quarta-feira, 19 de junho de 2024

A reestruturação dos sectores financeiros desde a década de 1980.

 


 19 de Junho de 2024  Oeil de faucon 

Exchanges N° 111

Descrição: Conteúdo:

Prefácio.

1-Reestruturação em bancos e seguradoras.

a- Bancos b- Companhias de seguros c- Mútuas de seguros.

2-As grandes concentrações bancárias na Europa.

*a- Alguns exemplos de fusões

b - Retoma das fusões na banca na Europa.

c-O lugar do sistema bancário britânico no mundo

3 – As consequências das fusões e aquisições sobre os assalariados.

a- A nova situação sindical b- Os prejuízos para o emprego.

4-Reestruturação e automatização dos Correios Suíços

 

Prefácio. O texto que apresentamos é, de certa forma, uma continuação da brochura "A esfera de circulação do capital" publicada em Outubro de 2000, mas sob um ângulo diferente, o da desregulamentação do sector financeiro. O movimento de desregulamentação do sector financeiro começou nos anos 80, como resposta positiva às regulamentações que se seguiram à crise de 1929, nomeadamente a lei Glass Steagall de 1933 nos Estados Unidos. Aquilo a que chamamos vulgarmente keynesianismo e a sua sociedade mista deviam morrer. A inversão monetarista de 1979 foi, em grande parte, consequência da falta de rentabilidade do capital à escala internacional, pelo que tinha chegado o momento de "assassinar Keynes" como defensor do socialismo de Estado. Íamos "liberalizar", ou seja, encontrar formas de tirar o capitalismo mundial da sua "crise de rentabilidade". De 1982 a 1986, a primeira vaga de "liberalização" pode ser resumida da seguinte forma: o desempenho da "esfera financeira" foi espectacular, com um crescimento de 130% (índice mundial dos mercados financeiros), ou seja, dez vezes mais rápido do que a economia real dos países industrializados (OCDE). Esta dissociação entre a economia real e a esfera financeira preparou o terreno para as desvalorizações internacionais com o crash bolsista de Outubro de 1987. Depois de uma primeira convolução, o capitalismo mundial "disfarçado pela boa causa do liberalismo" voltou à estaca zero, com uma cadeia de desvalorizações financeiras no horizonte. Os factos eram claros. Nos grandes países capitalistas, o sistema bancário foi consideravelmente abalado durante os últimos vinte anos. Desde o Big Bang britânico até às privatizações francesas, passando pela crise bancária japonesa, as desvalorizações financeiras internacionais, a quase falência da Argentina e os casos da ENRON americana, da WorldCom e da Parmalat italiana. O mundo da finança é cada vez mais obrigado a reestruturar-se para limpar as chamadas dívidas incobráveis, que, na realidade, não passam de expectativas de lucros e especulações impossíveis de realizar.

A pretensão dos representantes do capitalismo mundial de pôr ordem em todas as regras (consideradas contraproducentes) que impedem o funcionamento "espontâneo" dos mercados, que deveriam assegurar os melhores rendimentos graças a uma concorrência "finalmente restabelecida", provocará uma reacção em cadeia na esfera financeira à escala mundial. Dos bancos às companhias de seguros, das caixas económicas aos correios, todos têm de desaparecer. "Nem todos morreram, como dizia Jean de La Fontaine, mas todos foram afectados" (A Peste). A partir de então, os centros financeiros mais importantes disputaram ferozmente a sua quota de mercado, única forma de recuperar os pesados investimentos em informática e telecomunicações.

O desmantelamento, através de fusões e aquisições, dos canais de financiamento privilegiados estava prestes a iniciar-se. Nos Estados Unidos, no Reino Unido e em França, as caixas económicas mútuas, as building societies e as caisses d'Epargne tornaram-se cada vez mais comuns. A distinção entre bancos comerciais e bancos de investimento esbateu-se: a lei Glass Steagall de 1933 foi posta em causa nos Estados Unidos, tal como as leis bancárias de 1984 na Alemanha, no Reino Unido e em França. As fronteiras entre as instituições de crédito e as empresas de valores mobiliários foram depois esbatidas (reforma das bolsas de Londres e Paris).

Se olharmos para o que se passa actualmente no sector financeiro francês (bancos, companhias de seguros e, agora, os Correios), verificamos que, desde 1945, o sector financeiro se manteve relativamente isolado das grandes reestruturações económicas que afectaram as classes populares. Isto deveu-se, em parte, ao facto de o sector estar sob o controlo do Estado e de quaisquer mudanças neste domínio só poderem ser iniciadas pelo Estado. É o que acontecerá quando se colocar a questão da integração das finanças francesas na UE (introdução do euro em Janeiro de 1999). Recorde-se que, em 1985, a União Europeia se comprometeu a liberalizar o comércio de serviços bancários e financeiros e a suprimir todas as restricções aos movimentos de capitais. A ratificação do Tratado de Maastricht por alguns países europeus devia contribuir para acelerar a integração dos mercados bancários e financeiros.

A lei bancária de 1984 viria a dar um primeiro pontapé no formigueiro do sector público.

Num curto espaço de tempo (1984-2000), o número total de instituições de crédito diminuiu para metade. O Estado, que era "proprietário" dos grandes bancos, organizou a sua própria retirada, abrindo caminho (em conformidade com o Tratado Europeu) às privatizações, ou seja, à concentração do capital financeiro a nível continental e internacional. A concentração do Estado ou a nacionalização deixaram de ser relevantes no contexto da UE. 1-Reestruturação dos sectores bancário e segurador desde os anos 80

a- As consequências da lei bancária de 1984.

Desde a lei bancária de 1984, registou-se uma mudança radical no sentido de uma maior concentração do capital financeiro. Pela primeira vez na história da banca, foi criado um quadro único para todo o sector, que previa toda uma série de reformas destinadas a desestruturar e a reestruturar todo o sector financeiro.

Desde 1945, o Estado francês controlava os três maiores grupos bancários do país, o BNP, o Crédit Lyonnais e a Société Générale. Com a chegada da esquerda (PC-PS) ao poder, 36 outras instituições bancárias foram nacionalizadas (1982).

