6 de Junho
de 2024 Robert Bibeau
Por Khider Mesloub.
Do ponto de vista ético, a profissão médica não tem o direito de provocar deliberadamente a morte de um doente. No entanto, na prática, pratica-se o que se pode designar por "eutanásia lenta". Existem dois tipos de eutanásia: a eutanásia passiva e a eutanásia activa. Na primeira forma passiva, quando um doente é considerado incurável, a profissão médica interrompe todos os tratamentos que se tornaram inoperantes e pode desligar os sistemas de suporte de vida. A eutanásia passiva (até à sua recente despenalização) é legalmente tratada como uma omissão deliberada de assistência a uma pessoa em perigo. Por conseguinte, é punível com uma pena de prisão. Na segunda forma activa, a pedido expresso de um doente que deseja pôr termo à sua vida, um familiar ou um médico ajuda-o a morrer. (A título de comparação: bombardear a população de Gaza é equivalente a uma eutanásia activa. Matar a população de Gaza à fome, não deixando entrar comida nesta prisão murada, é eutanásia passiva.Nota do editor).
A Europa
capitalista está a planear a eutanásia dos seus idosos e dos seus
"supranumerários" (os improdutivos, os não rentáveis)
"A velhice é um naufrágio", dizia o burguês Chateaubriand. Mas será esta uma razão para encorajar o seu naufrágio letal, para a precipitar no além, como os países capitalistas europeus parecem estar a planear com a legalização da eutanásia?
Recorde-se que, com a pandemia de Covid-19, os idosos foram as principais vítimas do
"vírus" nos países ocidentais, morrendo em hospitais mal equipados ou
em lares de idosos transformados em câmaras mortuárias. Morriam por falta de
cuidados. Foi como se a morte destes milhões de "idosos" tivesse sido
deliberadamente provocada pela negligência da gestão sanitária, reflectida na
ausência de medidas preventivas eficazes para proteger os lares de idosos e na
falha do equipamento médico nos hospitais. Por outras palavras, o fracasso do
Estado, ilustrado pelas suas falhas condenáveis e pela sua desastrosa má
gestão. Na maior parte dos países ocidentais, a responsabilidade do Estado pelo
drama da epidemia de eutanásia foi claramente provada e a sua culpabilidade
estabelecida.
É claro que esta não é a primeira "civilização capitalista" ocidental a entregar-se ao rito de eliminação dos "velhos", mesmo que não seja praticado de forma ritualizada, permanente e oficial, mas circunstancial, como nas duas Guerras Mundiais, quando o capital ocidental sacrificou mais de 80 milhões de pessoas (desta vez de todas as idades e em bom estado de saúde) para determinar qual a potência imperialista que teria a hegemonia sobre a economia mundial (são estes os verdadeiros motivos da actual guerra total na Ucrânia). Outras sociedades arcaicas praticavam estes sacrifícios dos mais velhos. De facto, em algumas sociedades primitivas, os "velhos" eram abandonados. Os Yakuts da Sibéria expulsavam os seus anciãos. Os koriaks eliminavam-nos. Os esquimós deixavam-nos a morrer na neve. Os Chukchi estrangulavam-nos depois de lhes prestarem a última homenagem numa cerimónia festiva. Outros baniram-nos, deixando-os entregues a si próprios no deserto.
Curiosamente, esta "eutanásia europeia" de pessoas idosas e
vulneráveis, levada a cabo pela primeira vez durante a pandemia de Covid-19 e
destinada a generalizar-se graças à sua legalização, tem uma ressonância
histórica com uma operação do Estado nazi chamada Aktion T4, um programa de
extermínio de mais de 300 mil alemães com deficiências físicas e mentais. A
Aktion T4, também conhecida como "programa de eutanásia", foi um
protocolo de eliminação de deficientes físicos e mentais implementado em 1939 a
pedido expresso de Adolphe Hitler. A este respeito, ironia da história
linguística, não é inútil relevar que o termo eutanásia contem o nome (o seu)
nazi (euthanazi), como escreveu
Lionel Chrzanowski: "Da eutanásia ao Estado nazi, há apenas algumas palavras
de indiferença".
