domingo, 9 de junho de 2024

Eleições a armadilha para tolos, a eleição europeia onde a burguesia partilha as sinecuras

 


 9 de Junho de 2024  Robert Bibeau  


Por Khider Mesloub.

“A política não é a arte de resolver problemas, mas de silenciar aqueles que os colocam”, disse o estadista francês Henri Queuille.

Mais ainda, as eleições não resolvem os problemas dos cidadãos, mas das classes dominantes, através da organização ritual das suas mascaradas eleitorais para distrair os proletários e subornar o povo.


As classes dominantes obtêm a sua riqueza e o seu poder não nas urnas, mas nas suas contas bancárias. O seu poder provém do capital financeiro e não do capital eleitoral. Assim, estes dois pilares da sociedade de classes, a riqueza e o poder, que ditam as orientações económicas e doutrinárias fundamentais do país, são eleitoralmente inacessíveis ao povo. Acima de tudo, são politicamente intangíveis.

No domingo, 9 de junho de 2024, os cidadãos da Europa são chamados a votar pela enésima vez.

Nunca a palavra de ordem de 1968 “Eleições: uma armadilha para tolos” foi tão correcta. Nunca a razão insensata dos cidadãos esteve tão errada.

Na Europa, em França e em todos os outros países onde domina a ditadura do capital, os mágicos políticos conseguiram fazer passar por democracia a sua ditadura eleitoral dos ricos.

Ora, de acordo com a etimologia da palavra democracia, esta significa poder do povo. Por conseguinte, significa a ditadura do povo sobre a aristocracia e, por extensão, sobre a extrema minoria da burguesia, os menos de 1% que possuem o mundo e monopolizam o Estado. Mas invertendo a visão da realidade, através de uma ilusão de óptica de que a classe dominante tem o segredo graças à sua propaganda destilada pelas escolas e pelos meios de comunicação social, apoiada pela sua poderosa força financeira e pelo seu império estatal e militar, a classe dominante faz passar a sua ditadura, aos olhos do povo, por democracia. E a exigência de uma verdadeira democracia popular é vista como uma insurreição, uma ditadura potencial.

Na Europa, em França e em toda a parte onde domina a ditadura do capital, quando o povo se levanta colectivamente para votar a sua democracia directa horizontal, o poder opõe-se-lhe com a sua ditadura exercida por uma ordem dominante vertical. Quando esse povo valente resolve impor a sua salutar via cândida, os detentores do poder prescrevem as vozes totalitárias dos seus candidatos servis.

Curiosamente, na época actual, uma vez que a democracia dos ricos foi desqualificada e desacreditada em toda a parte pela sua ineficácia política e impotência económica e, sobretudo, pela sua corrupção moral, em particular na Europa, as classes dominantes estão decididas a impô-la despoticamente aos povos, que se tornaram os inimigos evidentes desta democracia financeira.

No momento em que, em muitos países, os povos começam a fazer campanha pela instauração de uma verdadeira democracia horizontal, popular e igualitária, baseada em representantes eleitos, demissíveis a qualquer momento, sem privilégios nem salários superiores ao salário médio, o Estado impõe-lhes a sua ditadura eleitoralista, antídoto contra o poder do povo.

A ditadura eleitoral é uma consulta política dominada pelos candidatos dos ricos, em que o escrutínio paradoxalmente favorece sempre os mesmos boletins de voto, surpreendentemente todos eles detentores de grandes espólios, sempre ganhos em detrimento do povo amotinado.

A história ensina-nos que, sob a pressão do povo que exige a sua governação, o Estado revela sempre o seu carácter de classe: o Estado protector transforma-se em Estado opressor, a sua “democracia” oligárquica metamorfoseia-se em demagogia tirânica.

Uma coisa é certa: a urna de voto é o cemitério da emancipação do povo, o cemitério onde a burguesia convida o povo a enterrar as suas reivindicações emancipatórias. A enterrar o seu desejo popular e igualitário de governação.

A urna de voto é a arma da classe dominante, entregue ao povo para o prender a falsas escolhas, para o confinar a alternativas capciosas.

A cabine de voto é o melhor antídoto contra a luta pública colectiva travada pelo povo, geralmente nas ruas e nos locais de produção, esses espaços públicos de expressão autenticamente democrática, onde a liberdade se concretiza realmente através da voz directa do povo em luta, determinado a impor a sua vontade colectiva à classe dominante minoritária e parasitária.