Assim, o Estado tornou-se proprietário de 117 bancos e de várias sociedades financeiras. Este controlo estatal do sistema bancário deu origem a todo o tipo de manipulações fiscais e financeiras. Os homens de Estado favoreceram determinados estabelecimentos do ponto de vista fiscal e financeiro. O escândalo do Crédit Lyonnais foi o primeiro fracasso do "banco universal". A Lei Bancária de 1984 tinha como objectivo pôr fim à "deriva bancária" e, por conseguinte, a todos os estatutos jurídicos especiais (cerca de 30), facilitando assim os futuros reagrupamentos financeiros através da liquidação dos pequenos feudos bancários. Entre 1986 e 1999, quase todos os bancos nacionalizados foram privatizados em três fases sucessivas:

1°) Entre 1986 e 1988, foram efectuadas seis operações envolvendo as Compagnies Financières de Paribas e Suez, Société Générale, CCF, BIMP e Cie BTP, num total de 73 bancos.

2°) Em 1993, após 5 anos sem nacionalizações nem privatizações, foram privatizados 19 bancos (BNP e suas filiais), bem como o BFCE e o Crédit local de France em 1995.

3°) As últimas privatizações tiveram lugar em 1997 (CIC e Société Marseillaises de Crédit, depois em 1999, Crédit Lyonnais e Banque Hervet em 2001. Apenas a Caisse des dépôts et consignations e as suas filiais permaneceram nas mãos do Estado.

Uma vez concluídas as privatizações, abriu-se a era das fusões e aquisições por massa crítica. Para justificar esta segunda transformação do sector bancário, a AFB (associação patronal do sector bancário) recordou a recessão de 1992-1994, que tinha conduzido a uma redução significativa dos créditos (às pequenas e médias empresas e aos créditos imobiliários). As primeiras operações afectaram as caixas mútuas e as caixas económicas, em busca da famosa massa crítica que reduzia regularmente os efectivos.

Para citar apenas alguns exemplos: a fusão das Caisses d'Epargne et de Prévoyance e da Caisse Nationale d'Epargne, especializadas no crédito à habitação e às colectividades locais, levou à implementação de um programa de redução de efectivos. O número de efectivos passou de 468 em 1984 para 186 em 1990 e 35 em 1993. O Crédit Agricole, que ainda dispunha de 95 agências regionais em 1987, passou a dispor de 54 agências em 1999, na sequência de sucessivas fusões, e o que dizer dos danos que se avizinham com a fusão Crédit Lyonnais Crédit Agricole?

O Crédit Populaire passou de 42 banques populaires em 1984 para 32 em 1992. A Société anonyme de crédit immobilier (SACI) racionalizou-se, reduzindo os seus efectivos de 171 em 1984 para 109 em 1999.

Os resultados são os seguintes: O número total de instituições filiadas em redes, que era de 1 127 em 1984, passou para 297 em 1999. Em 1984, existiam 661 bancos mútuos e 466 sociedades financeiras e, em 1999, 155 bancos e 142 sociedades financeiras associadas. 90% dos depósitos são actualmente detidos por seis bancos franceses.

Ao mesmo tempo, nos Estados Unidos, sete das maiores fusões e aquisições em 1996 foram no sector financeiro. É interessante notar que, nos Estados Unidos, a reforma do sistema financeiro através da alteração da lei Glass Steagall de 1928 visa abolir as fronteiras entre a banca, a gestão de valores mobiliários e os seguros. O sistema financeiro internacional está, por conseguinte, a ser reestruturado à escala mundial, o que implica a redução de postos de trabalho, a flexibilidade, a deslocalização, etc., para os assalariados

b- Reestruturação de seguros.

No sector dos seguros, o cenário é muito semelhante. Para concentrar o capital, é necessário alterar o estatuto jurídico das empresas. Por conseguinte, os quatro tipos de estatuto das empresas foram alterados para preparar grandes reestruturações e fusões.

Entre 1994 e 1998, as empresas nacionalizadas foram as primeiras a abrir o capital após a privatização. Foi o Estado que deu início a este processo, tal como tinha feito em 1968, quando concentrou as 34 empresas nacionalizadas em quatro grupos. A UAP (Union des Assurances de Paris) reuniu dez entidades da Union, Urbaine e Séquanaise. A AGF (Assurances Générales de France) reuniu a AG e a Phénix, enquanto as outras deram origem à MGF e à GAN. Após a nacionalização do sector, as mútuas foram obrigadas a alterar o seu estatuto. Algumas, como a Azur e a GMF, tornaram a sua estrutura jurídica mais complexa através da constituição de sociedades anónimas. Também o Groupama deixou a sua roupagem mutualista para assumir as formas jurídicas de sociedades anónimas e de companhias de seguros. Nessa altura, a burguesia francesa pensava que podia manter a sua posição de potência mundial com um sistema de economia mista cada vez mais controlado pelo Estado. O fracasso do programa de nacionalizações da esquerda comum (PC-PS) demonstrou que a burguesia francesa já não via o seu futuro no contexto nacional, mas sim no contexto europeu. Em 1983, a perspectiva do "Estado total" é interrompida e, a partir de 1986, as privatizações estão na ordem do dia. Por razões ainda pouco claras, a desnacionalização das "3 antigas nacionais" UAP, AGF e GAN só teve lugar em 1994/1998. Poder-se-ia pensar que era necessário pôr termo às convenções colectivas antes de proceder à privatização. Tal levaria vários anos.

Em 1993, as dez maiores empresas francesas dominavam o mercado, juntamente com um banco. Em 1994, os primeiros golpes da globalização abalam o sistema. A Grã-Bretanha avança em França com uma oferta pública de aquisição sobre o grupo Victoire, que dá origem à União Comercial, e o grupo italiano Générali surge em décimo lugar; posteriormente, absorve a Zurich, o Continent e, em Agosto de 2004, faz parte de uma parceria tripartida com a AZUR-GMF, a MMA-MAAF...

A banca-seguros está a começar a fazer incursões nas seguradoras tradicionais.

Em 1997, um primeiro balanço mostrava que os seguros bancários e as seguradoras estrangeiras tinham passado de 25% para 51% do volume de negócios dos 10 maiores grupos seguradores. No pódio encontram-se os bancos CNP, BNP e Crédit Agricole (40% do volume de negócios), bem como a Générali italiana e a Commercial-Union britânica (11% do volume de negócios). A quota de mercado das 10 principais companhias de seguros está a aumentar sob pressão; com uma quota de mercado de 63% (1997), os líderes acelerarão o seu esforço de concentração através da aquisição, absorção ou cisão de empresas mais pequenas. Em 2003, a consolidação aumentou. Dado que as empresas da UE podem agora operar ao abrigo da liberdade de prestação de serviços (FPS), as seguradoras estrangeiras estão a entrar em França. Até mesmo o sector da "distribuição", ou seja, as grandes superfícies, estão a entrar no negócio dos seguros: (Banque Accord (grupo Auchan), S2P/Cama (Carrefour), Cofinoga (grupo da galeria Lafayette), Finaref (grupo PPR).

