11 de Junho
de 2024 Robert Bibeau
Reunião do Centro de Estudos Eurasiáticos e Mediterrânicos com o
General Marco Bertolini
Desde 24 de Fevereiro de 2022 e da intervenção russa na Ucrânia, temos
assistido a uma barragem de propaganda imbecil em todo o sistema mediático
francês. Com uma série de oradores em palco, incluindo jornalistas militantes e
ignorantes, académicos de má reputação, tristes vagabundos intelectuais, falsos
especialistas e loiras ucranianas de plantão. Mas não podemos esquecer o bando
de ganaches (bolo de chocolate em camadas – NdT), alguns deles militares de
alta patente do segundo pelotão, que não hesitam em aparecer na televisão da
treta. Entre os generais, citaremos apenas os mais emblemáticos. Entre eles,
Michel Yakovleff, que é completamente louco e não pára de dizer disparates,
Nicolas Richoux, que não pára de demonstrar o seu cretinismo, e Dominique
Trinquand, o tipo que nos explica com um ar penetrante que sabe mais sobre o
que se passa na cabeça de Putin do que o próprio Putin. Não são os únicos que
alimentam as nossas preocupações sobre o nível das altas patentes do exército
francês, infelizmente há outros. Limitar-nos-emos a recordar que este é um
problema que se coloca em todos os exércitos em tempo de paz. A subida na
hierarquia nem sempre se baseia no reconhecimento de qualidades reais. Dois
exemplos: primeiro, os 169 generais demitidos (precisamente porque foram
enviados para Limoges) por Joffre por incompetência nas primeiras semanas da
Primeira Guerra Mundial. Depois, o desastre de 1940, com um Chefe de
Estado-Maior radicalmente incompetente e o facto de apenas um general de cinco
estrelas, o General Catroux, se ter juntado a Londres.
Para nos tranquilizarmos, vamos publicar uma entrevista com um general italiano, Marco Bertolini, que mostra que, no exército italiano, ainda há homens de uma certa estatura, baseados na análise e na ausência de duplos discursos, e que, provavelmente, isso também acontece no exército francês.
Régis de Castelnau
Entrevista conduzida por Stefano Vernole
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Bom dia, General. A semana começou com as reacções do Governo italiano às
declarações de Jens Stoltenberg, que apelou aos aliados que fornecem armas à
Ucrânia para que “considerem” o fim da proibição de as utilizar para atingir
alvos militares na Rússia, porque Kiev “tem o direito de se defender e isso
inclui atingir alvos em território russo”. Sem prejuízo do facto de que, na
realidade, a Ucrânia já ataca alvos em território da Federação Russa (Belgorod,
em particular) há dois anos, e não apenas na Crimeia disputada, acredita que o
governo italiano será capaz de resistir ao efeito de “arrastamento”, mesmo após
as eleições europeias", causado pelos comentários de Stoltenberg e de outros
líderes europeus (Macron, em particular)? Não acha que a retórica atlantista
procura uma escalada dia após dia e que o comportamento anterior do nosso país
face às pressões americanas não nos tranquiliza totalmente quanto à
possibilidade de nos mantermos afastados de um conflito crescente?
"Em primeiro lugar, penso que tenho de admitir que Stoltenberg expôs, certamente sem querer, a hipocrisia do Ocidente no seu conjunto. O Ocidente, entendido como esse conglomerado que designa a Anglosfera em geral e a NATO e a UE em particular, está em guerra com a Rússia há dois anos. É pelos tons ofensivos (carniceiro, criminoso, ditador, etc.. ) usados para definir quem foi e continua a ser o Presidente eleito e reconhecido de um país com o qual ainda mantemos relações diplomáticas, pelas manifestações de ódio “racial” contra tudo o que é russo (da cultura ao desporto, passando pela exclusão dos atletas paraolímpicos do país das competições internacionais) e, claro, pelo regime de sanções que, para além de afectar sobretudo as nossas economias, contraria décadas de relações comerciais entre a Europa Ocidental e a Europa eslava que trouxeram bem-estar e riqueza a ambas. E também segurança.
