lugar nas condições extremas do imperialismo decadente, moribundo
e desesperado.
tag.
Guerra Mundial, depois insurreição
proletária internacional
85. A guerra mundial imperialista é,
portanto, uma condição da crise que provocará as revoltas sociais, que por sua
vez desencadearão a insurreição popular, que esperamos que provoque o advento
da revolução proletária internacionalista. Esta é a ordem para o
estabelecimento da revolução mundial e esta é a terceira condição para uma
insurreição proletária bem-sucedida, transformando-se de revoltas localizadas
em revolução proletária planetária.
tag.
86. A sociedade de transição entre o modo de
produção capitalista e o modo de produção comunista não pode ser construída num
ou em alguns países isolados, como demonstra o fracasso do "campo
socialista". Essa construção terá que ocorrer sob a ditadura do
proletariado num grande número de países simultaneamente, caso contrário os
capitalistas travarão guerras de agressão contra a jovem entidade proletária ou
entidades ainda instáveis e desorganizadas. Mas como transformar uma insurreição
proletária espontânea e globalizada numa revolução proletária internacional?
tag.
87. Já vimos anteriormente que este cenário
revolucionário foi realmente realizado em 1917 como parte da Revolução
Bolchevique que atingiu todas as Rússias. No entanto, esta Revolução não foi
uma Revolução proletária comunista, porque a insurreição popular que a precedeu
se baseou na classe camponesa em revolta. A primeira condição fundamental de
uma revolução proletária mundial é que ela provém de uma insurreição que, se
não é proletária no início, depois se torna proletária, é cooptada por outras
classes ou segmentos de classes sociais não revolucionários, interessadas
apenas em defender os seus interesses particulares. O Partido Bolchevique
substituiu a classe proletária e impôs a ditadura partidária para levar a cabo o
derrube do Estado feudal czarista. Provou assim a impossibilidade de impor a
revolução anti-capitalista a uma sociedade ainda não firmemente comprometida
com o caminho do capitalismo monopolista na fase imperialista.
tag.
88. Quem diz classe proletária pensa no modo
de produção capitalista Estado monopolista amplamente desenvolvido,
produtivista, moderno, mecanizado, digitalizado, informatizado, de altíssima
produtividade, globalizado e interdependente em todo o mundo num processo de
desenvolvimento desigual (de um país para outro) e combinado (de um sector
económico para outro, de uma zona industrial para outra). Em suma, a classe
proletária é a classe social que expressa pelo seu desenvolvimento
internacional o nível de desenvolvimento do capitalismo na sua fase
imperialista decadente. Marx explicou que, sob o capitalismo, as duas classes
sociais antagónicas – proletariado e burguesia – estavam intimamente ligadas
uma à outra na fase ascendente – durante a fase do clímax – e na fase
declinante – imperialista – do modo de produção capitalista. Os ideólogos
marxistas acrescentavam que apenas a classe proletária desenvolvida, moderna,
educada e treinada, consciente e combativa seria a classe social total e
plenamente revolucionária até o fim. Os muzhiks russos analfabetos, os
camponeses analfabetos dos campos de arroz da China, do Vietname, do Camboja,
os camponeses famintos das terras altas do Nepal, os fellahs egípcios
empobrecidos, os pastores tuaregues do Sahel, os agricultores indianos
empobrecidos, os camponeses sem terra de Cuba ou da Amazónia, etc., não podem,
de forma alguma, desencadear uma insurreição proletária mundial.
tag.
A Quarta Condição para uma Revolução
Proletária Comunista
89. A crise económica sistémica, as guerras
genocidas e a guerra nuclear generalizada, a insurreição popular espontânea,
resultarão, como escreveu Lenine, "na impossibilidade de as classes
dominantes manterem o seu domínio de forma inalterada [...] dando a entender
que a base (social) não quer mais viver como antes e que a alta [burguesia] não
pode mais fazê-lo." Além disso, "o agravamento, mais do que
habitual, da miséria e da angústia das classes oprimidas conduzirá mais do
que o habitual a revoltas populares em série. Daí a acentuação da actividade
popular das massas" e possivelmente a revolução proletária consciente
para a construção do modo de produção comunista (10). Todos
terão notado que Lenine indica "as classes dominantes" e as
"classes oprimidas", no plural, precisamente porque o partido
bolchevique estava a tentar liderar uma revolução proletária numa sociedade em
transição entre o antigo modo de produção feudal (nobreza contra servos) e o
novo modo de produção capitalista (burguesia contra proletariado). As próximas
grandes vagas de insurreições populares que gradualmente se transformarão em
revoluções proletárias não terão lugar nestas complicadas condições económicas
e sociais.
tag.