O Estado nazi via estas pessoas como um fardo para a sociedade, sem
utilidade para a nação. As pessoas a exterminar eram seleccionadas por médicos
e divididas em três grupos: as que sofriam de doenças psíquicas, senilidade ou
paralisia incurável; as que estavam hospitalizadas há pelo menos cinco anos; e,
por fim, as que estavam internadas como criminalmente insanas, estrangeiras e
visadas pela legislação racista nacional-socialista. Do ponto de vista nazi, os
débeis mentais e tuberculosos, as crianças com deformações e os idosos doentes
eram indivíduos improdutivos e anti-sociais, mas sobretudo um fardo social para
o sistema de saúde e financeiro do Estado. Eram considerados
"inúteis". (Hoje, em 2024, na Europa, por enquanto, com excepção da
Ucrânia e da Rússia, a guerra é económica e social, mas não tardará muito a
transformar-se numa conflagração armada generalizada, permitindo a aplicação à
escala mundial do programa de eutanásia previsto pelo capital ocidental). Os argumentos
da eugenia e da higiene social visavam criar uma raça germânica pura (hoje o
sistema capitalista ocidental, com a sua tentativa de reconfiguração económica
baseada na destruição de sectores obsoletos da economia e na eutanásia social
dos vulneráveis devido ao custo da sua manutenção e cuidados), pretende criar
uma nova "raça" - uma categoria de classe social - de produtores
assalariados digitalizados e atomizados e de consumidores isolados -
dessocializados - do comércio electrónico, ou seja, uma sociedade com menos
grandes unidades de produção concentradas - fonte de perigo para a
confraternização da classe operária - e sem lojas físicas locais, que se
tornaram caras, obsoletas, não lucrativas) misturadas com as reivindicações
utilitárias, caras aos liberais.
Eutanásia
rima com o Estado nazi
Como explicar esta barbárie europeia com um
rosto "democrático"? Com o capitalismo ocidental em crise mortal,
está a tentar sobreviver por todos os meios necessários. Incluindo o sacrifício de dezenas de milhões
dos seus supranumerários através da eutanásia. E outras dezenas de milhões de
pessoas saudáveis em países de outros continentes, através da guerra que a NATO
se prepara para travar contra eles. Conflitos armados generalizados, cujo
início está patente na guerra genocida por procuração que a entidade sionista
trava contra os palestinianos de Gaza para se apoderar do seu território e,
sobretudo, das suas jazidas de gás e petróleo.
De um modo geral, esta política de eutanásia
desprovida de humanidade inscreve-se numa "filosofia ocidental" da
existência em que os interesses individuais se sobrepõem às necessidades
colectivas, uma concepção liberal particularmente difundida entre as classes
dirigentes ocidentais cínicas e psicopatas dos governos e dos meios
empresariais europeus. A mundialização converteu todos os oligarcas e fantoches
políticos europeus à lógica contabilística das relações sociais. Para este
pensamento mercantil venal fabricado pelo Ocidente decadente, o ser humano não
é o fim da organização social e política, mas apenas o meio de acumulação do
capital. Enredado na ideologia do culto do desempenho (produtividade) e da
concorrência (competição por mercados) para a acumulação de lucros e a
valorização do capital, o "homem capitalista ocidental" (o
plutocrata) está sujeito a imperativos económicos superiores: a conquista de
quota de mercado, o aumento da produtividade, a expansão (valorização) da
rentabilidade do capital, a extensão ilimitada da economia libidinal do gozo
pessoal e do entretenimento individual (estritamente para o lucro). Isto
explica por que razão, para o sistema capitalista ocidental, os indivíduos só
são dignos de interesse na medida em que constituem uma mercadoria activa, um
objecto dinâmico capaz de consumir outros objectos pelos quais pagaram através
do seu trabalho remunerado. A partir do momento em que perdem a sua força
produtiva geradora de valor e a sua capacidade dinâmica de consumo, ou seja, a
partir do momento em que envelhecem (reformados) ou se tornam inaptos para o
trabalho (desempregados ou deficientes), são considerados pelo capital como
objectos a pagar, um custo que tem de descarregar. O reconhecimento da sua
qualidade humana e da sua dignidade social desaparece, assim, na sociedade
capitalista ocidental.
