quarta-feira, 26 de junho de 2024

A saúde da população francesa sacrificada pelos imoladores de Macron

 


 26 de Junho de 2024  Robert Bibeau  


Por Khider Mesloub.

Há vários indícios de que o estado de saúde da população francesa está a deteriorar-se. Esta deterioração não se deve a negligência pessoal, mas à deterioração do sistema de saúde, ilustrada pelas dificuldades de acesso ao sistema hospitalar sobrecarregado e aos cuidados quotidianos devido à falta de médicos privados.

Com o aumento acentuado dos tempos de espera para as consultas, a saturação dos serviços de urgência e a degradação da oferta de cuidados de saúde, esta situação leva cada vez mais franceses a renunciar aos tratamentos, com graves consequências para a sua saúde.

Como interpretar esta degradação da saúde da população francesa, provocada pela degradação do sistema hospitalar público e da prática privada, senão como um sintoma do declínio da França? O declínio da saúde pública é a confirmação de que o modelo capitalista francês está a morrer.

O sistema de saúde francês, durante muito tempo conhecido pela sua excelência, está a deteriorar-se. Está a morrer. Por detrás da morte programada da saúde pública, o colapso histórico e inexorável do "modelo social" capitalista francês está a tornar-se cada vez mais claro e confirmado. Em França, o Estado-providência metamorfoseou-se num Estado pestilento: propagador da peste castanha (fascismo, militarismo). Demencial: só reina através do terror policial e do terrorismo da informação (propaganda e censura). Luciferiano: agora reduzido a espalhar calamidades, aflições, desolação e angústia.

A "doença" do sistema de saúde francês foi causada por cortes orçamentais e pela generalização do modelo neo-liberal no sector hospitalar público, o que levou a uma redução considerável da capacidade hospitalar, ou seja, ao encerramento de várias estruturas hospitalares, em particular das urgências. Uma redução drástica do leque de cuidados prestados pela medicina liberal anémica.

Uma coisa é certa: a França não passa de um túmulo social e médico para a sua população proletária, precipitada no empobrecimento e na patologização. Prova disso é que muitas doenças antigas, que tinham desaparecido, estão a ressurgir sob o efeito combinado da deterioração da saúde da população, da deterioração do sistema hospitalar e da falência do sector farmacêutico.

Nos últimos anos, a taxa de mortalidade aumentou mais do que a taxa de natalidade. A taxa de natalidade entrou em colapso. De facto, a taxa de natalidade está em declínio recorde em França.   Em 2023, o número de nascimentos diminuiu 7%. O nível mais baixo desde 1946. A queda da taxa de natalidade regista-se em todo o país. Este declínio é atribuível ao actual clima provocador de ansiedade e patogénico, à deterioração das condições de vida e de trabalho, ao obscurecimento do futuro em França, ao obscurecimento do clima social e político, ao endurecimento autoritário da governação de Macron, à explosão da delinquência e da criminalidade, vectores de insegurança e ansiedade.

Desde a eleição de Macron, o proletariado francês tem sido confrontado com um ataque violento e frontal às suas condições de vida e de trabalho, o mais recente dos quais foi consubstanciado pela infame reforma para prolongar o tempo de exploração assalariada, ou seja, o aumento da idade legal de reforma para 64 anos.

Outros ataques foram intensificados desde a tomada de posse do banqueiro Rothschild. Entre eles, o ataque à segurança social. O desmantelamento da cobertura médica acelera-se, como o demonstra a redução drástica das despesas de saúde e a política de retirada dos medicamentos da lista. Ou mesmo de orquestrar a escassez de medicamentos.

Enquanto a França acaba de passar por uma das piores crises sanitárias (Covid) da sua história, marcada nomeadamente pela escassez de material médico e de medicamentos, o governo não tirou qualquer lição para remediar o mau funcionamento do sistema de saúde. E por boas razões. Há vários anos que é responsável por estas carências previstas. Nomeadamente no que se refere aos medicamentos.

Em França, a escassez afecta indistintamente todos os medicamentos. Anti-diabéticos, anti-cancerígenos, anti-inflamatórios, antibióticos de base... a lista dos medicamentos em falta é curiosamente cada vez mais longa. E por mais tempo.

No início do mandato de Macron, em 2017, apenas algumas dezenas de medicamentos estavam em ruptura de stock. Hoje, em 2024, a lista continua a aumentar. A ANSM (Agence nationale de sécurité du médicament) recebeu nada menos do que 4.900 notificações de ruptura de stock. "Antes limitava-se a algumas moléculas, mas agora está a afectar todas as classes de medicamentos", afirma um farmacêutico. "Até o paracetamol está a acabar".

