RENÉ NABA — Este texto é publicado em
parceria com a www.madaniya.info.
Parte 1 - https://queonossosilencionaomateinocentes.blogspot.com/2024/05/fobia-e-islamofobia_24.html
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As fatwas patológicas
Esta operação de relações públicas foi acompanhada, a nível interno, por
uma regulamentação da utilização das redes sociais para evitar as explosões de
pregadores impetuosos e para censurar todas as opiniões divergentes.
Em retrospectiva, o que parece ser o cúmulo do cinismo neste caso é o facto de quase todos os militantes que defenderam a liberdade de expressão ou a liberalização da moral, nomeadamente o reconhecimento do direito das mulheres a praticar desporto ou a conduzir um automóvel, terem sido ridicularizados como “pecadores do laicismo” e atirados para a prisão sem mais julgamento.
Numa incrível reviravolta do destino, a repressão e a censura atingem agora os homens de religião, pilares da dinastia e propagadores de longa data de uma ideologia extremista. Uma nova vaga de fatwas patológicas, como aconteceu durante a chamada Primavera Árabe, que tanto prejudicou a dinastia wahhabita, o Reino da Arábia Saudita e a imagem do Islão no mundo, é um pesadelo para a monarquia.
§ Sobre
fatwas patológicas, veja este link: https://www.madaniya.info/2021/02/25/le-contorsionnement-des-predicateurs-petro-monarchiques-a-propos-de-la-guerre-de-syrie/
Sobre os erros da Irmandade Muçulmana e os sete grandes erros dos islamitas
A Lei Jasta, a espada de Dâmocles
A lei JASTA (Justice against sponsors of terrorist act), aprovada a 9 de Setembro
de 2016, quinze anos após o ataque terrorista aos símbolos da hiperpotência
americana, funciona como uma Espada de Dâmocles sobre a cabeça do Reino.
Ao autorizar os americanos a processar o Reino para obter uma indemnização
pelos danos infligidos por este ataque, os Estados Unidos colocaram a Espada de
Dâmocles sobre a dinastia wahhabita. Quinze dos 19 autores dos atentados de 11
de Setembro em Nova Iorque e Washington eram sauditas. No total, o prejuízo
americano é estimado em quase três mil milhões de dólares.
Para fazer face a esta ameaça, adoptada durante a presidência de Barack
Obama, o seu sucessor Donald Trump fez um acordo “win-win”: as petro-monarquias
sunitas apoiaram o arquitecto da “proibição muçulmana”, em troca da promoção do
filho do rei a príncipe herdeiro, da abdicação das petro-monarquias da questão
palestiniana e da sua substituição por uma aliança com Israel para fazer face
ao Irão.
O acordo foi selado com um grande contrato militar, no valor de cerca de
380 mil milhões de dólares em dez anos, destinado a reforçar as capacidades de
mísseis balísticos e navais do reino saudita contra o Irão, ao mesmo tempo que
“preserva a superioridade militar de Israel na região”, segundo um membro da
administração americana.
O objectivo subjacente a este “contrato do século” seria neutralizar os
efeitos da lei JASTA, que foi suspensa pelo menos durante o mandato de Donald
Trump.
Um Reino de Entretenimento: The Line, a cidade linear?
Esta operação de relações públicas destinada a valorizar a imagem de
Mohamad Ben Salmane surge no momento em que o príncipe herdeiro saudita
alimenta a ambição de transformar a austera e rigorosa Arábia Saudita num reino
de entretenimento.
A criminalização dos pregadores do ódio surge no momento em que MBS lança
um projecto emblemático destinado a reforçar a imagem de um reino modernista,
incluindo a organização de um torneio mundial de golfe e, sobretudo, a cidade
linear futurista.
The Line (a Linha), a cidade linear?
Repensar a cidade de amanhã implica a criação de um complexo linear com 170
km de comprimento, 500 metros de altura e 200 metros de largura. As paredes
cobertas de espelhos torná-la-ão invisível para a paisagem circundante. O
projeto Neom deverá ser completamente auto-suficiente em termos energéticos,
com ventilação natural, energias renováveis e a criação da maior central de
hidrogénio verde do mundo.
Em vez de se estender sobre a natureza, a ideia é construir a cidade em
três níveis: escolas, parques, casas e serviços serão sobrepostos uns aos
outros num modelo de “urbanismo de gravidade zero”. Todas as necessidades
quotidianas estarão disponíveis num raio de 5 minutos a pé, pelo que não haverá
necessidade de automóveis na cidade do futuro. Um comboio de alta velocidade
permitirá ir de uma ponta à outra de Neom, a nova megalópole saudita, em 20
minutos.
A Linha visa responder à emergência ecológica, mas também (e sobretudo) ao
boom demográfico previsto pela Arábia Saudita. O príncipe herdeiro Mohamad Ben
Salmane pretende que a população de Neom atinja 1,2 milhões de habitantes em
2030 e até 9 milhões em 2045! MBS quer fazer da Arábia Saudita uma potência a
ter em conta na região.
"É esse o objectivo principal da construção de Neom: aumentar a
capacidade demográfica da Arábia Saudita [...]. E já que o estamos a fazer de
raiz, porquê copiar as cidades normais?", disse Mohammed ben Salmane. O
país está preparado para acolher 70 milhões de expatriados até 2040.
A Moutawa'a: a polícia religiosa
Mas a renovação cosmética do reino continua a ser questionável, tal é o
nível de suspeição que rodeia o príncipe herdeiro.
A última manifestação do príncipe sanguinário foi a decapitação de 80 opositores sauditas no mesmo dia, em Fevereiro de 2022, quando a atenção internacional estava voltada para a guerra na Ucrânia.
Enquanto o símbolo do rigorismo saudita, ou mesmo do anacronismo, persistir, a Moutawa'a, a temida polícia religiosa, que há muito aterroriza a população com métodos dignos da Inquisição da Idade Média, simboliza mais do que qualquer outra coisa a intolerância wahhabita.
Fonte: Islamophobie-Occident: Le Royaume de la distraction 4/4 – les 7 du quebec
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis
Júdice
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