Mas, durante todo este longo período, persistiu uma hostilidade subjacente,
nomeadamente por parte do extremo Ocidente, que não conseguia digerir uma
ligação entre a Europa e a Ásia através da Rússia, que ameaçava criar um enorme
centro de poder naquilo que era conhecido como o Heartland de Mackinder, o
inventor da geopolítica. Isto em detrimento das potências insulares, navais e
anglo-saxónicas que sempre viram a Europa como uma entidade algo estrangeira,
para não dizer hostil. Em todo o caso, vale a pena ver.
Nos mesmos anos em que Vladimir Putin foi recebido nas nossas chancelarias
com todas as honras, não faltaram, de facto, acções destinadas a minar o que
restava da zona de influência russa ultrapassada pelo colapso da União
Soviética. Alguns anos após a queda do Muro de Berlim, foi construído um muro
mais pequeno nos Balcãs para isolar a minúscula Sérvia e guetizar a ainda mais
pequena República Srpska da Bósnia, enquanto quase todos os países
anteriormente aliados do Pacto de Varsóvia passaram para a NATO, e até mesmo
partes da própria ex-URSS (os Estados Bálticos). Com a Primavera Árabe, que foi
coincidentemente relançada pelo trio Estados Unidos, Reino Unido e França com o
ataque à Líbia e a destruição da Síria, aliado histórico de Moscovo, estava criado
o cenário para novos desenvolvimentos, que infelizmente se desenrolam agora
diante dos nossos olhos.
Deixando de lado esta
digressão histórica e voltando ao tema em questão, a hipocrisia ocidental
atingiu o seu clímax com o fornecimento à Ucrânia de armas altamente
sofisticadas, com a cláusula pilatesca (da palavra Pilates – NdT) que proíbe -
pelo menos oficialmente - a sua utilização contra o território russo. Uma
cláusula absurda e provavelmente impossível de respeitar por aqueles que estão
a combater um inimigo mais forte com estas armas. E por aqueles que agora
percebem claramente que a sua própria sobrevivência política, ou mesmo física,
depende do resultado de uma guerra que
agora parece perdida no terreno; a menos que tudo seja posto de novo em
jogo, alargando o seu âmbito e envolvendo a NATO e a União Europeia.
Em suma, é neste “gostaria mas não posso” que reside a duplicidade
ocidental, como diz Stoltenberg com “o rei está nu”, o que envergonha toda a
gente. E este embaraço é também motivado pelo facto de que, ao contrário de
Macron que é o Presidente eleito de França e, como tal, tem todo o direito de
fazer e dizer o que considera necessário no interesse do seu país, Stoltenberg
é apenas um alto funcionário nomeado cujos poderes se limitam a relatar e
coordenar as decisões tomadas por unanimidade pelos países da NATO, alguns dos
quais, como sabemos, não veem com bons olhos a procura de novos problemas.
No entanto, não creio que ele esteja a falar fora de tempo e que esteja
certamente a participar, sem ter o direito de o fazer, numa escalada de tom que
começou há pelo menos dois anos, para preparar a opinião pública e levar uma
guerra às suas consequências extremas. Até agora, a Rússia tem tido uma
vantagem táctica e operacional considerável, para desgosto daqueles que previam
a sua derrota definitiva e a sua exclusão da Europa e do Mediterrâneo.
Em suma, chegámos às consequências previsíveis de um infeliz curso de ação
em que todo o Ocidente se curvou às decisões bélicas de Londres e Washington,
na ilusão de que existia uma diferença suficiente de potencial tecnológico,
social, moral e motivacional para alcançar o sucesso.
Dito isto, devemos ficar aliviados por constatar que muitos governos,
incluindo o nosso, estão a afastar-se das afirmações de Stoltenberg e Macron;
mas, na verdade, tenho algumas dúvidas sobre se esta atitude cautelosa se
manteria face a um grande acidente nuclear em Energodar, por exemplo, exposto
ao fogo de artilharia ucraniano durante dois anos, quando todos parecem tê-lo
esquecido, ou a um casus belli com grande impacto mediático que conduza a um
apelo às armas em defesa da “democracia” ucraniana.