90. A lamentável experiência de conluio sob
a forma de "frentes unidas" interclasses entre segmentos da burguesia
dita "democrático-liberal" (sic) e da classe proletária (da Frente
Popular à Segunda Guerra Imperialista, passando pela Guerra Espanhola
burguesa-republicana e pela Guerra Popular (camponesa) na China) ensinou-nos a
rejeitar este tipo de compromisso oportunista em que a classe proletária se
coloca ao serviço de uma parte do totalitário burguês liberal" – para
ajudá-la a impor a sua hegemonia sobre os outros fragmentos da burguesia
totalitária "não liberal" (sic) e impor a sua dominação a toda a
classe operária, esta última servindo apenas como carne para canhão nesse
mercado de tolos frentistas. Nenhum sindicato "interclassista antagónico"
se sustenta. Todos os segmentos da burguesia são iguais, durante as eleições
burguesas "democráticas"; perante os seus banqueiros arrependidos;
diante dos seus oficiais para esmagar o proletariado revoltado.
tag.
91. A reciprocidade destas premissas é
óbvia: quanto mais o proletariado agir com determinação e confiança, guiado por
palavras de ordem relevantes e revolucionárias (sem compromisso), mais terá a
oportunidade de atrair sob a sua direcção as camadas intermédias da classe
dominante isolada e desmoralizada. Por outro lado, a desintegração dos
aparelhos de governação capitalista (de que o Estado burguês é a peça central)
é obrigatória, daí a necessidade de os proletários revolucionários rejeitarem
qualquer recurso, qualquer apelo ao reforço das leis e da governação do Estado
burguês, ou a favor da dissolução desta ou daquela aliança. Não estamos a lutar
para tirar este ou aquele país desta ou daquela aliança imperialista. Estamos a
lutar para esmagar todas as alianças imperialistas (atlânticas, ocidentais, pacíficas
ou orientais). (Veja: https://queonossosilencionaomateinocentes.blogspot.com/2023/07/da-nato-aos-brics-passando-pela-ocs-o.html
e
https://queonossosilencionaomateinocentes.blogspot.com/2023/07/isto-e-nato-sua-historia-sua-razao-de.html
). Esta é a razão pela qual os proletários
revolucionários não participam em comícios para exigir que o Estado burguês
saia da NATO, fortaleça o Estado nacional burguês, abandone o Euro ou o NAFTA,
e não assinamos petições para exigir a clemência do Estado e o reforço das
chamadas medidas de "segurança", na realidade medidas de terrorismo
de Estado. O Estado burguês é a fonte de todas as inseguranças contra o povo e
de todas as formas de terrorismo de pequena e grande escala.
tag.
Sem um partido proletário revolucionário
nenhuma revolução proletária
Sem revolução proletária nenhum partido proletário revolucionário
92. Alguns marxistas
"bolcheviques" consideram "o partido revolucionário" como a
principal condição para a conquista do poder pela classe proletária... "O
partido revolucionário como vanguarda unida e temperada da classe
proletária", ou um agrupamento de organizações proletárias
revolucionárias, terá a tarefa de assegurar que a classe proletária tome plena
consciência de sua missão histórica, que não é corrigir as injustiças do
capitalismo, nem parar a destruição ecológica do planeta, mas criar um novo
modo de produção – comunista – que pare a destruição do capitalismo. planeta.
Quanto a Lenine, ele faz dessa condição o ponto de diferenciação entre a
revolução proletária comunista e a crise revolucionária insurreccional sem
futuro: "A revolução não surge de todas as situações revolucionárias,
mas apenas no caso em que, a todas as mudanças objectivas elencadas, se
acrescenta uma mudança subjetiva, a saber: a capacidade, no que diz respeito à
classe revolucionária, de levar a cabo acções de massas suficientemente
vigorosas para quebrar completamente o velho governo, que nunca cairá, mesmo em
tempos de crise, se não for derrubado. » (10).
FIM
Fonte: DE L’INSURRECTION POPULAIRE À LA RÉVOLUTION PROLÉTARIENNE (5/5) – les 7 du quebec
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis
Júdice
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