8 de Junho de 2024 Robert Bibeau
Por Andrew Korybko.
As mais recentes dinâmicas
estratégico-militares sugerem que está a ser seriamente considerada uma
intervenção convencional da NATO.
O Presidente Putin
partilhou as suas opiniões sobre a guerra por procuração NATO-Rússia na Ucrânia na conferência de imprensa que realizou
durante a sua última viagem ao Uzbequistão. O primeiro ponto relevante que
levantou é que Zelensky deixou de ser considerado pela Rússia como o líder
legítimo da Ucrânia após o termo do seu mandato. De acordo com a
"estimativa provisória" do Presidente Putin sobre esta questão legal,
o presidente da Rada Stefanchuk deve agora ser considerado o sucessor legal de
Zelensky.
O líder russo também especulou que a única razão pela qual o presidente
cessante permanece no poder é para ele tomar medidas ultrajantes, como talvez
reduzir a idade da conscrição para 23 e até 18 anos. Nas suas palavras,
"acredito que depois desta e de outras decisões impopulares, aqueles que actuam
hoje como representantes do executivo serão substituídos por pessoas que não
seriam responsáveis pelas decisões impopulares tomadas. Estes representantes
serão simplesmente substituídos num piscar de olhos. »
Em resposta a uma
pergunta sobre a sugestão do chefe da Otan, Stoltenberg, aos membros de deixar
a Ucrânia usar as suas armas para atacar alvos dentro da Rússia, como os
Estados Unidos acabam de aprovar tacitamente que Kiev
faça, ele lembrou a todos que ataques de precisão de longo alcance exigem dados
de reconhecimento espacial. Como a Ucrânia não tem essas capacidades, tais
ataques só podem ser realizados com o apoio da OTAN, inclusive por meio de
instrutores na Ucrânia a passar-se por mercenários para
negação plausível.
O Presidente Putin
aconselhou o Ocidente a pensar duas vezes e, em seguida, abordou o novo impulso da Rússia na região
ucraniana de Carcóvia, que confirmou ser uma resposta ao
bombardeamento de Belgorod e visava criar uma "zona segura", exactamente
como tinha avisado anteriormente que ordenaria se
estes ataques não parassem. Em Belgorod, ele lamentou que a media ocidental não
esteja a relatar os ataques da Ucrânia no país e sugeriu que a sua "zona
segura" prevista poderia expandir-se para impedir ataques de longo
alcance, se necessário.
Foi então questionado
sobre o convite da Ucrânia a "instrutores"
franceses, ao que respondeu que as suas forças "ouvem regularmente inglês,
francês ou polaco na rádio" quando ouvem os seus opositores, confirmando
que os seus mercenários estão destacados para lá há muito tempo. Destes três, o
Presidente Putin acredita que os polacos são os menos propensos a sair, o que é
uma alusão a afirmações anteriores de autoridades russas de que estão a
considerar anexar a Ucrânia Ocidental ou, pelo menos,
incorporá-la numa esfera de influência.
Quanto à forma como vê
tudo a terminar, reafirmou o seu compromisso com as conversações
de paz e lembrou a todos que foi a Ucrânia que congelou
unilateralmente este processo, não a Rússia. As próximas "conversações de
paz", em meados de Junho, na Suíça, destinam-se apenas a
"criar uma aparência de apoio mundial" às exigências unilaterais do
Ocidente à Rússia para lhe infligir uma derrota estratégica. Basta dizer que o
Presidente Putin prometeu que não teria sucesso, e concluiu dizendo que só
seria mais doloroso para a Ucrânia.
Reflectindo sobre as suas observações, o líder russo sinalizou que estava
genuinamente interessado na paz, mas também estava a preparar-se para uma
escalada do conflito, uma vez que os últimos movimentos da NATO sugerem que
ainda não está interessada num compromisso. Os EUA estão a usar Zelensky como
uma figura de proa para implementar decisões impopulares para perpetuar este
conflito condenado indefinidamente, após o que provavelmente o substituirão por
outra pessoa quando a opinião pública o exigir.
Mesmo neste cenário,
no entanto, não está claro se outra mudança de regime ucraniano precederia
a retoma de verdadeiras negociações de paz que garantam os interesses de
segurança nacional da Rússia. As declarações do presidente Putin sobre a Polónia
ocorreram quando ele expressou apoio ao uso de armas
ocidentais para atacar alvos dentro da Rússia, endossou o abate de mísseis sobre o oeste
da Ucrânia e reiterou a sua posição de que uma intervenção convencional no
país vizinho não pode ser descartada.
À primeira vista, a Polónia
está de facto a preparar-se para intervir convencionalmente na Ucrânia se
a Rússia conseguir um avanço militar, o que poderia aumentar os
riscos da Terceira Guerra Mundial através de erros de cálculo devido ao
perigoso jogo nuclear que os Estados Unidos estão a jogar, como explicado aqui. Em resumo, o dilema
de segurança OTAN-Rússia sai do controle, e a Rússia poderia usar armas
nucleares tácticas em auto-defesa para impedir qualquer força de invasão da
OTAN em grande escala que esteja a atravessar ameaçadoramente o rio Dnieper nas
suas regiões recém-unificadas.
Aqui reside a importância de o presidente Putin sugerir que o seu país
poderia expandir a sua "zona segura" para se defender contra o uso
pela Ucrânia de sistemas precisos de ataque de longo alcance contra alvos no
seu território anterior a 2014. Ele quer que a Otan saiba até onde as forças
russas podem ir no caso de um colapso das linhas de frente, o que depende
essencialmente delas e da sua decisão de permitir que ele use essas armas
ocidentais com o apoio do reconhecimento espacial do bloco.
A mensagem que está a
ser enviada é que a Rússia não tem interesse em ultrapassar as fronteiras
geográficas que a própria NATO está encarregada de estabelecer pela sua decisão
acima referida, que visa evitar que o bloco reaja de forma exagerada se os seus
adversários conseguirem um avanço militar. Uma intervenção convencional
liderada pela Polónia e/ou França seria
suficientemente perigosa, mas a potencial travessia do Dnieper por esta força
invasora poderia desencadear uma resposta nuclear táctica da Rússia em auto-defesa.
As últimas dinâmicas estratégico-militares sugerem que uma intervenção
convencional da OTAN é seriamente considerada, mesmo que seja apenas parcial e
permaneça a oeste do Dnieper. Os sinais da NATO como um todo e da Polónia em
particular mostram que querem uma escalada para continuar a combater a Rússia
até ao último ucraniano, mas o Presidente Putin acaba de contra-sinalizar que o
seu país está pronto para todas as eventualidades. Cabe, portanto, ao Ocidente
decidir se tudo está ou não a correr bem na Terceira Guerra Mundial.
Este artigo
foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice
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