É assim que o Estado rico francês está a fazer poupanças. Sacrificando a saúde das pessoas. Desembolsando os medicamentos, tornando-os incomportáveis devido aos seus preços exorbitantes. E orquestrando a escassez desses medicamentos, para que a Segurança Social possa fazer economias.

Além disso, para localizar os doentes com o objectivo de reduzir as despesas médicas, o Governo acaba de transformar a carta vital num instrumento digital de controlo e vigilância para evitar, segundo o Ministério da Saúde, qualquer "utilização abusiva" de medicamentos ou de receitas médicas por cada segurado. Da mesma forma, intensificou o controlo das interrupções de trabalho, levando à retirada sistemática do subsídio diário de doença se um médico designado pela entidade patronal contestar a baixa médica de um doente.

Além disso, o governo Macron acaba de aprovar uma lei que dá primazia ao "médico do empregador".  Por outras palavras, o médico da entidade patronal passa a poder contestar qualquer baixa legal emitida pelo médico de família do doente. O artigo 27.º do projecto de lei de finanças da segurança social para 2024 prevê a suspensão automática das Indemnizações Diárias ( journalières) de Segurança Social (IJSS) com base no parecer do médico enviado pela entidade patronal. Segundo várias notícias, entre as quais a do jornal Ouest-France, "o simples facto de o médico examinador escolhido pela entidade patronal dizer que a paragem do trabalho não se justifica - ou não se justifica para a duração que lhe é atribuída - pode levar automaticamente à suspensão do IJSS. E isso será feito sem qualquer outra análise por parte do médico supervisor da Segurança Social", como acontecia até agora, em que a autoridade médica do médico da Segurança Social era preponderante. A partir de agora, a primazia da autoridade médica em matéria de baixas por doença passa automaticamente para o médico da entidade patronal, que se pronunciará sobre a validade das baixas por doença do trabalhador.

Este facto terá consequências dramáticas para os trabalhadores. Quando se sabe que a maior parte das baixas médicas emitidas pelos médicos de família estão ligadas a patologias psicológicas, a doenças não detectáveis fisicamente, como as crises nervosas, a ansiedade e o stress, que se tornaram o destino comum dos trabalhadores confrontados com a deterioração da vida social e a intensificação da exploração, os trabalhadores doentes passarão a ser sistematicamente suspeitos de fraude ao seguro de doença. Assim, poderão ser obrigados a regressar ao trabalho se o seu subsídio diário de doença lhes for retirado pelo médico da entidade patronal, o "médico de vigilância do Estado". O risco é que o seu estado de saúde se agrave, podendo levar à morte, em consequência de um mau tratamento.

Impulsionado pela mesma vontade do Estado e do patronato de demolir os direitos dos trabalhadores, o Tribunal de Contas, instituição burguesa totalmente subserviente ao Estado rico, acaba de publicar o seu relatório anual "Segurança Social 2024", no qual recomenda medidas de austeridade em matéria de baixas por doença. Os especialistas em austeridade do Tribunal de Contas propõem nada menos do que deixar de cobrir as baixas por doença inferiores a 8 dias. Com esta medida de espoliação, esperam arrancar 470 milhões de euros aos trabalhadores doentes. O período de espera poderia ser alargado de 3 para 7 dias (incluindo para as pessoas que faltam ao trabalho por mais de 8 dias: por outras palavras, não receberão o subsídio de doença). Seria um retrocesso de quase um século.

Depois do ataque destrutivo à reforma, o ataque às interrupções do trabalho completa a ofensiva de deterioração contínua das condições de trabalho. Esta degradação das condições de trabalho é responsável pela degradação da saúde dos trabalhadores.

Depois de terem sido condenados a cumprir dois anos suplementares nas prisões industriais, administrativas ou terciárias, ou seja, a dar dois anos da sua vida ao capital, sofrendo a amputação dos seus salários e rendimentos provocada pela inflação especulativa do patronato e do Estado, os proletários franceses, cujos direitos sociais foram progressivamente reduzidos ou suprimidos, vêem-se agora privados do direito de adoecer e de procurar tratamento médico. Pior ainda, são ameaçados com a privação do subsídio de doença.

É este o estado da França acamada, governada por adoradores sacrificiais do bezerro de ouro: uma França doente dos seus dirigentes!

Khider Mesloub

 

Fonte: La santé de la population française sacrifiée par les immolateurs macronistes – les 7 du quebec

Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice




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