O boletim de voto é tão incerto como a previsão do tempo: as promessas só são vinculativas para quem acredita nelas. Cuidado com os aguaceiros tirânicos, as violentas chuvas de repressão que se abatem sobre o país em plena “Primavera democrática” patrocinada, numa atmosfera eleitoral falsamente libertadora. A andorinha democrática solta pela classe dominante no céu da política nunca fará a Primavera emancipadora do povo.

A democracia das urnas é a sepultura eleitoral em que as ilusões do povo são lavadas e enterradas.

Actualmente, os lobos do poder no topo do Estado, para quem o povo não passa de uma massa ovina a abater (ou mesmo a dizimar nas suas guerras), não gostam nada mais do que ver o povo “vitelar” (chafurdar) nas eleições.

Hoje em dia, a cozinha eleitoral tornou-se a moda preferida das classes dominantes opulentas, com o seu apetite insaciável pelo governo, particularmente em França, essa República que se tornou bananeira e canhoneira, governada por peelings políticos, esses enfeites da mediocridade; governada por belicistas radicalizados, loucos do Deus Capital, determinados a desencadear a Terceira Guerra Mundial.

Para se manterem no poder, as classes dominantes inventam eleições indigestas para o povo, servidas numa bandeja de consultas presidenciais ou em referendos, para lhe alimentar esperanças ilusórias. Para lhes alimentar promessas ilusórias. E, sobretudo, para os desviar das suas necessidades fundamentais: ter um emprego com um salário digno, ter uma habitação decente, beneficiar de serviços sociais, educativos e hospitalares eficazes; gozar de um direito de controlo soberano sobre a estruturação social e política da sociedade e a gestão da economia do seu país.

Ironicamente, enquanto os imperadores romanos davam aos plebeus o direito ao famoso Panem et circenses (pão e circo), a burguesia mundial decadente de hoje dá-nos o direito ao circo eleitoral sem o pão (ou os direitos sociais e económicos).

O povo tem direito a um jogo democrático sem apostas económicas, porque isso não é objecto de qualquer debate ou eleição, uma vez que a economia e as finanças continuam a ser a esfera privada dos poderosos, a prerrogativa exclusiva da classe dominante.

Na Europa, em França e em todo o lado onde domina a ditadura do capital, neste período de marcha forçada para a guerra generalizada planeada pelos falcões atlânticos, em todas as circunstâncias políticas consultivas, em todas as eleições, os povos devem doravante recusar estes convites eleitorais onde desempenham o papel de simples convidados. Onde a classe dominante lhes serve sempre os mesmos pratos eleitorais prontos a usar, temperados com molhos políticos bem afinados para disfarçar o fedor pestilento do seu pútrido guisado programático socio-económico corrompido pelo capital.

Na Europa, em França e onde quer que a ditadura do capital domine, os povos não podem continuar a deixar-se devorar por estes lobos políticos. Esta espécie de caninos, com os seus pêlos sedosos mimados com dinheiro extorquido aos trabalhadores, os seus focinhos esticados pelas mentiras, as suas pernas curtas achatadas pela vénia, a sua baba a pingar em forma de discurso, o seu ladrar marcial como meio de intimidação, os seus olhos de perseguição, cheios de medo do povo, as suas orelhas empinadas para ouvir as ordens dos seus amos, as suas presas na verdade inofensivas, a sua postura de submissão vil, estes caninos não são mais do que os caniches do capital.

Na Europa, em França e em todo o lado onde reina a ditadura do capital, é preciso pôr fim a esta ingenuidade política eleitoral. Temos de deixar de dar aos poderosos o poder de tosquiar como ovelhas os direitos dos povos.

Com a sua mentalidade de ovelha vestida como uma segunda pele, essa pele de submissão enxertada pelos poderosos através das suas instituições de condicionamento mental, o povo está a ser conduzido directamente para o matadouro da existência. Uma existência na qual estão constantemente a remoer os seus tormentos e a regurgitar as suas ilusões. Onde mentem constantemente a si próprios, por acreditarem nos políticos demónios. Esses demónios que aparecem sob a forma de anjos para lhe venderem sonhos que se revelam mentiras.

 

Khider MESLOUB

 

 

Fonte: Élections piège à cons, l’élection européenne ou les bourgeois se partagent les sinécures – les 7 du quebec

Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice




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