8 de Junho de 2024 Robert Bibeau
Por Yorgos
MITRALIAS. Mesmoque evite uma
guerra civil, a crise final de Israel promete ser cataclísmica! — Yorgos
MITRALIAS (legrandsoir.info)
Em Julho de 2021, comentando os avisos proféticos formulados por Albert
Einstein, já em 1948, sobre o futuro desastroso de Israel, terminámos o nosso
texto com a seguinte observação e, ao mesmo tempo, previsão:
"Infelizmente, tudo mostra que Einstein tinha novamente razão. Com os
britânicos há muito desaparecidos, são de facto os epígonos das “organizações
terroristas” de 1948 que conduzem inevitavelmente Israel - que eles governam -
para a “catástrofe final”! Um Israel que pode ser agora mais poderoso e arrogante
do que nunca, mas que, ao mesmo tempo, está a atravessar a maior crise
existencial da sua história, apodrecendo e desintegrando-se por dentro. A
contagem decrescente já começou e a hora da verdade está a
aproximar-se...". (1)
Talvez mais depressa
do que prevíamos, tudo aponta para o facto de que, na Primavera de 2024, a hora
da grande verdade sobre o Estado judaico não só se aproxima, como já chegou,
está aqui e desenrola-se diante dos nossos olhos! E as previsões não são nada
optimistas. Mesmo em Israel, começam a ouvir-se as primeiras vozes que exprimem
dúvidas sobre a viabilidade do país. Como, por exemplo, as dos autores do texto
de título eloquente “A este ritmo, Israel não chegará ao seu centésimo
aniversário”, que foi reproduzido e discutido nos últimos dias como nenhum
outro dentro e fora de Israel. Uma das razões para este choque é que os seus
dois autores, Eugene Kandel e Ron Tzu, são ambos membros proeminentes do
establishment governamental israelita, tendo o primeiro chefiado durante anos o
Conselho Económico Nacional de Netanyahu! A segunda razão, e a mais importante,
é que o jornal acredita que, a menos que haja uma mudança radical de direcção
por parte de um establishment político radicalmente diferente, a crise
existencial que os israelitas começam a viver levará ao fim de Israel, o que
necessariamente significará também o fim do “sonho sionista”.
Não é por acaso que, no preciso momento em que se fala tanto de uma
“solução a dois Estados” e em que o Estado palestiniano começa a ser
reconhecido até por países membros da União Europeia, se levantam vozes em
Israel para falar de uma... “solução a três Estados”! Com efeito, ao lado do
Estado palestiniano de amanhã, consideram que já existe - de facto - não um,
mas dois Estados judeus! Foi exatamente o que disse o antigo diplomata Alon
Pinkas num artigo muito recente no Haaretz: “Existem agora dois Estados -
Israel e a Judeia - com visões opostas do que deve ser uma nação. Há um
“elefante na sala” e não é a ocupação, embora a ocupação seja a principal
causa. Este 'elefante na sala' é o facto de Israel estar gradualmente, mas
inevitavelmente, dividido entre o Estado de Israel - de alta tecnologia,
secular, virado para o exterior, imperfeito mas liberal - e o Reino da Judeia,
uma teocracia supremacista judaica anti-democrática, isolacionista e
ultranacionalista."
(1)
É claro que Pinkas, que pertence ao primeiro, a esse Israel moderno e
“aberto ao mundo exterior”, tende a idealizá-lo e evita tirar conclusões até ao
fim. Mas há outros que o fazem, nomeadamente o veterano esquerdista
anti-sionista israelita Michel Warschawski, que responde da seguinte forma à questão
de saber se vê a possibilidade de uma guerra civil em Israel: “Perguntaram-me
muitas vezes sobre os riscos de uma guerra civil: sempre disse que não era
possível. Hoje, tenho muito menos certezas. E a questão não está relacionada
com Gaza. Não existem apenas dois Israelitas sociológicos. Estamos perante dois
projectos sociais irreconciliáveis. Com o governo mais fraco que alguma vez
tivemos à frente do país e Netanyahu incapaz de controlar os seus ministros,
alguns dos quais são lunáticos.