No final de 2003, a situação era a seguinte: o grupo AXA continuava a liderar, mas tinha perdido bastante terreno para os outros. A CNP (Caisse Nationale de Prévoyance) continua em segundo lugar, a AGF ultrapassa o Groupama, o Crédit Agricole mantém o quinto lugar, o Générali o sexto e o BNP o sétimo. Mas a Commercial Union, a Mutuelle du Mans e a Société Suisse deixaram de figurar entre os dez primeiros. A Sogecap (grupo Société Générale) está em 8º lugar, a ACM (Assurance du Crédit Mutuel) em 9º lugar e a UAF (Union des Assurances Fédérales ligada ao Crédit Lyonnais) em 10º lugar.

Em dez anos, o panorama dos seguros alterou-se consideravelmente. Já não são 9 companhias tradicionais e um banco que estão no pódio, mas sim 6 bancos, 2 companhias estrangeiras (a italiana Generali) e a AGF (sob o controlo da alemã Allianz), e 2 companhias francesas AXA e Groupama.

Embora existam actualmente 486 companhias de seguros, este número não reflecte a realidade, uma vez que o mesmo grupo pode ter várias entidades jurídicas contabilizadas como empresas. Em 2003, as 5 maiores representavam 42% do mercado francês e as 10 maiores 62%.

2-As grandes concentrações bancárias na Europa.

Toda a zona euro está a realizar fusões e aquisições. Não é, portanto, surpreendente que uma fusão ou aquisição estratégica seja anunciada quase diariamente no mundo dos bancos europeus.

As decisões tomadas a nível da UE, nomeadamente em Maastricht e Amesterdão, estão a impulsionar a fusão de bancos. Com efeito, o movimento de desregulamentação, desintermediação e inovações tecnológicas está a minar as distinções tradicionais entre intermediários financeiros. Profissões não bancárias, como companhias de seguros, correctores, retalhistas on-line, os correios podem vender produtos bancários, como produtos de seguros bancários.

As mesmas forças estão também a pressionar os bancos tradicionais a alargarem o leque de produtos e serviços que oferecem aos seus clientes (banca electrónica e serviços complementares à contabilidade habitual).

"Segundo a Federação dos Bancos Europeus, no final de 1998 existiam 2 955 bancos comerciais na Europa Ocidental (ou seja, os membros da União Europeia, mais a Islândia, a Noruega e a Suíça). Estes 2.955 bancos representaram um total de 9.144 mil milhões de euros em activos, 99.456 balcões e 1.840.000 trabalhadores. A este já elevado número de bancos comerciais, há que acrescentar as muitas outras instituições que recebem depósitos, como as Caisses d'Epargne, os bancos mutualistas e os bancos cooperativos. No total, os onze membros da zona euro tinham mais de 7 000 instituições a receber depósitos no final de 1998.

a) Alguns exemplos de fusões e aquisições na Europa.

• "em Janeiro de 1999, a fusão entre o Banco Santander e o Banco Central Hispanoamericano levou à criação do BSCH; • após seis meses de uma batalha bolsista com a Société Générale, iniciada em Fevereiro, o BNP fundiu-se com o Paribas, resultando na criação do primeiro banco em França e do segundo na zona euro em termos de activos e capitalização bolsista; • Em Outubro, o Banco Bilbao Vizcaya (BBV) e a Argentaria anunciaram a sua intenção de criar o BBVA. • ao mesmo tempo, o Bank of Scotland lançou uma oferta não solicitada pela Natwest, tendo a decisão final sido retirada pela proposta mais competitiva do Royal Bank of Scotland; • Entretanto, o Banca Intesa adquiriu 70% da Comit em Itália. Desde o início de 2000, a tendência para a concentração tem dado poucos sinais de abrandamento. Assim, o Financial Times de 19 de Janeiro de 2000 declarou: • que o ABN Amro estava prestes a encerrar 1/6 das suas sucursais nos Países Baixos, a fim de reafectar os seus recursos à banca electrónica; • que o Citigroup adquiriu as actividades de banca de investimento da Schroder; • ̈ que dois bancos portugueses, o Banco Espírito Santo e o Banco Português, tinham decidido fundir-se (uma semana antes, o Banco Comercial Português e o Banco Mello tinham feito o mesmo). Depois, no início de Março de 2000, veio o anúncio da proposta de fusão entre o Deutsche Bank e a Dresdner. Mas, a 5 de Abril, a operação de 33 mil milhões de euros desintegrou-se. Entretanto, a 3 de Abril, soube-se que o HSBC, o segundo maior banco do mundo em termos de capitalização bolsista, iria adquirir o Crédit Commercial de France através de uma aquisição amigável. (União dos Bancos do Magrebe-Argel, 3 de Julho de 2000.)

b-Reatamento de fusões e aquisições no banco europeu

A imprensa recente noticiou a fusão de dois grupos japoneses, UFJ Holdings e Mitsubishi Tokyo Financial Group, que dá origem ao banco líder mundial. Alguns dias depois, o banco espanhol Santander Central Hispano (SCH) iniciou a aquisição da empresa britânica Abbey National. Para se ter uma ideia da operação, ela ascende a 12,8 mil milhões de euros, ou seja, a maior operação transnacional do sector bancário europeu. Pelos factos, parece que está a ocorrer uma nova vaga de concentração financeira a nível internacional. Nos Estados Unidos, várias iniciativas estão em curso, como a compra da Fleet Boston pelo Bank of America e a do Bank One pelo JP Morgan. Na Alemanha, França e Itália, espera-se uma reestruturação. Em Outubro, soubemos que o UniCredit italiano quer cortar 3000 postos de trabalho até 2007. O maior banco italiano em termos de capitalização espera poupar 150 milhões de euros em custos de pessoal, mas também transferir um grande número de actividades de backoffice para a Roménia. A questão parece importante, uma vez que, no início de Setembro de 2004, os ministros dos 25 reuniram-se nos Países Baixos. O objectivo da reunião foi a "fragmentação bancária" do mercado europeu. Este "parcelamento" é uma desvantagem para o capital financeiro europeu, que receia aquisições pelos grandes bancos americanos. É evidente que os últimos obstáculos à concentração transfronteiriça têm de ser eliminados, é urgente. Para o conseguir, fala-se mesmo em rever a directiva da UE de 2002 relativa à aplicação das regras de concorrência ao sector bancário. Esta reunião em Scheveningen visava também acelerar a criação de um verdadeiro governo económico que falta na zona euro. Passará a chamar-se Eurogrupo e será presidido durante dois anos por J. C. Juncker (um dos arquitectos do Tratado de Maastricht em 1991).