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Desde 17 de abril, a Ucrânia utilizou pelo menos 50 ATCMS para atacar vários
alvos. Alguns destes ataques foram bem sucedidos, atingindo instalações
importantes: pelo menos dois S-400, um depósito de munições e pelo menos três
aviões num ataque ao aeroporto de Belbek em 16 de Maio. Um dos dois radares da
Armavir no sul da Rússia foi atingido e, a julgar pelas fotografias,
danificado. Os dois sistemas de radar da Armavir, que funcionam em frequências
UHF, cobrem o Irão, o Médio Oriente e a parte mais a sul da Ucrânia. Acima de
tudo, fazem parte da rede de alerta precoce da Rússia para a sua defesa contra
mísseis ICBM e ataques nucleares; podem também identificar aviões e mísseis de
outros tipos, mas essa é a sua principal função. Na prática, um radar utilizado
pela Rússia para identificar mísseis nucleares apontados ao seu território foi
atingido. Se um radar deste tipo for danificado, não só as capacidades de defesa
contra um ataque nuclear ficam limitadas, como também aumenta consideravelmente
o risco de identificar como ameaça algo que não o é e de accionar as
contramedidas adequadas mesmo na ausência de ameaça. Em suma, considera que o
risco de uma reacção russa, mesmo nuclear, ainda é real?
"Este é um dos riscos a que me estava a referir. Os sistemas de alerta
precoce dos Estados Unidos e da Rússia, em particular, mas também da China, são
parte integrante da dissuasão nuclear no seu conjunto, tal como as armas e os
sistemas de lançamento que permitem que sejam lançadas contra os alvos. É
graças a eles que as potências nucleares são capazes de identificar as ameaças
ao seu território muito antes de estas surgirem no horizonte. Mas é também
graças à consciência da sua existência que os potenciais inimigos sabem que os
seus ataques seriam detectados com grande antecedência, desencadeando uma
retaliação.
Voltando ao caso específico que mencionou, a possível ineficácia do alerta
precoce de Armavir, que abriria um buraco no canto sudoeste da Rússia, poderia
desencadear falsos alarmes, ou mesmo empurrar a Rússia para um ataque
preventivo para evitar o primeiro tiro inimigo. Em suma, se Zelensky tivesse
conseguido desactivar o radar, teria infligido graves danos não só às defesas
russas, mas também às dos Estados Unidos. Agora exposta a uma reacção contra os
seus objectivos estratégicos e não militares, a dissuasão estratégica teria
simplesmente perdido o seu “instrumento” táctico ucraniano. A não ser que os
Estados Unidos estejam por detrás do ataque, o que sugeriria que a exploração
dos seus resultados está iminente, com as consequências que podemos imaginar.
Mas Zelensky não está a ser muito subtil, pois está a lutar pela sua
própria sobrevivência. Uma sobrevivência posta em causa pelos contínuos reveses
no terreno, pela resistência cada vez maior a uma mobilização que esgota o que
resta da sociedade ucraniana, pelas acusações de ilegitimidade política
decorrentes da expiração do seu mandato eleitoral, pela presença de outras
personalidades, como Arestovich e Zaluzny, que, mesmo estando longe da Ucrânia,
não deixam de exprimir um maior carisma, devido ao cansaço da opinião pública
ocidental, cada vez mais relutante em experimentar o que é “morrer por Kiev”.
Por outro lado, pode contar com o terror do Ocidente perante uma eventual
vitória russa que ponha em causa a sua credibilidade mundial, pelo que investiu
nesta guerra por procuração do ponto de vista retórico, político, financeiro,
energético e militar, exprimindo neste último domínio o melhor dos seus
instrumentos tácticos, actualmente insuficientes. A França dá voz a um Ocidente
que já teve de dar muitos passos atrás em África, com um intervencionismo
perigoso que, de momento, parece não atrair mais ninguém a não ser os pequenos
Estados bálticos, muito zangados e desejosos de lutar, enquanto se agarram
firmemente às saias da mamã Reino Unido.
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Na Europa, parece que estamos perante uma “tempestade perfeita”. A Ucrânia está
a gerar um efeito dominó extremamente perigoso e várias crises regionais estão
a ser reactivadas: Balcãs (Republika Srpska e Kosovo), Transnístria e Gagaouzie
(Moldávia e Roménia), Kaliningrado e o corredor de Suwalki (Alemanha, Polónia e
Bielorrússia), Cáucaso (Arménia e Azerbaijão), tensões no Báltico sobre a
demarcação de fronteiras (Estónia, Lituânia e Finlândia) e a rivalidade
russo-inglesa pelo controlo do Mar Negro. O Presidente húngaro, Viktor Orban,
denunciou não só a agressividade da opinião pública europeia, mas também a
realização de uma reunião em Bruxelas com o objectivo de envolver directamente
a NATO no conflito ucraniano e, inevitavelmente, noutros teatros de crise. Como
avalia a proposta de um exército europeu integrado na NATO (recentemente
apresentada por von der Leyen e outros)? Ou seria preferível um
reposicionamento em termos de interesse nacional, como sugerido por Orban?
