11 de Junho de 2024 Robert Bibeau
A resposta da Rússia a esta questão determinará a sua resposta a qualquer intervenção
convencional da NATO na Ucrânia.
As relações
russo-americanas deterioraram-se mais do que nunca no final de Maio, em
resultado de três acontecimentos. Primeiro, os EUA deram o pontapé inicial
ao permitir
mais abertamente que a Ucrânia usasse as suas armas para atacar
alvos dentro da Rússia,
em seguida, a Polónia
disse que os Estados Unidos atacariam
todas as forças russas na zona
de operações especiais se Moscovo usasse armas nucleares,
e, finalmente, o
Presidente Putin indicou que espera que a
NATO agrave significativamente o conflito ao longo do Verão.
Tudo isto já é suficientemente mau, mas o que a Ucrânia acabou de fazer só está
a piorar a situação.
A Rússia confirmou que
a Ucrânia atingiu pelo menos um dos seus sistemas de alerta nuclear precoce,
enquanto Kiev afirma ter
visado um segundo mais fundo no interior do seu adversário, o
que (ainda?) não foi confirmado. Estas estruturas detectam a aproximação de
mísseis balísticos intercontinentais, do tipo que poderia ser lançado pelos
Estados Unidos no caso de um primeiro ataque, permitindo assim à Rússia
preparar-se para um inevitável segundo ataque. Não têm nada a ver com o
conflito ucraniano e tudo a ver com a estabilidade estratégica.
Ambos os sistemas permaneceriam
operacionais, mas trata-se, no entanto, de uma evolução sem precedentes, uma
vez que nunca antes um país visou os sistemas de outro país, o que poderia
torná-los parcialmente cegos para um primeiro ataque no pior dos casos, dando
assim à parte atacante uma vantagem considerável nesta eventualidade. A
deterioração adicional das relações russo-americanas, que ocorreu
independentemente deste desenvolvimento, levou as tensões ao seu nível mais
alto desde a Crise dos Mísseis de Cuba, pelo que não poderia ter vindo em pior
altura.
A pergunta mais importante que se faz actualmente no mundo é se a Ucrânia
está a comportar-se como um bandido, talvez para provocar uma crise como a
mencionada acima, na esperança de forçar a Rússia a retirar-se de pelo menos
parte do território que Kiev reivindica como seu, ou se foi feito com a
aprovação dos Estados Unidos.
A reportagem do Washington Post de
que as autoridades dos EUA estão preocupadas com o que a Ucrânia acabou de
fazer dá credibilidade à primeira opinião, mas pode ser simplesmente
desinformação para negação plausível.
Ao mesmo tempo, vale a
pena lembrar que a Ucrânia desafiou
as exigências públicas dos EUA de não visar as refinarias de
petróleo russas. O governo Biden não quer que o preço dessa commodity dispare
antes das eleições de Novembro, mas Zelensky ainda ordenou que as suas forças
atingissem refinarias. Também aconteceu no impasse no Congresso sobre o aumento
da ajuda à Ucrânia, que foi
resolvido logo depois que esses ataques se tornaram
problemáticos. Por conseguinte, não seria inédito que a Ucrânia voltasse a ser
um arruaceiro.
Além disso, o Financial Times informou
que "algumas autoridades ucranianas afirmam que (os laços com os Estados
Unidos) se esgotaram" devido às restricções acima mencionadas para atacar
refinarias de petróleo russas e à "paranoia" de Zelensky (como
descrito por um de seus supostos insiders ucranianos) sobre as intenções dos
EUA. Ele também está ofendido por Joe Biden não participar das próximas
"negociações de paz" na Suíça, depois de desprezá-las numa colecta
de fundos,
o que supostamente o levou a enviar uma nota a ordenar que as autoridades
criticassem o líder americano.
No entanto, a melhor
abordagem seria, sem dúvida, a Rússia assumir que os Estados Unidos aprovaram,
pelo menos tacitamente, os ataques da Ucrânia ao(s) seu(s) sistema(s) de alerta
precoce, uma vez que esta escola de pensamento se alinha com a tendência de
escalada da semana passada. Afinal, se a OTAN como um todo ou, pelo menos, uma
"coligação
de vontades" desse bloco iniciar uma intervenção convencional na
Ucrânia, isso poderia levar a Rússia a usar armas nucleares tácticas em auto-defesa
para deter essa força invasora se ela atravessar o Dnieper e ameaçar as suas
novas regiões.
Nesse caso, os EUA poderiam atacar convencionalmente todas as forças russas
na zona de operações especiais, como a Polónia disse que faria, ou ir directo
ao ponto lançando um primeiro ataque nuclear que poderia ser facilitado pelo
seu representante ucraniano executando novos ataques aos seus sistemas de
alerta precoce. Também é possível que outros ataques semelhantes simplesmente
precedam um primeiro ataque nuclear dos EUA antes de qualquer intervenção
convencional da OTAN, se os formuladores de políticas concluírem que uma troca
seria inevitável.
Não está, portanto,
excluído que a Ucrânia sonde a segurança dos sistemas de alerta precoce da
Rússia a pedido do seu protector americano em antecipação deste cenário
catastrófico, daí a sabedoria do conselho de Dmitry Suslov ao seu país para
realizar um teste nuclear "demonstrativo". Este influente
especialista do Conselho Russo de Política Externa e de Defesa teve a sua
proposta política traduzida e republicada na RT, o
que a levou ao conhecimento de todo o mundo num esforço para enviar um sinal
aos Estados Unidos.
Os leitores podem
também lembrar-se que a RT publicou em Junho passado a proposta de Sergey
Karaganov, um colega de Suslov, que explicava por
que razão a Rússia deveria bombardear a Europa para dissuadir
os Estados Unidos na Ucrânia. Esta última proposta era muito mais prática e não
comportava qualquer risco de desencadear a Terceira Guerra Mundial. Além disso,
poderia ser uma conclusão apropriada para os exercícios
tácticos de armas nucleares que a Rússia acaba de realizar.
Estes exercícios destinavam-se a dissuadir os Estados Unidos, mas, dadas as
suas escaladas implacáveis, poderá ser necessário um sinal mais forte.
A resposta da Rússia à questão de saber se a Ucrânia atacou o(s) seu(s)
sistema(s) de alerta precoce de forma irresponsável ou se o fez a mando dos
Estados Unidos determinará a sua resposta a qualquer intervenção convencional
da NATO na Ucrânia. No primeiro caso, a Rússia poderia esperar até que uma
força de grande escala atravessasse o rio Dnieper para usar armas nucleares tácticas,
enquanto no segundo, poderia ser necessário lançar um primeiro ataque nuclear
contra os Estados Unidos antes do início da intervenção, a fim de antecipar o
primeiro ataque nuclear que a Rússia pode pensar que os Estados Unidos estão a preparar.
Andrew Korybko, 31 de Maio de 2024
Fonte: https://korybko.substack.com/p/is-ukraine-going-rogue-or-did-it
Ver também:
Porque é que a NATO está a jogar roleta russa? Por
Caroline Galacteros
Ataque ucraniano ao radar nuclear
russo: a escalada mais grave até à data
Este artigo
foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice
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