c- O lugar do sistema bancário britânico a nível internacional

A posição histórica do centro financeiro de Londres (a City) durante mais de um século como centro bancário internacional já não está demonstrada. • Dos 20 maiores bancos europeus classificados, os bancos do Reino Unido ainda detêm uma posição dominante com 9 representantes. A nível internacional, a City de Londres processa 21% do total de empréstimos a não residentes e empréstimos a residentes em moeda estrangeira. O aumento do estabelecimento de bancos europeus em Londres desde 1980 é o resultado de fusões e aquisições (note-se que a percentagem de bancos alemães em empréstimos internacionais é particularmente elevada (26%). • Os cem maiores bancos do mundo estão presentes em Londres.

Tal como a França, a Grã-Bretanha terá de enfrentar a concorrência estrangeira, que tem uma grande experiência em finanças internacionais e capital significativo. No início da década de 1990, os bancos de investimento foram confrontados com um processo de reestruturação que resultou na aquisição de alguns deles por instituições estrangeiras em 1995, na aquisição da Barings pelo ING, da Warburg pela SBS, da Kleinwort Benson pelo Dresdner Bank; em 2000 pelo americano Salomon Smith Barney) As suas operações antecipam estratégias de dimensão mundial.

Os bancos de depósito estão a passar por um vasto movimento de reestruturação. A revolução na City, conhecida como Big Bang, é uma ilustração da competição impiedosa entre as várias instituições financeiras que estão a tentar posicionar-se da melhor forma possível nas casas de valores mobiliários. O sistema financeiro britânico caracteriza-se por uma grande estrutura de empréstimos móveis desde a década de 1980 e, por conseguinte, está mais próximo dos sistemas americano e japonês do que de outros sistemas da UE.

Não só as instituições bancárias competem significativamente entre si na drenagem de liquidez, como algumas estão autorizadas, como vimos, a invadir a reserva de outras. Foi assim que surgiu o bancassurance, com os bancos a utilizarem a sua rede para distribuir produtos de seguros. A Lloyds TSB incorporou a Lloyds Abbey Life em 1996 e a Scottish Widows em 1999, adquirindo assim a maior rede de distribuição de seguros de bancos no Reino Unido.

3- As consequências sociais da reestruturação para os assalariados.

O sector dos seguros será o primeiro a denunciar os acordos colectivos e a substituí-los por novos acordos que ficam em segundo plano em relação aos antigos. Por conseguinte, foi em 27 de Maio de 1992 que a nova convenção colectiva nacional sucedeu oficialmente aos acordos regionais. Essa medida facilitará fusões e aproximações e, ao mesmo tempo, padronizará os critérios para a exploração da força de trabalho. Questionamento do sistema de antiguidade do chamado método de classificação (Parodi) que será substituído por uma classificação por funções conhecida como método Hay e a abolição dos bónus de aprovação nos exames da profissão incluídos no salário. Os trabalhadores do banco serão tratados da mesma forma no final de 2000. Tudo foi preparado para a "industrialização do sector terciário", a introdução de novas tecnologias e a implementação de uma adaptação permanente dos assalariados à constante evolução da gestão informatizada em redes interligadas, via paperless. O questionamento das convenções, como já apontamos, ocorreu antes da destruição do sector nacionalizado. Os patrões dos seguros (liderados na altura por Denis Kessler, número 2 do Medef) procederam em duas fases à liquidação das convenções colectivas. Inicialmente, o sector nacionalizado foi deixado de lado. O questionamento dos acordos foi compensado por acordos ou convenções de empresas (ex-AGF) que pareciam "proteger o sector" de danos, que afectarão o sector privado e as seguradoras mútuas. Apesar de algumas manifestações massivas, longe do maremoto de 1979, o equilíbrio de poder continuava a ser insuficiente face às apostas que se perfilavam no horizonte europeu. Na verdade, os patrões dos seguros só mataram um cadáver. Depois da grande greve dos seguros de 1979, o espírito de luta do Maio de 68 desmoronou-se. O CFDT, muito presente no sector, vai proceder à reorientação e liquidação dos "seus esquerdistas"; O momento da grande pacificação do sector estava bem encaminhado, muitos vão "embainhar as facas" e apostar o seu destino individual. Por seu turno, a CGT, que controlava todas as acções de massas do sector nacionalizado, entrou numa crise interna, e a constituição de sindicatos empresariais pela CGT completou o isolamento corporativo e concorrencial que se iniciava. O espírito de boutique substitui o da solidariedade para dar lugar à "luta de todos contra todos". Chegámos a ver funcionários do banco manifestarem-se a 30 de Novembro de 2000 sob a bandeira da sua empresa. A Força Operária (FO), liderada a nível federal pelos trotskistas do Partido Trabalhista, é demasiado fraca para ter qualquer influência decisiva. À medida que o século 21 se aproxima, não só não há mais resistência no sector, como os sindicatos no âmbito da CES estão a tornar-se gestores activos de reestruturações, eles colaboram para essa função dentro da UNI-Europa e preparam a nova vaga de fusões e aquisições em nível europeu através da criação de conselhos de grupos europeus... Nada parece detê-los mais. A CGT procedeu à reorientação do sector e retirou mandato após mandato a delegados recalcitrantes. Enquanto estão ocupados a limpar a casa, na expectativa de um novo aperto social, a situação dos assalariados do sector financeiro continua a deteriorar-se. Os parafusos da "produtividade" estão a apertar, a informatização é novidade de última geração, permite monitorizar permanentemente o desempenho e os erros de cada pessoa. A batota torna-se impossível e o "assédio" de que ouvimos falar é gerado pelo próprio posto de trabalho (plataforma telefónica e outros" intercambiabilidade de gestores, flexibilidade, mobilidade geográfica, permanência... Não há muito espaço para a vida no trabalho e, para alguns, o trabalho até transborda para a sua vida privada. A estruturação e desenho dos novos edifícios faz lembrar o sistema prisional (antigo Generali Saint Denis) com o seu pátio interior.

