15 de Junho de 2024 Robert Bibeau
Por Khider Mesloub.
Mal Macron anunciou a decisão de dissolver a Assembleia Nacional, o líder
do partido populista de esquerda, Jean Luc Mélenchon, denunciou a medida.
"O presidente mandou para casa as únicas pessoas que tinham
legitimidade", lamentou Mélenchon.
De facto, Macron resolveu finalmente expulsar os desordeiros populistas de
esquerda e de direita da Assembleia Nacional, que se tornou incontrolável. E,
sobretudo, em vias de perder credibilidade e de se deslegitimar definitivamente
devido ao impopular uso recorrente do 49.3 pelo governo, para fazer passar os
seus projectos de lei na ausência de uma maioria presidencial. E Macron
pretende fazer passar no Parlamento dezenas de leis anti-sociais e
militaristas. Mas por um parlamento composto por uma grande maioria dócil e
submissa, comprometida com o programa de guerra social e militar que está a ser
preparado pela burguesia belicista francesa.
É verdade que o Rassemblement National teve um avanço deslumbrante, obtendo
um resultado espectacular nas eleições europeias. Mas tratou-se de uma eleição
extra-nacional, uma vitória eleitoral de um órgão europeu que não tem qualquer
poder legislativo, pois é efectivamente dirigido por lobbies .
Em todo o caso, esta vitória eleitoral europeia do Rassemblement National
não terá qualquer impacto em França. Terá ainda menos impacto nas políticas
económicas e imperialistas da França. Este partido populista de direita será
apenas um membro simbólico do Parlamento Europeu.
De resto, desde a sua criação, o Rassemblement National (ex-Frente
Nacional) sempre fez número. Serve de espantalho para a burguesia francesa. É
um partido "balão", insuflado eleitoralmente de acordo com as
necessidades do momento na política francesa.
Para recordar, este "balão da FN" foi fabricado de raiz pelas
manobras de François Mitterrand. Foi este antigo membro da Cagoule, uma
organização de extrema-direita petainista durante a ocupação, depois
guilhotinador ministerial dos combatentes argelinos durante a guerra de
libertação, que se tornou Presidente em 1981 e permitiu a entrada da Frente
Nacional no Parlamento em 1986, graças à introdução da representação
proporcional numa única volta.
Há cerca de quarenta anos que a Frente Nacional, cujos resultados foram
inflacionados em nome da causa, é utilizada para galvanizar as campanhas dos
"democratas" contra a pretensa "ascensão da ameaça
fascista". Para isso, estes "democratas" burgueses de esquerda e
de extrema-esquerda, constituídos em "frente republicana", apelam
regularmente aos proletários para que se mobilizem eleitoralmente em defesa da
democracia, ou seja, do Estado da França rica e imperialista.
A verdade é que a classe dominante francesa sabe que é impossível que o
Rassemblement National chegue ao poder.
O programa deste partido populista, de direita e pacifista é totalmente
impraticável. Acima de tudo, vai contra as necessidades actuais do capitalismo
belicista francês. Pior ainda. A sua posição anti-europeia e isolacionista, bem
como as suas exigências de paragem total da imigração (o que equivale a uma
proibição da exploração do trabalho imigrante, a última linha de defesa para os
patrões falidos), vão contra os objectivos do capital nacional francês. (1)
Uma coisa é certa, neste contexto de agravamento da crise económica e de
exacerbação das tensões inter-imperialistas, os partidos populistas de esquerda
e de direita, LFI e RN, com programas políticos totalmente desfasados das necessidades
objectivas da burguesia francesa, tornaram-se um verdadeiro obstáculo à gestão
da economia militarista e aos objectivos imperialistas da nação francesa.
Hoje, ao dissolver a Assembleia Nacional, Macron espera criar, agitando o
"perigo fascista", uma sacudidela de unidade nacional eleitoral que
elegerá uma nova maioria composta por deputados de todas as formações ditas
"republicanas", com excepção dos dois partidos populistas de esquerda
e de direita, LFI e RN.
Além disso, ao convocar as eleições legislativas tão cedo, Macron obriga os
eleitores, nomeadamente os abstencionistas, a mobilizarem-se em massa para
apoiar o Governo, para "salvar a democracia ameaçada", segundo a
propaganda habitual do Eliseu, pelo partido de extrema-direita de Marine Le Pen.
Desta vez, no entanto, o objectivo ideológico da unidade nacional tão
urgentemente procurada por Macron não é supostamente salvar a democracia do
totalitarismo (que já foi adoptado pelo Estado), mas poder desencadear uma
guerra militar sem obstáculos, graças a um Parlamento dócil e submisso. Mas
também para desencadear a sua guerra social contra os trabalhadores,
desmantelando, com o apoio incondicional do novo parlamento constituído por
bacocos, todos os seus direitos sociais (salários mais baixos e impostos mais
elevados) e políticos (restricções às liberdades e ao direito de expressão: a
proibição do LFI é uma possibilidade), a fim de apoiar o esforço de guerra
militar e social.
Khider MESLOUB
(1) Leia
nosso artigo: Existe um perigo fascista na casa de França? publicado na Argélia54 em 9 de Junho de 2024.
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis
Júdice
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