Como corolário, têm de aceitar ou ordenar o
seu desaparecimento, o seu definhamento. Para os governantes do Estado
capitalista ocidental sem coração, os idosos não passam de uma pilha de
objectos enferrujados, antigos meios de produção destinados a serem deitados
fora como qualquer outra mercadoria obsoleta.
Em virtude do conceito de obsolescência
programada, tão caro aos liberais, seguindo os passos de Schumpeter, fundador
da teoria da "destruição criadora", os frágeis, os deficientes, os
idosos, os "inúteis", que se tornaram supranumerários, devem encurtar
a sua vida, ou seja, deixar-se morrer, pelo coronavírus ou por uma qualquer
doença crónica inoculada pelo sistema capitalista patogénico através dos seus
laboratórios virológicos que pesquisam novas armas letais. Mais precisamente, é
o Estado que é responsável pelo encurtamento do seu tempo de vida, fazendo-os
morrer prematuramente, através da aplicação da política de "eutanásia social",
no quadro da concepção malthusiana, essa morte voluntária, organizada pelos
governos europeus, por negligência voluntária, para resolverem à sua maneira
escabrosa a questão dos fundos de pensões (deficitários e insolventes) e o
défice da Segurança Social, da demografia excedentária.
Para os
poderosos do Ocidente, 20% da população activa é agora suficiente para manter a
economia mundial a funcionar. Na realidade, esta política de eutanásia
inscreve-se na ideologia neomalthusiana, ou seja, a gestão da demografia pelo
aumento da mortalidade, isto é, a programação do despovoamento do planeta, actualmente
realizada pela patologização das populações (contaminação viral, infecção
bacteriana, degradação psicológica, alienação social), a planificação da
destruição de milhões de empregos provocada pela robotização da indústria e a
desmaterialização da economia (dita Great Reset). O corolário é o
empobrecimento generalizado de centenas de milhões de pessoas privadas de
rendimentos e, a curto prazo, o alastramento da fome, que conduz a uma explosão
da mortalidade.
A este respeito, é útil recordar que, muito antes do início do nosso
milénio apocalíptico (marcado por duas profundas crises económicas no espaço de
uma década – 2008 e 2020/2024 -), no final do século passado, no encontro dos
principais líderes do mundo capitalista, realizado no Hotel Fairmont, em São
Francisco, em 1995, quinhentos convidados (entre os quais George Bush sénior,
Margaret Thatcher, Václav Havel, Bill Gates, Ted Turner, Zbigniew Brzezinsky)
tinham previsto que, na futura sociedade de alta tecnologia, 20% da população activa
seria suficiente para fazer funcionar a economia mundial. Por outras palavras,
80% da população mundial tornar-se-ia desempregada e, portanto, inútil,
supranumerária. Com o desejo do grande capital ocidental de acelerar a
robotização e desmaterialização da economia e, portanto, a expulsão de milhões
de trabalhadores da produção, as previsões dos poderosos do mundo estão a
tornar-se realidade. E, por extensão, o programa de eliminação dos
supranumerários que está a ser levado a cabo pelas autoridades estatais, estes
ramos do grande capital financeiro.
No entanto, uma
armadilha imprevista apresenta-se no caminho dos hóspedes malthusianos do Hotel
Fairmont. Que fracção do grande capital internacional comandará em benefício
próprio o exército de assalariados alienados, estes 20% da população activa
acorrentada? Em 1995, a emergência da "superpotência" chinesa (1,4
mil milhões de pessoas firmemente controladas por um governo totalitário) ainda
não era óbvia. Em 2024, a superpotência chinesa está a liderar a sua expansão
em todas as direcções sob o programa Cinturão e Rota, levando à derrota da
moribunda Aliança Americana.
É contra a sua morte anunciada que o Ocidente quer precipitar o mundo no
apocalipse da guerra generalizada para cortar à nascença os desejos hegemónicos
do novo rival económico mundial, a China, este dragão de papel asiático, cujo
milagre económico está actualmente a ser transformado numa miragem económica.
Khider MESLOUB
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis
Júdice
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