As novas contratações.

Ao contrário do período de Maio de 68, as novas contratações não trarão a "revolução" para as empresas, bem moldadas e bem formatadas pelos nossos queridos professores da educação nacional. Foi a "revolução individualista" que fez a sua entrada. Apenas os BAC +2 e superiores percebem muito rapidamente que a sua carreira se limita à classe 4. Não há esperança de evolução a não ser terminar os dias em frente a um monitor. A dura realidade está a atingir um número crescente de mulheres jovens, muitas vezes sozinhas. Eles têm que pagar o aluguer na região de Paris que excede metade do seu salário. O emprego em si pode ser considerado precário (mesmo com um contrato a termo). Cortes de postos de trabalho ou o encerramento de uma entidade e estás à procura de emprego dentro da tua empresa, a mobilidade geográfica ameaça-te. Está a chegar uma fusão, e as economias de escala não serão gentis para ninguém, a empregabilidade dependerá da rápida capacidade do trabalhador para se reciclar à escala do sector financeiro. "A aprendizagem ao longo da vida foi criada para isso." Todos estes factores, se contribuem para uma consciência individual da exploração, são, no entanto, um obstáculo ao equilíbrio de poderes. Este mesmo equilíbrio de poderes é também corroído pelo peso da gestão, que continua a aumentar, o rácio de supervisão passou de 33,6% em 1996 para 39,3% em 2002, nomeadamente por um aumento significativo nas classes 5 e 6 e, em menor grau, nas classes 7.

a- A nova situação sindical.

Para os empregadores europeus, toda a reestruturação e adaptação à concorrência capitalista e à rentabilidade/modernização da esfera de circulação de capitais deve ser levada a cabo com o mínimo de agitação e até, na medida do possível, com a ajuda e o apoio dos sindicatos. Por conseguinte, terá lugar um ponto de viragem, a pedido da Comissão Europeia, será solicitado a Bernard Brunhes um relatório sobre a situação dos bancos e das companhias de seguros. O relatório será apresentado em 1997 sob o sugestivo título de "O impacto no emprego das mudanças estruturais nos serviços financeiros e análise e respostas sindicais". O relatório deveria salientar que era agora necessário dar prioridade à negociação a nível das empresas sobre a negociação a nível sectorial. De facto, era necessário desmantelar todas as estruturas sindicais que permitiam o estabelecimento de relações de poder globais e reconduzir a actividade sindical ao nível do corporativismo vigente e sancionar este estado de coisas por acordo de empresa, de modo a completar a implementação da "política social personalizada". Tudo começou com negociações salariais em ramos que se tornariam inexistentes no sector dos seguros, tudo foi trazido de volta ao nível da empresa e nas empresas, dependendo do equilíbrio de poderes, prosseguiu-se uma política de indexação salarial ou introduziu-se o sistema de "remuneração por mérito". As novas convenções colectivas quebraram o sistema de classificação Parodi conhecido como comércio e substituíram-no por um sistema de classificação muito evolutivo e individualizado por funções, onde havia cerca de 20 profissões, haverá 200 e a evoluir. Com este sistema, os sindicatos perderiam toda a influência ao nível das classificações em benefício da gestão. As políticas patronais que vão ser prescritas visarão constantemente quebrar preventivamente qualquer equilíbrio de poderes. O grupo AXA era um grande especialista em mover-se para todo o lado e de uma extremidade de Paris para a outra para reduzir a sua força de trabalho em 20%. O que estamos a ver para os seguros está a acontecer também para a banca. As "deslocalizações" devem ser encaradas como uma medida para dificultar qualquer luta. Devem cortar pela raiz qualquer constituição de uma comunidade de trabalho que possa reivindicar por si só. Por um lado, a administração ocupa os representantes sindicais com constantes "reuniões" para os afastar dos funcionários e, finalmente, fazer amizade com eles e dirigir-se a eles com base no primeiro nome. Por outro lado, a gestão utiliza o sistema de formação contínua para assumir a liderança dos assalariados sobre os objectivos que estes devem estabelecer para si próprios; A integração é, portanto, feita em ambas as extremidades. Os sindicatos beneficiarão mesmo do "cheque sindical patronal" (AXA, GMF, GAN, etc.). A nível europeu, estamos também a trabalhar para completar a implementação daquilo que terá de ser o novo sindicalismo europeizado. Para o efeito, foi criada a UNI-Europa, cartéis de sindicalistas da CFDT, CGT, FO, CFTC... que se congratulam com os empregadores por jogarem o jogo e se prepararem para as "futuras negociações". O programa "exigente" dos apoiantes da UNI-Europa é social e comportamental, limita-se a ser uma correia de transmissão dos direitos humanos e do poder europeu dentro das empresas.

O assédio substitui a exploração. A igualdade entre homens e mulheres corroeu alguns direitos das mulheres e introduziu o trabalho nocturno para as mulheres em França. A não discriminação é também o passatempo deste movimento próximo da associação ATTAC.

Alguns sindicatos de ramo dissolveram-se para promover a formação de sindicatos de empresas e, assim, quebrar o equilíbrio de poder local e de ramo em favor de um maior controle por parte das federações para a nomeação de mandatos sindicais centrais.

Os empregadores, por seu lado, aproveitaram a grande reestruturação para tentar criar novas estruturas de negociação ditas "atípicas", estruturas muitas vezes ligadas à constituição de UES (Unidades Económicas e Sociais). Os advogados serão os primeiros a beneficiar deste melaço, que não conseguirão desvendar. Então, a era dos superdelegados encontrará terreno virgem no qual a supercolaboração finalmente poderá expressar-se, à maneira das uniões verticais da triste memória.

Os empregadores, mediante acordo com os sindicatos, oferecem a possibilidade de nomear um delegado ou coordenador sindical nacional nas grandes empresas; Este último, e só ele, deve compor a delegação sindical que virá negociar. Portanto, não são mais os sindicatos de base ou as secções sindicais que decidem, mas o superdelegado.

Rumo a um sindicalismo unido.