Pensamos que Warshawski tem razão quando já não exclui a possibilidade de
uma guerra civil em Israel e quando afirma que isso nada tem a ver com Gaza e
com o genocídio em curso dos palestinianos. O facto é que o espectro do
genocídio e da guerra paira sobre Israel e a sua sociedade. Mas também é um
facto que a vasta, se não esmagadora, maioria dos cidadãos israelitas, dos
políticos e dos seus partidos permanecem indiferentes ao incrível sofrimento
que o seu próprio Estado está a infligir aos palestinianos, mesmo quando se
manifestam contra Netanyahu e, por vezes, entram em confronto violento com a
sua polícia. Com excepção de alguns pequenos grupos de cidadãos que perpetuam
as velhas tradições humanistas e internacionalistas judaicas declarando a sua
solidariedade e o seu apoio ao povo palestiniano, a sociedade israelita não
quer ouvir nem ver a horrível tragédia que se desenrola a poucos quilómetros
das suas cidades e kibutzes, demonstrando a mais monstruosa insensibilidade
perante o genocídio cometido pelo seu próprio exército e pelo seu próprio
Estado! E é por isso que ele se junta - de facto - até ao odiado Netanyahu,
quando, por exemplo, o Tribunal Penal Internacional ousa emitir um mandado de
captura contra ele, tal como se junta ao Estado israelita quando alguns países
europeus ousam reconhecer o Estado palestiniano.
No seu último e magnífico livro, Deux
peuples, pour un Etat , Shlomo Sand atribui esta monstruosa insensibilidade
e este igualmente monstruoso “patriotismo”, entre outras coisas, à “lavagem ao
cérebro” a que os cidadãos de Israel são sistemática e metodicamente sujeitos
ao longo das suas vidas para acreditarem firmemente que é... a vontade de Deus
que todos os territórios ocupados, de Hebron, Jericó e Belém a Jerusalém, sejam
israelitas! É, portanto, esta relação estreita entre messianismo nacionalista e
messianismo religioso - que não só existiu desde o início no projecto sionista,
como constitui o pilar ideológico central do Estado israelita, sobretudo desde
que a referência inicial a um certo “socialismo de kibutz” mítico foi “atirada
para o caixote do lixo da história” -, o que nos levou a constatar, há três
meses, que “este actual fervor exterminatório da sociedade israelita não seria
possível se não fosse o produto e o culminar da lógica interna do projecto
fundador do Estado hebreu, o projecto sionista! ". (2)
É por todas estas razões que assistimos hoje a desenvolvimentos que teriam
sido totalmente inimagináveis aquando do nascimento de Israel. Como, por
exemplo, a aliança do governo israelita com notórios anti-semitas de
extrema-direita ou mesmo com os líderes neo-fascistas desta Internacional
Castanha em formação, como a italiana Meloni, a francesa Le Pen, o argentino
Milei, o húngaro Orban, o português Ventura e vários outros da Europa e da
América do Norte e do Sul, que se reuniram há alguns dias em Madrid sob a égide
do Vox dos nostálgicos franquistas. Foi durante este encontro madrileno desta
ralé fascista, que se transformou numa manifestação de apoio a Netanyahu, que o
Ministro israelita da Diáspora, Amichai Chikli, enviou uma mensagem de
agradecimento e de encorajamento, confirmando o que já sabíamos há muito tempo:
que Netanyahu e a extrema-direita israelita se tornaram o símbolo e a bandeira
dos racistas, da extrema-direita e dos neo-fascistas de todo o mundo, a maioria
dos quais continua a ser anti-semita sem pudor!
O projeto sionista e, ao mesmo tempo, o Estado judaico de Israel, estão,
portanto, a fechar o círculo, numa atmosfera não só de crise generalizada, mas
também de decadência moral generalizada. E não é por acaso que o seu elemento
fundador fundamental, o racismo contra os palestinianos, corre agora nas suas
veias como veneno, ao ponto de os ministros Gvir e Smotrich e os seus amigos
colonos e outros falarem da necessidade de expulsar (violentamente) da terra do
seu mítico Grande Israel (Eretz Yisrael) não só os palestinianos mas também os
cidadãos judeus israelitas que não partilham as suas opiniões e opções bárbaras
e desumanas!
Concluímos, pois, como começámos: é hoje evidente que o preço que o Israel
sionista está a pagar por exibir a sua arrogância e omnipotência, medido pela
hecatombe de mortes de civis palestinianos em Gaza, é a sua própria decadência
moral e a sua própria decomposição social e política. Com ou sem guerra civil,
a crise final de Israel promete ser cataclísmica.
Notas
1. Veja nosso artigo
"Quando Einstein chamou aqueles que governam Israel hoje de
"fascistas": https://www.pressegauche.org/Quand-Einstein-appelait-fascistes-ceux-qu...
2. Veja nosso artigo
"Tentando entender a deriva genocida da sociedade israelense": https://www.cadtm.org/Essayant-de-comprendre-la-derive-genocidaire-de-...
URL
deste artigo 39615
https://www.legrandsoir.info/meme-s-il-evite-la-guerre-civile-la-crise-finale-d-israel-s-annonce-cataclysmique.html
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis
Júdice
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