domingo, 23 de junho de 2024

Foi graças ao comunismo e à URSS que o capitalismo se tornou mais humano

 


 23 de Junho de 2024  ROBERT GIL  

Pesquisa realizada por Robert Gil

Por vezes, leio ou ouço absurdos tão absurdos que é difícil responder-lhes: "O capitalismo acabou com a fome na terra", "O capitalismo erradicou a pobreza", "Só o capitalismo pode evitar a guerra", "Nos Estados Unidos, até os pobres são ricos", "O capitalismo é liberdade, mas em França o modelo socialista de sociedade é uma tirania", etc. Como é que alguém pode dizer, escrever ou pensar coisas tão estúpidas? O mais assustador é que a maior parte destas pessoas está convencida de que o que estão a dizer é correcto. Na sua maioria, são pessoas com mais de 50 anos que estão presas a um período em que o capitalismo não podia explorar sem entraves, um período em que o capitalismo era obrigado a censurar-se a si próprio. Essas pessoas acreditavam, de boa fé, que a prosperidade e a melhoria das condições de vida eram consequências directas do capitalismo. Contentavam-se em "lucrar", sem se perguntarem porquê ou como é que isso era possível. O período dos Gloriosos Anos Trinta (Trente Glorieuses), hoje considerado como um dos períodos de maior sucesso do capitalismo, foi, na realidade, uma anomalia, forçada por factores externos, e não uma tendência capitalista normal. A taxa de imposto para os mais ricos era de 60% durante os Trente Glorieuses (1). O capitalismo não é benéfico; se for libertado dos seus grilhões, é um monstro!

O capitalismo nunca deu nada de graça; tudo o que a classe operária conseguiu é fruto da luta, seguida de repressão e, por vezes, de morte. Após o fim da Segunda Guerra Mundial, e até ao início dos anos 80, as concessões feitas pelo capitalismo ocidental não podem ser explicadas sem ter em conta a pressão exercida sobre o capitalismo tanto pela existência da União Soviética como modelo alternativo de sociedade, como por fortes partidos de esquerda, especialmente comunistas, ligados aos sindicatos nos principais países europeus. Os capitalistas temiam reivindicações, manifestações, motins e a tomada do poder por partidos que pusessem em causa a própria doutrina do capitalismo, pondo em causa a propriedade dos meios de produção e a distribuição da riqueza produzida. Neste sentido, os regimes comunistas e os partidos de esquerda apoiaram indirectamente o capitalismo e os capitalistas, apesar de si próprios, incitando-os a reformar o sistema, a refrear a sua ganância e a tomar consciência de que, sem políticas sociais fortes, corriam o risco de ser esmagados. As políticas sociais foram mais desenvolvidas nos países onde os partidos comunistas eram fortes e onde a ameaça da União Soviética era maior. Em França e em Itália, por exemplo, os partidos comunistas representavam cerca de 20% das intenções de voto.

O medo de uma experiência soviética na Europa teve um grande impacto, promovendo indirectamente políticas que, de outra forma, nunca teriam visto a luz do dia e que teriam sido rejeitadas de imediato pela classe capitalista. Mas com a ascensão da economia neo-liberal, depois de 1980, e a queda do muro de Berlim, em 1989, o capitalismo regressou aos seus impulsos originais - o capitalismo selvagem, sem quaisquer restricções. E se não aceita nenhuma restricção sobre o que pode ser mercantilizado, se considera um direito divino poder enriquecer-se sem limites, caminha inexoravelmente para o aumento das desigualdades e para a repetição de crises. De crise em crise, também podemos caminhar para guerras.

Paradoxalmente, ao mesmo tempo que a pressão comunista obrigava o capitalismo a abrandar, também deixava a população a pensar que o capitalismo era fundamentalmente "bom". De facto, graças à luta de classes, os rendimentos reais tinham aumentado, as condições de vida tinham melhorado e uma parte da população acreditava que o papel do Partido Comunista era simplesmente obsoleto. Quando a viragem neo-liberal chegou, em meados da década de 1980, graças à direita socialista, a dimensão da classe operária já tinha diminuído, o poder dos sindicatos estava a desaparecer e o Partido Comunista tinha sido marginalizado. O neo-liberalismo sentiu-se encorajado pela dinâmica interna que estava a sufocar a classe operária e, depois, pelo colapso precipitado da União Soviética e do comunismo. Uma vez que o capitalismo se viu sem rival, regressou rapidamente às suas políticas passadas, exibindo muitas das suas piores características, esquecidas durante os gloriosos anos trinta.

Os capitalistas e os seus braços mediáticos puderam opor os franceses uns aos outros, a empregada de limpeza ao desempregado, o jovem ao reformado, o trabalhador do sector privado ao funcionário público... a noção de mérito e a ênfase no "Vencedor" fizeram o resto. Os capitalistas canalizaram uma parte do movimento de protesto para os braços da extrema-direita, que sabem ser devotada à sua causa. Portanto, o problema é simples: ou cada um tenta encontrar uma terceira ou quarta voz, fazendo o seu "bocadinho" no seu canto, na esperança de conseguir alguma coisa, ou voltamos ao essencial!  Penso que se trata de uma questão urgente, pois à luz dos acontecimentos, tanto a nível nacional como internacional, temos todo o direito de olhar para o futuro com algum receio.

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Referência:

(1) Le Journal du Dimanche, 01/03/2012: "75% de imposto: uma taxa sem equivalente no mundo". Os 30 anos gloriosos são o período de 1945 a 1975.

 

Fonte: C’est grâce au communisme et à l’URSS que le capitalisme était plus humain – les 7 du quebec

Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice




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