A iniciativa vem-nos das finanças da CGT e do CFDT no sector bancário. Após as várias reversões do CFDT desde o redireccionamento da federação em 1979 e sua gradual transicção para as teses do "liberalismo", os militantes do CFDT, com influência social-democrata, aproveitaram a questão da reforma da previdência para romper com o CFDT. Em 3 de Novembro de 2004, uma grande manifestação foi realizada em Montreuil visando a constituição de um "sindicalismo unido". O que a CGT não conseguiu fazer a partir do topo no Congresso de Estrasburgo, a aliança Nota/Thibault, a CGT-finanças está a organizar a partir de baixo. Para o efeito, está previsto um congresso para a criação da nova federação, a realizar em 31 de Maio de 2005. A nova estrutura vai ao ponto de apelar aos outros sindicatos (SUD, Unsa e FO). Desde este anúncio, iniciou-se uma caça às bruxas em todo o aparelho do CEGETT, porque a experiência do sector financeiro em breve se estenderá a outras federações.

b-Os prejuízos para o emprego em bancos e companhias de seguros.

Em todo o mundo, após fusões e aquisições, os assalariados enfrentarão demissões em massa e perdas de empregos, geralmente reservados apenas para a classe trabalhadora. A precariedade laboral está a generalizar-se entre os "trabalhadores de colarinho branco", segundo um relatório da OIT (Organização Internacional do Trabalho).

Nos Estados Unidos, o número de bancos comerciais diminuiu 30% entre 1985 e 1995. A fusão em 1995 da Chemical Banking e da Chase Manhattan levou à perda de 12.000 empregos. As falhas financeiras na Tailândia resultaram no despedimento de muitos funcionários bancários; Da mesma forma, no Brasil, 79.000 empregos em serviços bancários e financeiros caíram na última década. Na Argentina, entre 1994 e 1999, perderam-se mais de 22 000 postos de trabalho e, desde a Grande Depressão, o sindicato britânico MSF (Manufacturing Science Finance) apresentou uma lista das perdas de postos de trabalho causadas pelas principais fusões e aquisições: • aquisição da ITT Londres e Edimburgo (L&E) pela Norwich Union em 1998: 600 despedimentos na L&E e 80 a 90 postos de trabalho em recursos humanos perdidos na Norwich Union durante a reestruturação que se seguiu à fusão; aquisição da Scottish Amicable pela Prudential em 1997: sem cortes de postos de trabalho; • fusão entre a United Friendly e a Refuge Assurance em 1996: 1 700 despedimentos inicialmente anunciados pela empresa, número que subiu para 2 200, mais 1 000 despedimentos adicionais em resultado da reestruturação; fusão entre a Royal e a Sun Alliance em 1996: a empresa anunciou a eliminação de 4.000 postos de trabalho, incluindo 3.000 no Reino Unido e 1.000 no resto do mundo. De facto, só no Reino Unido, registaram-se mais de 4 000 despedimentos, aos quais se seguiram recentemente uma série de mais 200 despedimentos. Em todos os casos acima, a gerência não fez nenhum esforço para evitar esses cortes de empregos e praticamente não ofereceu programas de treino ou reciclagem aos funcionários. No Norwich Union, alguns trabalhadores foram recontratados com base em novos contratos, mas em condições mais baixas. Na United Friendly, a transformação foi tão completa, incluindo a terceirização de alguns serviços essenciais, que, segundo a MSF, "não é mais a mesma empresa". Algumas medidas de terceirização também foram relatadas à Royal e programas de treino e reciclagem foram oferecidos aos funcionários para remanejamento.

A UNIFI relata que, quando o Midland Bank foi comprado pelo HSBC, alguns empregos na sede da empresa foram eliminados imediatamente depois. Além disso, a fusão pouco alterou a estrutura da grande empresa. Ecoando os comentários do Comfia-CC.OO, o sindicato diz: "essas mudanças devem-se à centralização e uso da tecnologia"

O que o sector dos seguros representa em França em termos de emprego.

Emprega cerca de 240 000 postos de trabalho, ou seja, 1% da população activa em França, uma avaliação objectiva deverá acrescentar os 100 000 postos de trabalho (estimados) das companhias de seguros francesas no estrangeiro. Destes postos de trabalho, 70% são empregados de companhias de seguros ou bancos envolvidos no bancassurance, enquanto 30% são empregos externos, ou seja, em redes de distribuição. São mais de 70.000 agentes gerais e correctores, juntamente com os seus funcionários, oferecendo aos clientes serviços locais em todo o país.

"As fusões ocorridas em 1997 e 1998 afectaram 48% dos postos de trabalho no sector de seguros, entendendo-se que consideramos tanto os empregados da empresa absorvida quanto os da empresa absorvente. De facto, para cada uma das 4 grandes empresas estudadas, é necessário considerar todas as relações que dela resultam; a desagregação da AGF não envolve apenas o seu pessoal (18 000 agentes), mas também os dos grupos Athena (3 500), Generali-France (10 000) e Allianz-France (4 500), a venda de Gan (14 000 pessoas) envolve também o pessoal da Groupama (10 000). Para simplificar, recordamos brevemente que as fusões das companhias de seguros afectaram as suas filiais bancárias (venda da CIC pela GAN ao Crédit Mutuel; para a UAP, venda do Banque Worms)

Em suma, a forma como a AXA conduziu a absorção da UAP fornece indicações úteis das apostas reais de uma fusão; descrito como um "big bang" por Claude Tendil, CEO das companhias de seguros AXA e UAP. A fusão incluiu os seguintes aspectos: o desaparecimento da marca UAP, cujo slogan era "número um obriga"; os sindicatos pedem um estatuto único para um único empregador, e a AXA-UAP concede-o; redução do número de efectivos em 1 500 em 1997; envio de 20 000 cartas de mudança de função e/ou de atribuição aos trabalhadores em França; os 25 500 trabalhadores viram os seus contratos transferidos em 1 de Abril de 1998 para a nova estrutura de gestão; – definição de 12 direcções regionais em vez das 21 direcções preexistentes; – redução das 16 empresas operacionais, reagrupadas em 3 divisões de distribuição; – pressão exercida sobre os agentes gerais (3000 para a AXA e 1500 para a UAP) para aproximar as suas atividades e que o seu número acabe por diminuir de 4500 para 3500 implementação de uma gestão prospectiva dos empregos e das competências, a fim de reduzir o pessoal em 20% em 5 anos (ou seja, menos de 5000 pessoas) medidas de salvaguarda face à "crise dos seguros" (aumento dos sinistros, e guerra tarifária), a fim de aumentar a produtividade do comércio, eliminando assim os empregos excedentários. Se extrapolarmos estas medidas padrão tomadas pela AXA para todas as fusões realizadas, são previsíveis reduções de pessoal na ordem dos 8 000 a 12 000 postos de trabalho; Estes cortes são feitos, na sua maioria, pela não substituição dos que saem.