"As preocupações decorrentes da guerra na Ucrânia ofuscam muitas vezes o contexto mais alargado, que é ainda mais preocupante. O facto de a Rússia estar cercada é um facto incontestável, não só devido à transição de muitos países do Pacto de Varsóvia para a NATO ou à influência americana nas antigas repúblicas soviéticas a sul, mas também devido à emergência de situações de crise que estão a um passo de explodir nas fronteiras do país. É o caso do Mar Báltico, que se tornou subitamente um lago “NATO” quando a Suécia e a Finlândia aderiram à Aliança Atlântica, após um longo período de neutralidade, apesar de ser a base de uma das cinco frotas russas, em Kaliningrado. O facto de o almirante Stavridis, antigo SACEUR e agora director de alto nível da Fundação Rockefeller, ter falado da necessidade de neutralizar o enclave russo em caso de crise aponta claramente para a possibilidade não muito distante de um caso ucraniano, mesmo nestes países, para satisfação das repúblicas bálticas e da Polónia. Razões semelhantes explicam a crise na Roménia, com o projecto de construção da maior base militar da NATO na Europa em Mihail Kogqlniceanu, perto de Constanta, na costa do Mar Negro. Entretanto, as manobras moldavas para colocar a Transnístria “russa” de novo sob a soberania de Chisinau só podem ser vistas como uma ameaça por Moscovo, que há décadas utiliza o seu limitado contingente de manutenção da paz nesta estreita faixa de território.
Entretanto, nos Balcãs, a Sérvia tem estado sob uma pressão considerável
desde há algum tempo. A introdução, por iniciativa da Assembleia Geral da ONU,
de um dia de comemoração do “genocídio” de Srebrenica teve um grande impacto na
população sérvia da Bósnia, que, segundo o presidente da Republika Srbska,
poderia agora decidir separar-se da Bósnia-Herzegovina. Em suma, uma espécie de
“25 de Abril” balcânico, que demonstra a verdadeira função de certos “dias de
memória”, não destinados a superar a fealdade de ontem, mas simplesmente a
congelá-la para uso futuro; ou a impedir que países potencialmente importantes,
no caso da Itália, falem a uma só voz na cena internacional.
No Cáucaso, outra zona estratégica onde se cruzam e chocam interesses
russos e americanos (e turcos), a situação não é melhor, com a Geórgia, um país
aspirante à NATO e à UE, afectada por manifestações que podem levar a um
Euromaidan local, a pretexto de uma lei que apenas procura assegurar a
transparência no financiamento das ONG. Felizmente, para já, a reacção do
Governo resiste à indignação fácil do Ocidente, que gostaria de ditar as opções
políticas locais, mas a região é demasiado importante para se desistir de abrir
uma nova frente que envolva Moscovo. E, claro, não podemos esquecer o conflito
azeri-arménio, com os Estados Unidos, a Rússia e a Turquia a lutarem pelo
controlo da zona, que é fundamental para a criação do corredor que deveria
conduzir de São Petersburgo ao Irão e deste à Índia. Quanto ao Irão, o seu
conflito com Israel lança pelo menos uma sombra de dúvida sobre a natureza
aleatória do incidente que levou à morte do Presidente Raissi e do seu Ministro
dos Negócios Estrangeiros, criando uma zona de conjunção entre a crise
ucraniana e a crise do Médio Oriente, capaz de atrair todos para o seu vórtice.
No que respeita à questão concreta, perante esta multiplicação não
aleatória de crises, continua a sentir-se a tentação de criar um “exército
europeu”. No entanto, creio que se trata de um falso problema que tende a fazer
esquecer o carácter essencial das Forças Armadas como defesa da soberania
nacional. Em suma, a criação de um instrumento militar “europeu”, na sequência
dos receios da crise ucraniana, significaria simplesmente uma abdicação do que
resta da soberania nacional individual, para confiar as suas forças a um
comando que, neste caso particular, estaria sob o controlo de outros; A França,
a Alemanha, a Polónia e o Reino Unido, em particular (apesar de não fazerem
parte da UE), concentraram-se nos “seus” interesses nacionais em vez dos
interesses evanescentes e virtuais da União ou da Aliança".
