domingo, 2 de junho de 2024

A acumulação sem fim de riqueza não é uma lei divina

 


 2 de Junho de 2024  ROBERT GIL  

Pesquisa realizada por Robert Gil

A retórica dos capitalistas e dos seus lacaios não consegue esconder a realidade cada vez mais evidente de uma economia que funciona apenas para acumular cada vez mais riqueza para alguns. Para eles, o mais importante não é apenas enriquecer, mas empobrecer as massas. Uma questão de ego e de satisfação pessoal, sem dúvida.  É por isso que este pequeno mundo de privilegiados se insurge contra qualquer forma de protecção social, contra os beneficiários do desemprego ou do RSA, e a favor de uma flexibilidade e de uma precariedade cada vez maiores. As desigualdades têm de aumentar, para que eles próprios fiquem cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres, para que esta classe de hiperprivilegiados, que ganha o seu dinheiro com o trabalho de outros assalariados, se sinta "superior", quando não passa de "parasita".

A taxa de imposto para as classes mais ricas tem vindo a diminuir constantemente desde os anos 1970. Onde está o "inferno fiscal" de que tanto se fala? De 1945 a 1975, a taxa de imposto para os mais ricos era de 60%  (1)! Depois, quando vários governos pregaram a descida das taxas de imposto para incentivar o investimento na economia, foi-nos repetidamente dito que "os lucros de hoje são os investimentos de amanhã e os empregos de amanhã". Os lucros estão a aumentar, mas não há investimentos nem empregos. Os investimentos assim preservados não são feitos em França, mas em países onde a mão de obra é barata, as leis sociais inexistentes e os impostos mínimos. Todo este dinheiro ganho à custa dos assalariados desaparece em paraísos fiscais, na especulação financeira ou na valorização bolsista das empresas, sem qualquer aumento da produção real. Então, em vez de encher os mais ricos de dinheiro público e de benefícios fiscais, taxemo-los para que o Estado invista em vez desses especuladores!

É um erro comum para as classes médias altas acreditarem que são solidárias com os muito ricos. Para eles, quer se seja artesão, comerciante, viticultor, empregado, desempregado ou... sem-abrigo, não se é nada. Inquéritos eloquentes produziram resultados muito semelhantes em todos os países desenvolvidos. De acordo com estes inquéritos, cerca de 20% da população de um país imagina-se como fazendo parte do 1% mais rico. Isto mostra que 19% dessas pessoas não fazem ideia do nível de riqueza do 1% que está acima delas e, erradamente, sentem-se solidárias com esse 1%, imaginando-se parte dele. Estão mesmo convencidos de que essas pessoas merecem a sua posição porque correram riscos e trabalharam arduamente. Os políticos e os meios de comunicação social alinham com isso, exaltando alegremente o "valor do trabalho"? Os economistas, pelo contrário, constatam que os herdeiros mais ricos vivem melhor com os seus rendimentos do que os trabalhadores mais bem pagos. A herança desempenha um papel cada vez mais importante na posição social e económica. Actualmente, o 1% dos herdeiros mais ricos pode ter um nível de vida mais elevado do que o 1% dos "trabalhadores" mais ricos, simplesmente vivendo dos seus rendimentos. Será que vamos regressar a uma "sociedade de herdeiros" (21), baseada em desigualdades determinadas desde o nascimento, como na Belle Epoque do final do século XIX?

É mais do que tempo de abolir a lei implícita, não consagrada em lado nenhum, que permite aos 0,0001% acumularem uma riqueza sem precedentes na história da humanidade, sem fim e por todos os meios. Porque desistimos, ficamos estupefactos com os números que nos são apresentados e, quando ouvimos falar de bilionários, já não conseguimos discernir o que representam essas somas. A título de comparação, mil milhões de euros equivalem a cerca de 50.000 anos de salário mínimo!

 

Fonte: L’accumulation sans fin de richesse n’est pas une loi divine – les 7 du quebec

Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice




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