4- Reestruturação e automatização dos Correios

Em Echanges N° 109 p.51 lemos sobre a greve maciça de 200.000 trabalhadores dos correios em 1970 nos estados do norte e oeste dos Estados Unidos. "A maior parte destes trabalhadores dos correios encontrava-se agora na mesma situação que os operários fabris em termos de disciplina e de insegurança no trabalho, uma vez que as estações de correio estavam a ser mecanizadas e automatizadas. O Presidente Nixon enviou as tropas para manter os Correios a funcionar, mas a greve obrigou o Congresso a aumentar os salários e a reorganizar o sistema postal".

Alguns anos mais tarde, os Correios foram postos em causa pela União Europeia:

Os Correios suecos foram desregulamentados em 1994 e citados na imprensa como um modelo para os outros países da UE. De certa forma, foi um precursor do que viria a acontecer noutros países. O serviço universal que era a função da rede postal não foi imediatamente posto em causa. O Estado interveio pagando uma compensação financeira pela obrigação da filial financeira dos Correios de oferecer serviços em zonas não cobertas pelo mercado, ou seja, não rentáveis para o Estado. No entanto, rapidamente se tornou evidente que a compensação estatal se reduziria com o tempo e que não havia esperança de uma recuperação das receitas dos serviços. Por conseguinte, os Correios suecos foram rapidamente encurralados e obrigados a vender a Postgirot, rompendo o seu acordo de distribuição com o Nordbanken em Março de 2001, o que implicou o encerramento gradual das estações de correio e, na prática, a liquidação dos Correios. Dez anos após a desregulamentação, existem actualmente 35 operadores no mercado sueco, o que se traduziu num aumento das tarifas postais para os clientes particulares e numa descida de mais de 30% dos preços para os grandes clientes. Esta situação não é exclusiva dos Correios suecos, mas do sistema postal no seu conjunto na UE e, provavelmente, no mundo. Na Alemanha, na Áustria, em França e, recentemente, no Japão... No Japão, o Primeiro-Ministro levou por diante o plano do seu governo de privatizar os Correios. Até 2007, a empresa deverá ser dividida em quatro entidades. O objectivo é aproveitar as enormes poupanças (350.000 mil milhões de ienes em contas postais). O questionamento das missões de interesse geral estipuladas pelo Tratado de Amesterdão demonstra a dimensão da crise "societal" que o capitalismo atravessa. O resultado inevitável é a exclusão das pessoas que não têm acesso às novas tecnologias e/ou que vivem em zonas isoladas.

Em França, o sector postal está actualmente em processo de abertura à concorrência, iniciado em 1991 com a separação de La Poste e France Télécom. Em Junho de 2000, foram lançadas as bases para a adopção de uma lei-quadro que transformaria os Correios franceses numa sociedade anónima e, em Novembro de 2004, Jean Paul Bailly, Presidente dos Correios, revelou o seu plano de desmantelamento do serviço público. La Poste afirma que "deve passar da era da produção para a dos serviços". Se invertermos os termos, teremos o início da verdade: "devemos passar da era do serviço público para a da produção de lucros". O Sr. Bailly fala da criação de novas profissões que marcarão uma verdadeira viragem nas actividades dos Correios, como a venda de pão... "É preciso passar de uma cultura de produção para uma cultura de serviço. Temos de passar de uma cultura de compra de produtos para uma cultura de venda de produtos". É necessário decifrar o duplo discurso de Bailly, que dá a impressão de querer deixar a distribuição dos serviços aos Correios. Na realidade, os Correios deverão abandonar a sua rede de serviços em benefício de uma rede de vendas, e os 100 000 empregados de balcão deverão tornar-se "vendedores de serviços". Tal como noutros sectores da economia, os Correios pretendem realizar economias de escala e tencionam desclassificar mais de 6.000 estações.

Desde 27 de Novembro de 2004, La Poste dispõe de um plano contratual para o período de 2003 a 2007. Este plano, que foi qualificado de "desminador", deverá permitir a La Poste enfrentar a concorrência e ser uma das mais competitivas em 2010. Um investimento de 3,4 mil milhões de euros deverá permitir a racionalização dos Correios. A automatização da estação de correios deverá aumentar a percentagem de cartas entregues de 70% para 85% dia+1, contra 90% na Alemanha e nos Países Baixos. A reforma dos centros de triagem (130 actualmente existentes) deverá permitir reduzir o seu número para metade. Serão substituídos por grandes plataformas de triagem, como a que acaba de ser inaugurada no aeroporto de Roissy. Para se ter uma ideia do aumento da taxa de produtividade, ou seja, da taxa de utilização dos assalariados, comparemos o centro de Nanterre, que trata dois milhões de objectos postais por dia com 400 assalariados (e já altamente automatizado), com o centro de Gonesse, que trata cinco milhões de objectos postais por dia com apenas 600 assalariados. O ganho de produtividade é enorme, da ordem dos 40%. Com estas perspectivas de produtividade, os Correios já fizeram as suas contas: até 2012, 120.000 dos actuais 320.000 trabalhadores dos Correios irão reformar-se, pelo que tudo será feito para os substituir o menos possível. Esta medida está em conformidade com as declarações de JP Bailly, que tem por objetivo reduzir os custos com o pessoal em 20 a 30%.