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Enquanto a situação é crítica na Europa, não parece estar a melhorar no resto
do mundo. Em África, assistimos a uma confrontação total entre as potências
ocidentais e os países BRICS, com os turcos como terceira roda, pelo controlo
das respectivas esferas de influência; no Médio Oriente, somos espectadores
activos do massacre palestiniano (através do fornecimento de armas a Israel) e
da intensificação do ressentimento no mundo islâmico contra o Ocidente; na Ásia,
a crise de Taiwan está a escalar perigosamente. Parece claro que, sem um
regresso à diplomacia internacional, o futuro do mundo será cada vez mais
conturbado e perigoso. O que é que podemos esperar deste ponto de vista nos
próximos meses/anos? Existe algum potencial diplomático para, pelo menos,
limitar os conflitos actuais e futuros?
"Estamos numa
fase de transformação dramática da chamada ordem mundial em algo diferente,
ainda difícil de prever. É certo que a realidade dos BRICS parece ameaçar o
tradicional domínio anglo-ocidental, mas, por outro lado, não há dúvida de que,
de um ponto de vista estratégico, o jogo ainda não terminou. Está a ser
consolidada uma forte ligação entre a Rússia e a China, também do ponto de
vista militar, mas também é verdade que as zonas de fricção ou de conflito
entre o Ocidente e o Oriente ao longo da ligação euro-asiática colocam grandes
problemas à Rússia. A isto junta-se o problema intratável do Médio Oriente,
onde Israel age com extrema falta de escrúpulos, uma espécie de corrupção
ocidental no Oriente, sem receio de ter de responder perante ninguém pelos seus
actos, mesmo os mais cruéis para com a população palestiniana. E o fantasma de
uma confrontação regional que envolve o gigantesco Irão, alvo de ataques na
Síria desde há anos, não nos permite alimentar demasiadas ilusões quanto a um
futuro pacífico.
Em suma, não parece que haja uma era de paz pela frente, o que limpa o campo de outra hipocrisia subjacente do Ocidente, agora forçado a abandonar a ilusão de que a guerra foi apagada da história pela irrupção da realidade. E a da vitória das democracias sobre o autoritarismo europeu há oitenta anos. Esta realidade contradiz o sonho de Francis Fukuyama, segundo o qual a história já não seria necessária, mas não deixa de ter um belo efeito no nosso presente virtuoso. Virtuoso, inclusivo, acolhedor, solidário e eco-sustentável.
Precisamos, de facto, de uma diplomacia capaz de reduzir as tensões, mas antes precisamos de uma política que promova verdadeiramente - e não apenas em palavras - o diálogo e não o confronto. De facto, é a política que move a diplomacia, e se a política quer a guerra, a diplomacia só pode dar um passo atrás.
Pode parecer estranho, de facto, mas para muitos, a guerra continua a ser não um mal absoluto, mas um meio aceitável de defender o que se considera serem os interesses vitais de um país, sejam eles bons ou maus. Por isso, é feita pelos militares e não pela polícia, embora na nossa hipócrita procura de eufemismos que misturam modas constitucionais e realidades politicamente incorrectas tenhamos chegado a inventar a categoria das operações policiais internacionais, irmãs gémeas do oximoro das operações policiais, ao som de tiros de canhão, claro. Pessoalmente, penso que a referência aos “interesses vitais” pode ser entendida por todos, tal como a referência ao “próprio país”. Mas é preciso também deixar claro que os valores ou princípios frequentemente evocados (por exemplo, a “democracia”) não são vitais, sobretudo quando são utilizados para cortar pela raiz as ambições de defesa de outros. Infelizmente, isto acontece há décadas e, se tivéssemos estado atentos ao que se passava no mundo exterior relativamente à nossa bolha euro-atlântica, teríamos reparado nisso muito mais cedo do que hoje. Muito antes do colapso.
fonte: Vu du Droit
Fonte: Entretien avec le général Marco Bertolini (Italie)…le clan de l’OTAN se chamaille – les 7 du quebec
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis
Júdice
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