Desde então, o objectivo de JP Bailly é "industrializar" os Correios. O termo "industrialização" não é neutro, pois também é utilizado para os bancos e as companhias de seguros, e indica que, a partir de agora, os "ganhos de produtividade" estarão nos postos de comando, o que pressupõe um controlo permanente das "competências" e dos "desempenhos" dos trabalhadores através da "formação ao longo da vida". Na mesma linha, "um novo contrato social entre La Poste e os seus empregados" está a ser negociado com os sindicatos desde o início de Setembro. Para além das propostas muito vagas sobre o emprego, destinadas a seduzir os... sindicalistas, trata-se de um projecto ambicioso de revisão do quadro de emprego para todos os funcionários. A obsessão dos patrões em inventar as suas próprias regras substitui literalmente o estatuto dos funcionários públicos e as disposições demasiado restritivas do Código do Trabalho. Como os trabalhadores dos seguros e da banca já estão a sentir, eis um resumo das grandes linhas da gestão nos sectores industrializados. "... horários e modalidades de trabalho adaptados às exigências da nossa clientela", "uma carta que especificará as condições de emprego do pessoal nos seus postos de trabalho", "... a codificação dos direitos e obrigações que devem reger o comportamento profissional e as relações entre as pessoas", "a mobilidade é também um meio de desenvolvimento profissional que La Poste formalizará numa carta de mobilidade interna dos assalariados". Tal como Pétain, gostamos de combinar as palavras "Carta" e "Trabalho". A hipocrisia da dominação está envolta em afirmações pomposas: "a consideração pelas pessoas é um dos nossos valores e um princípio do nosso estilo de gestão. A consideração pelas pessoas faz parte integrante dos sistemas de aquisição e reconhecimento de competências e é sancionada no âmbito da gestão do desempenho". Passando ao lado dos "graus", a direcção de La Poste substituiu praticamente, nos últimos 10 anos, os concursos internos/externos pelo clientelismo ou pela selecção com base no perfil; mas, como diz o projecto de novo contrato social: "estas experiências servirão para preparar a extensão da gestão por competências aos diferentes sectores de La Poste". Quanto ao banco postal, tudo indica que acabará por se assemelhar ao banco sueco: quanto mais emergir, menos se assemelhará ao que é hoje um centro de cheques ou uma estação de correios. O aumento dos meios (empréstimos ou seguros, etc.), para imitar os bancos que já o fazem num mercado estagnado ou mesmo deprimido, é um soporífero apenas para aqueles que acreditam nos contos de fadas da gestão! O âmbito da empresa não aumentará com a "fidelização" dos jovens clientes, mas estes procedimentos traçarão o perfil de uma empresa muito diferente que poderá finalmente sobrepor-se ao sector bancário e fundir-se com ele. Ao expulsar a parte da população considerada sem interesse e o número correspondente de agentes inúteis, os Correios terão desaparecido enquanto tal.

A fim de liquidar o seu estatuto de funcionário público, os empregados de balcão deverão assinar uma nova descrição de funções em 2004. Enquanto o actual lhes exige que "ofereçam produtos de La Poste", agora terão de "contribuir para o volume de negócios fazendo ofertas comerciais". De momento, estas perspectivas não perturbam a alegria dos empregados de balcão dos serviços públicos, que estão a fazer o jogo do comerciante! Recordamos que, embora não haja vítimas mortais, a guerra comercial é muito parecida com a guerra (há "feridas" que causam danos). Esta guerra é travada por e entre empregados que não se conhecem e que se digladiam, em benefício de patrões que se conhecem bem, mas que não se digladiam...

Em conclusão.

Todas as fusões e aquisições que acabámos de descrever são apenas um reflexo da crise profunda e duradoura que se manifesta no próprio coração do capital financeiro e, portanto, ao nível do capital total. A cadeia de amortizações e as crises bancárias indicam os limites da valorização do capital e recordam àqueles que se esqueceram que o dinheiro não pode produzir dinheiro como pêras. A crise bancária, ou seja, a falência pura e simples dos bancos, confirma simplesmente a contradição fundamental do sistema capitalista entre as relações de produção e as forças produtivas. Tal como nos anos 30 nos Estados Unidos, a crise bancária está a varrer o mundo. Tendo aprendido as lições do famoso crash de 1929, os governos apressaram-se a intervir (com o dinheiro dos contribuintes) para salvar os bancos que não tinham cumprido as suas dívidas. Nos Estados Unidos, o Estado injectou 7,5 mil milhões de dólares em 1984 para salvar o Continental Illinois, depois 4 mil milhões para o First Republic Texas, 350 mil milhões para salvar as caixas de poupança em 1989, etc. No total, entre 1984 e 1995, 1234 bancos comerciais beneficiaram da assunção das suas dívidas incobráveis pelo Estado. Em França, para salvar o Crédit Lyonnais, o Estado pagou cerca de 100 mil milhões de francos franceses (10.000 francos por contribuinte). O Japão é o país onde o Estado intervém constantemente para salvar os bancos da falência: nacionalização do Long Term Credit Bank, depois do Nippon Credit Bank em 1999.

Após a crise mexicana, o Abonnis, oitavo maior banco do México, entrou em insolvência técnica em Março de 1995. Na Argentina, o Banco Extrader foi à falência na sequência da crise do peso, tal como o Banco Bases e o Banco Multicredito; no Brasil, o Banco Económico da Bahia apresentou um pedido de insolvência técnica. Os principais bancos privados do Brasil adoptaram um plano de garantia dos depósitos do banco no valor de 800 milhões de reais.

1995-Crise na Europa de Leste: após ter suspendido as suas operações, o Banca Baltija, o principal banco comercial da Letónia, é declarado em falência em Junho de 1995, incorrendo em perdas especulativas de 400 milhões de dólares e encerrando quatro outros bancos.

República Checa: o Césars Bank é encerrado em Outubro de 1995, na sequência de prejuízos avultados. E poderíamos continuar com a lista de todos os bancos enfraquecidos pelos grandes escândalos financeiros. 2005 será, sem dúvida, o ano em que se revelará toda a dimensão da crise financeira, que se desenha desde os anos 80 e que eclodiu de forma esporádica.

Gérard Bad Dezembro 2004

ver também Uma experiência na organização dos trabalhadores. Conselho Geral do Pessoal de Seguros de Vida Ò

Bibliografia

1) Concentração bancária na Europa (União dos Bancos do Magrebe – Argel, 3 de Julho de 2000.) 2) Deriva bancária. 3) A Revista de Economia Financeira nº 61. 4) Seminário de História Contemporânea David Rouzeau Professor Sébastien Guex 30 de Maio de 2001, "The American Banking Crisis 1930-1933". 5) Fusões entre companhias de seguros (1993-1998): as apostas humanas de um "big bang", Bernhard Kitous (Centro de Estudos Norte-Americanos, EHESS). 6) "As estratégias sindicais face às convulsões na Europa dos bancos e dos seguros" (Le Monde, 18 nov. 1998) 7) Economia real e esfera financeira (Jornal Oficial de 30/11/1988.) 8) The impact of mergers and acquisitions in the banking and financial services sector on employment (O impacto das fusões e aquisições no sector bancário e dos serviços financeiros sobre o emprego), Relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT), Genebra, 2001. 9) T. Thomas, A Hegemonia do Capital Financeiro e sua Crítica, ed. 10) "Produtividade", economia, ciências sociais, edição de Nathan, Pascal Combemale, Arnaud Parienty.

 

Fonte: Les restructurations des secteurs financiers depuis les années 1980. – les 7 du quebec

Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice




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